- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Depois de um começo não mais do que mediano, Pacificador mantém o ritmo de construção de uma história ao primeiro deixar bem claro que Rick Flag Sr. realmente quer se vingar de Christopher Smith pela morte de seu filho, usando a conveniência da assinatura quântica do armário dimensional como instrumento de seu ataque, e, depois, para deixar marcado que Chris, no lugar de lutar para consertar a vida que tem, muito provavelmente tentará tomar o lugar de sua contraparte extradimensional. Para uma série com apenas oito episódios não particularmente curtos, diria que é pouco demais, já que esses dois primeiros episódios não fazem muito em termos de desenvolvimento, com James Gunn preferindo derramar sua verborragia de sempre e as sequências cuidadosamente feitas para “chocar”.
No entanto, mesmo que Gunn insista na “piada da orgia”, que ganha seu totalmente sem graça dénouement aqui, O Pássaro do Homem Determina Seu Valor tem seus bons momentos, ainda que nenhum deles estrelado por John Cena que, até agora, parece tão perdido em cena quanto seu personagem e não por culpa dele, só para ficar bem claro, já que o mesmo acontece com Danielle Brooks e Freddie Stroma, com apenas Jennifer Holland e Steve Agee ganhando contornos mais definidos e menos genéricos. Se James Gunn tem um real plano para a temporada, seria bom que ele o colocasse em movimento de maneira mais franca e pisando menos em falso, pois, até o momento, a impressão que fica é que o segundo ano da série ainda não começou de verdade.
A introdução do agente Langston Fleury (Tim Meadows), da A.R.G.U.S., como um “controlador” das ações e reações de Economos, é responsável por dar vida ao episódio tamanha é a estranheza que seu personagem causa, seja por sua postura comicamente detestável, do tipo que dá vontade de pular em cima e socar até os punhos sangrarem, seja pela imbecilidade que é sua “cegueira aviária”, uma gag tão bizarra e tão fora da caixinha que ela estaria em casa em Monty Python’s Flying Circus, o que é, acho que não preciso dizer, um elogio sincero. Meadows acerta o tom de seu personagem logo de cara, construindo um personagem que parece – e é – uma completa caricatura que é tão artificial que está mais para um recorte em cartolina, algo que estranhamente funciona, especialmente quando ele manda ver nos apelidos mais babacas para todos ao seu redor. Existe o risco gigantesco de a atitude de Meadows cansar muito rapidamente, mas, pelo menos na duração do episódio, ela se manteve fresca.
O outro ponto alto foi, claro, o brutal ataque de Eagly a Meadows e sua desconjuntada equipe de agentes. A direção de Greg Motola trabalhou muito bem as difíceis sequências em espaço confinado com um pato digital (ou seria um beija-flor?), lidando com eficientes cortes secos que ajudaram muito no impacto visual, com uma dose generosa de carnificina aviária, exatamente o tipo de violência adulta que Gunn precisa usar mais na série, no lugar de só jogar qualquer coisa gratuita quando tem vontade. Toda a sequência do galo de briga do Pacificador defendendo seu território consegue ser melhor do que quase tudo que Gunn ofereceu na série até agora e incluo nessa afirmação toda a temporada anterior. Até mesmo o momento seguinte foi inspirado, com Chris bêbado enchendo a paciência de seu tucano e sendo rejeitado por ele, já que ninguém, nem mesmo pássaros, atura bebuns grudentos.
Agora só falta a temporada começar de verdade, pois tanto a linha narrativa da vingança de Rick Flag quanto da tentadora utopia de uma Terra paralela onde Chris não é um perdedor e parece ser amado por todos tem grande potencial para funcionar e a fusão dessas ideias ainda pode resultar em algo genuinamente bom. Isso, claro, se James Gunn parar de artificialmente criar uma série escrachada para adultos e tratar de usar o que tem para naturalmente alcançar esse resultado. O que não falta é material à disposição.
Pacificador – 2X02: O Pássaro do Homem Determina Seu Valor (Peacemaker – 2X02: A Man Is Only as Good as His Bird – EUA, 28 de agosto de 2025)
Criação: James Gunn
Direção: Greg Mottola
Roteiro: James Gunn
Elenco: John Cena, Danielle Brooks, Freddie Stroma, Jennifer Holland, Steve Agee, Robert Patrick, David Denman, Frank Grillo, Sol Rodríguez, Tim Meadows, Elizabeth Ludlow
Duração: 49 min.
