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Crítica | Os Roses: Até Que A Morte os Separe

Outro remake que não faz jus ao original.

por Kevin Rick
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Refazer A Guerra dos Roses não é uma tarefa fácil. O filme de 1989, dirigido por Danny DeVito, caminha em um equilíbrio complicado de humor cáustico e tragédia conjugal, mostrando como o amor pode se corroer até virar guerra aberta, tudo com toques de humor absurdo. Jay Roach, conhecido por comédias mais leves como Austin Powers e Entrando Numa Fria, tenta revisitar o romance de Warren Adler em chave britânica, agora com Benedict Cumberbatch e Olivia Colman como Theo e Ivy Rose. O resultado é ambíguo: há boas ideias, atuações seguras e diálogos mordazes, mas também um tom hesitante, falta de acidez e um ritmo arrastado que comprometem a experiência.

O início, em Londres, é promissor. O encontro entre Theo, jovem arquiteto, e Ivy, aspirante a chef, tem uma leveza divertida, com uso de diálogos rápidos, recheados de sarcasmo britânico, em que os personagens trocam carinhos e ofensas inteligentes como quem joga cartas afiadas. Quando a trama avança no tempo, porém, a narrativa começa a perder fôlego. O contraste entre o sucesso profissional de Ivy e a derrocada de Theo — de arquiteto promissor a pai caseiro obcecado por disciplina — poderia render um retrato ácido das tensões de gênero e das cobranças familiares. Mas o roteiro de Tony McNamara não se aprofunda nem no drama, nem numa acidez cômica. Falta coragem para abraçar o absurdo total das disputas domésticas, como DeVito fez no original, mas também não há disposição para mergulhar no lado sombrio da violência emocional. O resultado é um filme que flutua no meio-termo: nem comédia grotesca, nem tragédia doméstica.

Outro problema é a forma como Ivy é retratada. Embora Olivia Colman se entregue de corpo e alma, a personagem acaba sendo escrita de modo mais antipático e vilanesco. Suas escolhas cruéis e gestos de desprezo tornam difícil criar simpatia e carisma, ainda mais quando o roteiro concede a Theo momentos de fragilidade e até heroísmo (a cena do resgate da baleia ou seu cuidado com os filhos, por exemplo). O desequilíbrio de tratamento faz com que o espectador se incline a favor dele, algo que empobrece o conflito, já que a força da trama está justamente em não permitir que escolhêssemos um lado.

A presença de Andy Samberg e Kate McKinnon como amigos do casal também não ajuda. Ambos estão deslocados, com frases bobas e momentos irritantes que são encaixados à força. Suas cenas (junto de outros coadjuvantes descartáveis) agravam o problema de ritmo do filme. A narrativa se arrasta em blocos mal distribuídos, com longos trechos de marasmo seguidos de explosões de conflito que não encontram uma cadência natural. A montagem prioriza a informação, mas raramente a energia visual, o que é um desperdício, considerando que o tema pede uma direção criativa para explorar as batalhas dentro da casa.

Ainda assim, há elementos a valorizar. O sarcasmo britânico, com monólogos longos e inteligentes, rende momentos de prazer. McNamara tem talento para falas envenenadas, e Cumberbatch e Colman as devolvem com charme e bom humor. A cena no consultório, em que listam qualidades um do outro antes de mergulharem em insultos devastadores, sintetiza o que o filme poderia ter sido: ácido, divertido e exagerado. É uma pena que esse espírito não se sustente até o fim. Vou evitar spoilers, mas o final tenta unir tragédia e reconciliação irônica, soando desalinhado com o que veio antes. Não tem o impacto grotesco e inevitável do original, tampouco a coragem de abraçar a comédia absurda. Fica a impressão de que Roach quis agradar a todos, mas acabou enfraquecendo a mensagem.

Os Roses: Até que a Morte os Separe é um filme curioso: tem duas boas atuações, diálogos afiados e alguns lampejos de humor cáustico, mas tropeça no ritmo, nos coadjuvantes e, sobretudo, na indecisão de tom. Ao contrário do original de 1989, que, mesmo com seus problemas, não temia a comédia sombria e a sátira, este parece refém da necessidade de tornar sua trama mais palatável e cheia de melodramas. O resultado é uma obra que entretém em partes, mas raramente incomoda como deveria, tampouco nos faz rir alto como parece tentar.

Os Roses: Até Que A Morte os Separe (The Roses) – EUA, Reino Unido, 2025
Direção: Jay Roach
Roteiro: Tony McNamara (baseado no livro The War of the Roses, de Warren Adler)
Elenco: Benedict Cumberbatch, Olivia Colman, Andy Samberg, Kate McKinnon, Allison Janney, Belinda Bromilow, Sunita Mani, Ncuti Gatwa, Jamie Demetriou, Zoë Chao, Delaney Quinn, Hala Finley, Wells Rappaport, Ollie Robinson,
Duração: 105 min.

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