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Crítica | Othelo (1995)

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Acautelai-vos senhor, do ciúme; é um monstro de olhos verdes, que zomba do alimento de que vive – Othello, Cena III, Ato III.

Como dito pelo nosso editor, Luiz Santiago, em sua crítica de Otelo de Orson Welles, esta tragédia Shakespeariana é essencialmente sobre a maldade humana, a traição, a falsa amizade, a insegurança e a decadência de um homem. A adaptação dirigida por Oliver Parker conta com Laurence Fishburne no papel do mouro de Veneza, mas quem realmente rouba a cena é Kenneth Branagh, interpretando o maquiavélico Iago.

Pobre daqueles que não tem paciência, palavras de Iago, erroneamente chamado de honesto por quase toda a duração do longa-metragem. Tal frase simboliza perfeitamente suas maquinações, seu desejo de destruir não só a reputação do mouro a quem odeia, como o próprio homem em si. O falso amigo realiza cada ação com meticulosidade, manipulando todos a seu redor, movendo tudo para que – a longo prazo – alcance seu objetivo. A figura do vilão é quem coloca em movimento as engrenagens da maior parte das ficções, mas em Othelo, tal homem ganha um papel central e por vezes se disfarça de protagonista aos olhos do espectador.

Tal aproximação com o nefasto personagem é ainda amplificada pelos diversos diálogos com o espectador. Ao invés da simples autorreflexão, através de monólogos, há um diálogo que quebra a quarta barreira, constituindo algo que vemos também na série House of Cards. Iago explicita seus planos para nós e, vez por outra, é surpreendido por outro personagem que se aproxima nesses momentos. Tais situações constituem quase uma suspensão temporal e revelam nitidamente a maldade e a ironia muito bem representada por Branagh.

Na maior parte do filme somente o vilão conta com tais conversas com o espectador. Infelizmente, contudo, Othelo passa a fazer o mesmo, como que numa tentativa de resgatar o protagonista da sombra no qual é deixado. Sim, o nome do filme é Othelo, mas o diretor Oliver Parker se beneficiaria se mantivesse o foco no vilão por todo o filme, garantindo uma identidade a sua adaptação. Ao invés disso, assistimos um longa que não sabe onde posicionar o espectador: entretendo-o com as maquinações vilanescas ou fazendo-o sentir pena do manipulado protagonista.

Embora eu tenha dado grande destaque à atuação de Branagh, não posso deixar de evidenciar o trabalho de Laurence Fishburne. À princípio sentimos um certo estranhamento em sua caracterização do mouro, mas, conforme o filme progride, o encaixe no papel ocorre de maneira orgânica e ele consegue nos convencer, principalmente nos seus momentos de maior angústia. Minha única ressalva se encontra em relação às suas convulsões que parecem perdidas no meio da trama e pior: mal interpretadas.

O roteiro e a montagem também não ajudam em diversas partes, em especial durante alguns diálogos que são levados de forma completamente artificial através de diferentes localidades. Othelo e Iago, por exemplo, conversam em uma sala e, logo após uma frase, se encontram em um diferente lugar, mas continuando exatamente de onde pararam. O tom de artificialidade é evidente em tais ocasiões. Esses problemas são ainda amplificados pelas falhas de direção em cenas de grande importância, principalmente conforme a trama se aproxima do desfecho.

Othelo, de Oliver Parker, é um filme que é salvo por Kenneth Branagh e seu Iago, que prendem o espectador do início ao fim. Todavia, mesmo essa grande interpretação não consegue esconder os claros problemas de direção, roteiro e montagem que assolam o longa. No fim, temos uma adaptação que contava com grande potencial, mas que pela falta de foco na direção acaba não se sobressaindo.

Othelo (Othello) – EUA / Reino Unido, 1995
Direção: Oliver Parker
Roteiro: Oliver Parker (adaptado da peça de William Shakespeare)
Elenco: Laurence Fishburne, Kenneth Branagh, Irène Jacob, Nathaniel Parker, Michael Maloney, Anna Patrick, Nicholas Farrell, Michael Sheen.
Duração: 123 min.

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