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Crítica | Os Novos Vingadores: Illuminati

A luta na arena dos debates.

por Fernando Campos
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A equipe dos Illuminati surgiu no Universo Marvel em Caminho Para Guerra Civil com uma premissa madura. Diferente de outras reuniões de super-heróis realizadas para efeitos de escala épica ou grandes momentos de ação, esse time possibilitou que personagens com visões de mundo distintas, e pertencentes a ambientes diferentes, pudessem debater seus pensamentos e encontrar soluções para problemas complexos através do consenso. Portanto, o combate é posto de lado para que os verdadeiros embates ocorram na arena dos diálogos.

Para travar estas batalhas argumentativas, reúne-se novamente em Os Novos Vingadores: Illuminati a formação original: Professor Xavier, líder dos X-Men; Homem de Ferro, membro fundador dos Vingadores; Raio Negro, rei dos Inumanos; Doutor Estranho, referência nas áreas místicas; Sr. Fantástico, comandante do Quarteto Fantástico; e Namor, rei de Atlântida. Aqui, temos uma expansão não só da mitologia do grupo, mostrando como interferiram às escuras em eventos importantes da Marvel, como também conceitual, agradando logo de cara com essa tentativa de fugir da zona de conforto.

Criador da primeira HQ, Brian Michael Bendis retorna como roteirista, com o acréscimo de Brian Reed e arte de Jim Cheung, alcançando qualidade próxima da história original. Contudo, dessa vez, o grupo não é visto com olhar tão julgativo ou melancólico por parte dos autores. Ainda que determinadas atitudes dos personagens sejam problematizadas, especialmente sobre o problema de tentar evitar guerras com ações intimidadoras, no geral, a obra possui um caráter pacifista e acolhedor. As “lutas” ocorrem apenas em debates, como a visão niilista do Homem de Ferro contra o otimismo de Xavier; ou a agressividade de Namor contra racionalidade do Doutor Estranho.

Portanto, Bendis e Reed ressaltam o potencial positivo desses superseres justamente ao exercerem o diálogo, diplomacia e pesquisa, mas sem cair na ingenuidade, entendendo que alguns conflitos descambam para a violência independente da ação. Ao longo das páginas, testemunhamos a equipe usar o intelecto para reunir todas as joias do infinito, manipular o divino Beyonder e prever a Invasão Secreta. Nessa estratégia, destaca-se a edição #5, que discursa sobre ser uma influência positiva para o mundo e não se rebelar contra tudo, mostrando como opostos, como o agressivo Namor e o ponderado Xavier, podem ser bons exemplos, sem abrir mão de suas personalidades. Isso não só humaniza os personagens, como ressalta que cada um, seja na ficção ou no mundo real, pode contribuir com o próximo a sua maneira.

Combinando com esse olhar intimista, a arte de Jim Cheung foca no rosto dos personagens, enquanto o formato retangular da maioria dos quadros dá um ar contido às cenas. Porém, inteligentemente, a HQ interrompe isso pontualmente com artes que ocupam página inteira ou metade da página, especialmente em cenas para gerar impacto visual, como na aparição de Galactus na edição #1 ou ao exibir o mundo criado por Beyonder. Isso evita não só um ritmo cansativo, como representa que, em meio a todo o peso carregado pelos heróis, há momentos de beleza e fascínio, dialogando com a mensagem da edição #5, de que mesmo com toda imperfeição do mundo, é possível alcançar coisas grandiosas com esforços na direção certa.

Ao terminar a leitura, agrada também a estrutura circular da one-shot, mostrando a elegância do roteiro de Bendis e Reed. Mesmo com as elipses em cada edição, que funcionam para ressaltar o caráter excepcional do grupo, o desfecho apresenta consequências e reflexões da edição #1. Não só isso, torna realidade o temor que Tony Stark revela na primeira HQ, que seus colegas também demonstram em momentos pontuais, terminar solitário. Portanto, são os dramas humanos que tornam a obra tão especial, pecando apenas ao não dar a mesma atenção para todos os componentes do grupo, como o Raio Negro.

Ainda assim, encanta que Os Novos Vingadores: Illuminati traga como grande antagonista de uma super equipe não seres divinos ou exércitos intergaláticos, mas o medo de estar sozinho. Bendi, Reed e Cheung entregam uma obra sensível e humana, mostrando que até mesmo líderes, notáveis e referências possuem momentos de solidão, melancolia e temor. Sobretudo, ser excepcional é superar as dores internas e proporcionar para os demais aquilo que temos de melhor. Uma das grandes batalhas da vida ocorre contra nós mesmos.

Os Novos Vingadores: Illuminati (EUA, 2008)
Roteiro: Brian Michael Bendis e Brian Reed
Arte: Jim Cheung
Cores: Justin Ponsor
Letras: Cory Petit
Capas: Jim Cheung
115 páginas

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