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Crítica | Paciência

por Pedro Cunha
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Daniel Clowes é um nome conhecido para quem acompanha o cenário underground dos quadrinhos americanos. Autor de Wilson, Mundo Fantasma e outras obras aclamadas pelo público e crítica, seu mais recente trabalho tem o nome de Paciência, quadrinho que foi lançado no ano de 2016 nos EUA, mas que chegou em terras brasileiras, publicado pela editora Nemo, nesse ano de 2017. Também deve-se destacar a nomeação da obra para o prêmio Eisner.

Sua trama acompanha o relacionamento entre Jack Barlow e sua esposa, Paciência, o casal acaba de descobrir que a mulher está grávida. Junto com o bebê, várias dúvidas assolaram o relacionamento. Daniel dedica pouco de sua narrativa a este momento, logo no primeiro ato nos deparamos com uma grande virada. É aí que a trama de Clowes se transforma em um sci-fi de viagem no tempo (sim, você não leu errado).

Apesar do roteirista ter a viagem no tempo como principal artifício da narrativa, ela está longe de ser o principal ponto de seu desenvolvimento. Em vários momentos vemos o autor bater na mesma tecla, tanto de forma direta, quanto indireta. O principal argumento da história é: olhe para seu presente, todos os adornos de futuro e passado apenas corroboram que ele quer passar em sua mensagem final.

Saudade é um sentimento que pertence ao passado, esperança pertence ao futuro, paciência ao presente. Sendo assim, é fácil entender o porquê do autor dar mais atenção ao presente em sua narrativa, não que a obra passe muito tempo nele, mas, quando passa, é perceptível ver o esmero do autor, trabalhando com cenários mal acabados, ou em preto e branco, para mostrar a monotonia e falta de significado da vida dos protagonistas, e em quadros com bastante sombra e carregados com diálogos.

Logo nas primeiras páginas da obra já pode-se ver o porquê dela se destacar, Clowes tem um traço interessante, que é competente em contar a história, mas muito diferente daquilo que o público geral de quadrinhos está acostumado a ver, principalmente em revistas da Marvel e DC. As cores também são dignas de serem comentadas, o autor consegue trabalhar muito bem com elas, proporcionando sentimentos dúbios para o leitor; vemos páginas em que situações ruins acontecem em primeiro plano, como agressões, mas ao fundo temos uma cor rosa choque, resultando em um sentimento de incômodo ao público, propositalmente.

O roteiro de Daniel é muito inteligente, o artista consegue fazer que o receptor vire a página rápido quando quer, por meio de diálogos e pensamentos rápidos, mas também consegue alentar esse processo quando bem entende. Clowes dá o ritmo de leitura de seu público; dominar esse aspecto é algo cada vez mais difícil em tempos atuais, onde ser rápido é extremamente necessário.

Ele utiliza quadros e composições a favor de sua história, presenciamos cortes muito dinâmicos em alguns diálogos, dando a sensação de vermos um filme de ação. Mas também vemos painéis com uma narrativa de aspecto para aspecto, detalhando cada momento do que esta sendo retratado. Porém, até mesmo o excelente trabalho de Clowes tem defeitos, esses que são grandes o suficiente para receberem destaques nessa crítica.

O critico que aqui escreve não é um leitor de finais, muito pelo contrário, acho que perguntar como aconteceu é muito mais válido do que saber o acontecimento em si. Porém, quando um final é mal trabalhado, ele pode estragar grande parte de todo o argumento, o final que Clowes coloca em Paciência esta bem perto de fazer isso. Um dos papéis mais básicos de todo o encerramento é dar valor para aquilo que foi desenvolvido ao longo da história, o final do quadrinho é completamente diferente disso, mas não diferente de forma positiva. O final que o autor proporciona enfraquece todo o seu argumento, faltou coragem para fazer aquilo que realmente deveria ser feito.

Entretanto, a jornada de Paciência ainda é muito competente, não é à toa que o quadrinho tem colecionado boas avaliações por onde passa. É muito bom ver o cenário de quadrinhos do Brasil crescer o suficiente para comportar um lançamento de um quadrinho underground. Que mais álbuns como esse possam ser lançados no nosso país.

Paciência (Patience)  — EUA, 2012
Roteiro: Daniel Clowes
Arte: Daniel Clowes
Editora original: Fantagraphics Books
Datas originais de publicação: 2016
Editora no Brasil: Nemo
Páginas: 180 Páginas

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