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Crítica | Pacificador – 1X08: It’s Cow or Never

A vaca quase foi para o brejo...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Quem costumeiramente acompanha minhas críticas aqui para o site sabe o quanto eu desgosto de fan service pelo fan service, daquelas referências e inserções que passam a tomar conta da narrativa principal somente para agradar uma parcela do público que não faz a menor ideia do que é roteiro, construção e desenvolvimento de narrativa e que vive de caçar menções aqui e ali aos seus personagens favoritos. Mas James Gunn, que tem diversos outros defeitos, não é normalmente um desses roteiristas que se curva a esse tipo de demanda descerebrada que, na maioria das vezes, diminui e não engradece as obras em que está inserida.

Sim, ele é o mestre das referências e Pacificador está cheia delas, mas, na grande maioria das vezes, elas não são intrusivas. Falo isso, claro, em razão do grande – gigantesco! – fan service ao final de It’s Cow or Never, com a Liga da Justiça aparecendo primeiro no contraluz e, depois, com o Aquaman de Jason Momoa efetivamente conversando com o Flash de Ezra Miller sobre a piada recorrente dos hábitos sexuais do rei de Atlântida. Tudo funciona. O timing (tragi)cômico é perfeito, com o atraso do supergrupo sendo objeto de um esporro sério do Pacificador, que carrega Harcourt muito ferida depois da pancadaria. O destaque dado a cena é cirúrgico, ou seja, nem mais nem menos do que o estritamente necessário para fazê-la funcionar, com uma fotografia elegante que funciona ao mesmo tempo para esconder os dublês e para trazer imponência aos heróis.

Nesse quesito, portanto, não há o que reclamar. O problema repousa no restante do episódio. Afinal, sejamos sinceros e pensemos aqui: como é que ele será lembrado? Garanto que não será em razão de Adebayo usando o capacete de “torpedo humano” do Pacificador e muito menos pela sequência de luta campal do lado de fora do celeiro. O que todo mundo lembrará é da chegada da Liga da Justiça, pois It’s Cow or Never não tem basicamente mais nada que realmente mereça grande destaque. E não, não é um episódio ruim, mas simplesmente não é bom o suficiente para merecer o tal ótimo fan service, o que acaba transformando o fan service em seu ponto alto.

Comecemos pelo começo só a título ilustrativo. Afinal, que a arma principal a ser usada para acabar com a ameaça dos Borboletas seria o capacete com “sonic boom” do Pacificador, não havia dúvidas, pois isso foi determinado lá atrás quando ele o usa no estacionamento do hotel para pulverizar a meta-humana que queria comer o fígado dele. No entanto, o que ninguém poderia esperar é que o último episódio do que é agora a primeira temporada da série dedicaria quase metade de sua duração para fazer a geringonça ser posicionada no celeiro da vaca espacial, com direito a uma sucessão interminável de piadinhas xoxas e extremamente repetitivas que fazem a série andar algumas casas para trás.

Aqui, Gunn mostra que não tinha história mesmo para preencher seus episódios ou – pior ainda – que ele não queria dedicar muito tempo à verdadeira história que ele tinha para contar, aquela séria sobre os traumas de infância do protagonista e sua relação conturbada com o pai. Em Stop Dragon My Heart Around ele mostrou estofo ao fazer justamente isso e sem perder o timing galhofeiro e tosco. Aqui, ele ensaia uma continuidade para isso com o fantasma de Auggie aparecendo para Smith, mas tudo o que ele consegue gerar são momentos estranhos, que parecem completamente deslocados desse final. No lugar de demorar 10 minutos com a suposta piada da águia com o capacete, ele poderia ter distribuído melhor o tempo para abordar mais esse lado e entregar um final de temporada que fosse além do fan service dos minutos finais, mas Gunn preferiu ser Gunn e tropeçar na chegada como, aliás, aconteceu com ele em O Esquadrão Suicida.

Tenho certeza de que nado contra a maré no que achei sobre It’s Cow or Never, mas a ironia da coisa toda é que Pacificador vinha crescendo aos meus olhos chegando ao ponto de eu ter comentado a um leitor que eu achava que não tinha perigo de Gunn errar no final, já que ele só precisava mesmo era explodir Borboletas das maneiras mais escalafobéticas possíveis. Mas ele errou ao não conseguir nem entregar aquele encerramento puramente hollywoodiano e nem algo que tematicamente carregasse para cá o desenvolvimento de Christopher Smith. E não, aquela suposta benevolência dos Borboletas com a raça humana, sua tentativa de nos ajudar a termos um mundo melhor que Smith resolveu acertadamente ignorar não é o “momento inteligente” do episódio. Se alguma coisa, esse foi o “momento constrangedor” em que o alerta de clichê mal introduzido soou e piscou até não poder mais.

Ainda bem que a Liga da Justiça veio para salvar o dia mesmo atrasada, mesmo com dublês nas sombras, mesmo transando com peixes e mesmo parecendo ser um momento gratuito, mesmo não tendo sido gratuito. It’s Cow or Never tinha absolutamente tudo para ser tão bom, mas tão bom, que a presença dos grandes heróis da DC seria apenas um detalhe insignificante. Divertido, mas insignificante. Infelizmente, porém, as pontas do cavalgador de golfinhos (sim, no duplo sentido mesmo) e do homem mais rápido do mundo que, em sua série, é mais devagar que todos os seus inimigos acabaram sendo o ponto alto.

Pacificador – 1X08: It’s Cow or Never (Peacemaker – EUA, 17 de fevereiro de 2022)
Criação: James Gunn
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Elenco: John Cena, Danielle Brooks, Freddie Stroma, Chukwudi Iwuji, Jennifer Holland, Steve Agee, Robert Patrick, Annie Chang, Lochlyn Munro, Elizabeth Ludlow, Rizwan Manji, Alison Araya, Lenny Jacobson, Nhut Le, Antonio Cupo, Jason Momoa, Ezra Miller
Duração: 46 min.

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