- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Muito sinceramente, eu não esperava um tratamento grandioso para as consequências da revelação de que a dimensão paradisíaca em que o Pacificador encontrou sua paz era, na verdade, a Terra-X, em que a Alemanha Nazista ganhou a Segunda Guerra Mundial, mas eu também não esperava o tratamento acanhado que essa linha narrativa tão promissora acabou recebendo. Foram cinco episódios que andaram de lado para supostamente preparar o terreno para esse grande momento e o grande momento foi abordado como se fosse apenas mais uma terça-feira na vida dos personagens, o que tirou todo o poder da história e a transformou em algo indefensavelmente banal, como se James Gunn tivesse tido essa única ideia, mas nenhuma ideia efetiva de como desenvolvê-la ou orçamento para usar em algo minimamente mais interessante.
Peguem aquilo que o episódio anterior prometia com aquele final e dividam por dois e tirem a raiz a quadrada desse resultado e isso é mais ou menos (menos do que mais) o que Gunn entrega em Como um Keith na Noite. A perseguição assustadora à Adebayo acaba com os perseguidores eletrocutados na piscina pelo Mestre Judoca (e os dois, depois, jogando palavras cruzadas calmamente, como se estivessem em casa) e todos os demais personagens ganham um tapinha nas costas de Papai Auggie que não é tão malvado e racista como sua contrapartida da dimensão principal, afinal de contas, a ponto de aceitar com a maior tranquilidade a morte de seu filho. Sim, dou pontos aos Vigilantes chegando e matando Auggie e ferindo Keith gravemente e ao Pacificador, ao final, entregando-se, cabisbaixo, à custódia da A.R.G.U.S., mas só, já que o restante foi um blá, blá, blá cansativo com tentativas de humor ainda mais preguiçosas que não levaram a absolutamente lugar nenhum que não seja a criação de um arqui-vilão para o Pacificador na figura de seu irmão que, espero, só retorne em uma futura temporada e não no episódio final para ele ser morto em segundos, de preferência com o Homelander e outros lá da outra dimensão.
Para que preparar a grande revelação sobre a Terra-X se não aprendemos nada sobre ela que não seja o óbvio ululante e que nem todo mundo que mora por lá coaduna com o regime? Nem mesmo as paralelizações dessa dimensão com a nossa funcionaram bem, pois é talvez pedir demais que aceitemos, como o roteiro diz uma, duas, três vezes, que estamos em pé de igualdade com um mundo em que as repartições públicas precisam ter uma parede inteira com uma pintura de um Hitler vitorioso e em que minorias, ao que tudo indica, são mão de obra escravizada em lugares incertos e não sabidos. Essa é uma forma binária demais de se enxergar o mundo, mas Gunn, na sua correria para encerrar essa linha narrativa, força essa abordagem sem que ele dê tempo para que mais seja visto sobre essa Terra paralela de maneira que algo nessa linha possa ser uma conclusão um pouco mais natural.
Era quase preferível que o marasmo da temporada tivesse continuado como estava, sem Terra-X, pois o que Gunn fez foi colocar a cenoura lá na frente para nos deixar salivando e, ato contínuo, executar sua ideia da maneira mais simplória possível, como se a série sob seu comando tivesse orçamento de centavos. De um lado, ele matou meia dúzia de racistas raivosos na piscina para fazer um agrado, mas, de outro, fez do racista-mor um papai simpático que só não faz mais por um mundo melhor porque… não pode, não quer, não consegue, a barriga ficou grande demais, a casa dele é bonita. Escolha a melhor opção, pois confesso que não tenho mais interesse algum em saber. E a desgraça maior é que tem ainda um episódio pela frente em que o Pacificador vai ficar choramingando pelos cantos, Emilia Harcourt será novamente elevada ao mais alto patamar superheroístico pelo puro mérito artístico da atriz, lógico, e os demais personagens da turminha do protagonista reverterá ao estado anterior, ou seja, ao de coadjuvantes em processo de rebaixamento para figurantes sem fala que aparecem em terceiro plano segurando uma bandeja com canapés e guardanapos em uma festa de gala. E não estou fazendo aqui nenhum exercício de futurologia, apenas explicitando meus maiores temores para semana que vem… E chega de escrever, pois cansei do meu próprio blá, blá, blá…
Pacificador – 2X07: Como um Keith na Noite (Peacemaker – 2X07: Like a Keith in the Night – EUA, 02 de outubro de 2025)
Criação: James Gunn
Direção: Alethea Jones
Roteiro: James Gunn
Elenco: John Cena, Danielle Brooks, Freddie Stroma, Jennifer Holland, Steve Agee, Robert Patrick, David Denman, Frank Grillo, Sol Rodríguez, Tim Meadows
Duração: 37 min.