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Crítica | Os Surpreendentes Homem-Aranha & Wolverine

por Anthonio Delbon
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Essa é, oficialmente, a pior dupla da qual eu já participei em minha vida inteira. E eu já fiz dupla com o Homem-Sapo. Deixe-me repetir isso…Homem. Sapo.
Peter Parker

Homem-Aranha e Wolverine juntos é e sempre será uma premissa promissora. A troca de farpas constante entre os dois é um prato cheio se bem explorada, tal como a combinação de poderes desses que são os heróis mais populares da Marvel. Mas o team-up realizado por Jason Aaron não é sequer remotamente parecido com o que se pode imaginar de uma história comum. O roteirista não deixa de respeitar tanto Peter Parker quanto Logan com retratos adequados, mas os faz traçando um cenário ridiculamente bizarro. Aqui, tira-se sarro de tudo, principalmente da ideia de um team-up sério.

A expectativa de uma HQ normal é logo quebrada nas primeiras páginas. Em uma aparente linha do tempo diferente – uma desculpa que Aaron usa para prendê-los juntos eternamente – a história segue gerando desconfiança no leitor quadro após quadro. É o Aranha e o mutante que nós conhecemos, sem dúvida, mas isolados há anos, veja bem, na Idade da Pedra. Desvelando-se aos poucos, o sentido do roteiro cativa principalmente por um aspecto: nunca se levar a sério demais.

Colocando Peter Parker como narrador inicial da história, Aaron habilmente deixa tudo leve, até o mais desolador cenário. Sua escrita chega a ser brilhante nesse sentido, marcando o tom satírico da minissérie incessantemente sem perder o norte que as personalidades de ambos oferecem. Tira-se sarro de tudo, mas também não se esquece do desenrolar do enredo, por mais esdrúxulo que seja. É um belo exemplo de um quadrinho que sabe brincar com os absurdos do próprio gênero sem cair em uma distração descartável e sem qualquer sombra de sentido – Deadpool, estou olhando para você.

Os diálogos dos dois na dinâmica dos Vingadores sempre foi um ponto chamativo e, pode-se dizer, é o alicerce dessa minissérie. Aqui, a dupla criadora tenta potencializar tais trocas nos permitindo ver o pensamento que um teria sobre o outro se ficassem presos em uma situação absurda e permanente. Raciocínios hilários sobre a difícil convivência são recorrentes em meio ao caos onde os dois estão metidos. Gradualmente, fica muito claro que a trama pouco importa em comparação com os dois personagens. Ela mais serve como mera desculpa para uma zoeira sem limites, a bem da verdade.

Um leitor da Marvel certamente aproveitará melhor as inúmeras referências que as seis edições guardam. Há diversas viagens no tempo – que são, por si só, uma belíssima brincadeira metalinguística de Aaron. Vai e volta-se à idade dos dinossauros, à beira da extinção. Chega-se a momentos cruciais recorrentemente para, adivinhem, a malfadada dupla se transportar – literalmente – para um futuro distópico, apocalíptico, na hora exata para se salvar. Os spoilers acabam aqui, mas a loucura da HQ não, tanto que o motivo pelo qual tal futuro se encontrar tão destruído em determinado momento da história é, no mínimo, excêntrico – Ego, o Planeta Vivo, que o diga.

E quando se acha que nada pode ficar mais surtado, um peculiar antagonista – um dos meus favoritos na categoria “melhores piores vilões” – surge para arrancar um sorriso do rosto do leitor, já assustado em tal altura do campeonato. E, do nada, novamente, o mundo está em risco. E o escalonamento prossegue até o fim, com momentos epicamente galhofeiros se revezando. É tudo ilógico e irracional, mas não se trata de pura distração. É uma diversão bem construída e arquitetada pela dupla criativa, ainda que despretensiosa. Em certa perspectiva, trata-se de um admirável estudo dos dois personagens.

Aaron vai da imaginação satírica aos instantes sentimentais com total domínio dos dois heróis e de suas histórias. A emoção se deve muito à contribuição de Kubert. Sua arte dialoga com o roteiro de Aaron em total sintonia, brilhando em algumas splash pages que seriam memoráveis não fosse o tamanho do absurdo ali desenhado. Ambos, porém jogam seguro, sem riscos – o que é previsível desde o primeiro número pelo tom dado à narrativa.

Os Surpreendentes Homem-Aranha & Wolverine é divertido porque sabe utilizar e rir dos variados lugares comuns das histórias super-heroicas. De viagem no tempo até a já famigerada Fênix Negra, o sarcasmo dos criadores é feroz, mas sempre respeitando o cânone e a personalidade dos heróis em jogo, algo que, por mais banal que soe, nunca é garantido em quadrinhos, se tornando em um problema nas próprias histórias principais de cada mascarado quando estas caem em mãos erradas. É esse cuidado que permite um final reflexivo, sem pieguice, mesmo depois de tanta chacota e zombaria desenfreada, algo não muito fácil de ser realizado.

Os Surpreendentes Homem-Aranha & Wolverine (Astonishing Spider-Man & Wolverine) — EUA, 2010/11
Roteiro: Jason Aaron
Arte: Adam Kubert
Arte-final: Mark Morales, Dexter Vines
Cores: Justin Ponsor
Letras: Marcos Valério da Silva
Editor: Nick Lowe
Editora original: Marvel Comics
Data de lançamento original: julho de 2010 a julho de 2011
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de lançamento no Brasil: julho a setembro de 2011
Páginas: 120

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