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Crítica | Outcast – 1X04: A Wrath Unseen

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Obs: Contém spoilers. Leia as críticas dos demais episódios, aqui e dos quadrinhos, aqui.

Depois de três episódios que conseguiram mostrar perfeitamente a falta de piedade mostrada por Chris Black e sua equipe de roteiristas. Adultos, crianças, familiares, ninguém se salva dos horrores mostrados na série, estejam eles relacionados à possessão demoníaca ou não. A Wrath Unseen, quarto capítulo do seriado, não abre exceções e mostra, de forma interessante, que Black não pretende transformar a obra de Kirkman em um “exorcismo da semana”, trazendo o passado à tona a cada ponto de virada e desconstruindo fatos que o protagonista e aqueles ao seu redor pareciam acreditar piamente.

Refiro-me, naturalmente, à não-solução do caso envolvendo uma das senhoras moradoras da cidadezinha de Rome, Mildred (Grace Zabriskie), que o reverendo Anderson supostamente exorcizara alguns meses antes. É interessante como o roteiro de Kirkman constrói e desconstrói a fé dos personagens – o diálogo entre Anderson e Kyle acerca dos pecados mostra isso, abordando a ideia de que nada é uma certeza nesse mundo, não se trata de uma ciência exata e o desconhecimento dos personagens apenas aumenta a incerteza e, consequentemente, a tensão no espectador, visto que, na maior parte do tempo, eles efetivamente parecem não saber o que estão fazendo. A maneira “humana”, down-to-earth, como o reverendo é retratado também evoca essa sensação, tirando-o do tablado da igreja e colocando-o junto de nós, meros mortais.

Essa falta de certeza do protagonista, é claro, o faz pensar imediatamente em sua esposa, que fora possuída, ocasionando na perda de contato com sua filha. Isso mostra como o roteiro sabe entrelaçar o passado com o presente, garante a construção dos personagens ao mesmo tempo que os faz evoluir – nada é, de fato, uma informação perdida. Com isso, o criador chega a nos dar uma, talvez vã, esperança de salvação para Kyle – existe a possibilidade de ele poder voltar a ver sua filha, o que abriria, ainda, interessante ramificações para o futuro da série. Mas tudo mera especulação, naturalmente. Voltemos aos fatos e à Mildred.

A fórmula utilizada no capítulo anterior é aqui repetida de forma diferenciada, a dúvida que temos se a senhora está, de fato, possuída, é reiterada a cada instante – primeiro pela convicção de Anderson, que se recusa a acreditar nessa possibilidade e, posteriormente, pela atuação de Grace Zabriskie e jogo de luz e sombras nas cenas envolvendo a personagem. A pouca luminosidade faz as rugas e as olheiras da mulher aumentarem – sua aparência se torna cadavérica, assustadora, seu discurso ambíguo ora nos garante que ela está possuída, ora nos faz enxergar apenas uma senhora endurecida pelos anos de experiência. Felizmente só as dúvidas necessárias são deixadas no ar, está claro que o showrunner não deseja nos fazer passar por uma grande enrolação e joga a trama adiante sempre que possível.

Paralelamente, a subtrama envolvendo o estupro de Megan ganha maior evidencia, atingindo um pequeno clímax, que pode significar alguns problemas especialmente para Mark. A forma como o passado aqui é retratado chega a ser tão assustador quanto os episódios de presença demoníaca. Utilizando uma linguagem de filme de terror, temos o foco na jovem Megan enquanto ela tenta fugir de seu estuprador, apenas para um corte brusco nos mostrar que não havia esperanças para ela. Surpreendentemente, tão apavorante quanto esse flashback é o confronto da vítima já adulta com o criminoso, que adota um discurso revoltante que busca colocar parcela da culpa na mulher. Com isso, a raiva tanto de Kyle quanto de Mark em relação ao estuprador se torna a do espectador, vemos somente o que ele merece e paramos de pensar nas consequências assim como alguns dos personagens, o que pode causar certas complicações futuramente. Meu único temor, aparentemente compartilhado pelo nosso Ritter Fan, é a possibilidade desse ocorrido todo ter sido provocado por um demônio, o que apenas tiraria a culpa do bandido, além, é claro, de resumir todos os problemas do mundo a seres do além.

Tirando essa preocupação, Outcast certamente já se configura como uma das melhores adições no mundo das séries em 2016. Com um roteiro que foge do óbvio, sólidas atuações e um trabalho fotográfico de intensificar a tensão consideravelmente, o seriado consegue nos deixar presos do início ao fim. Resta saber se Chris Black conseguirá manter o mesmo padrão de qualidade no que está por vir. Até então, estamos esperançosos.

Outcast – 1X04: A Wrath Unseen (EUA, 24 de junho de 2016)
Criação:
Robert Kirkman
Showrunner: Chris Black
Direção: Julius Ramsay
Roteiro: Robert Kirkman
Elenco: Patrick Fugit, Philip Glenister, Wrenn Schmidt, David Denman, Julia Crockett, Kate Lyn Sheil, Reg E. Cathey, Gabriel Bateman, Callie Brook McClincy, Brent Spiner, Zach Shirey
Produtora: Cinemax
Disponibilização no Brasil (à época da elaboração da crítica): Canal Fox
Duração: 55 min.

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