- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Havia uma chance enorme de o episódio final da segunda temporada de Pacificador ser melhor do que o anterior, já que Como um Keith na Noite havia conseguido a façanha de ser o pior até semana passada. E, de fato, Chave Nelson conseguiu superar o anterior, mas não por muito, pois, justiça seja feita, James Gunn levou o drama pessoal do protagonista e de essencialmente todos os seus amigos (nenhum deles, porém, com um arco dramático minimamente decente para dizer que ele foi encerrado) até um fim satisfatório e, na mesma toada, usou a série para abrir uma nova linha narrativa que pode ou não ser a terceira temporada da série, pode ou não ser usada nos filmes do Universo Cinematográfico DC 2.0 e pode ou não ser objeto de uma nova série que continue essa, talvez Xeque-Mate como o final dá a entender.
O grande problema do episódio, porém, foi sua execução. Usando da prerrogativa de chefe, Gunn pegou todo o orçamento não usado anteriormente para criar os efeitos especiais das dimensões exploradas sob ordens de um Rick Flag Sr. transformado em uma Amanda Waller em liquidação, já que o cachê de Frank Grillo deve ser uma fração do de Viola Davis (e, se não for, deveria ser) e para estender o episódio para uma hora de duração de maneira a usar o troco do CGI para contratar não uma, mas duas bandas reais para fazer shows, Nelson e Foxy Shazam. Se, antes, as poucas reclamações sobre a série que eu ouvia eram na linha de que seus episódios eram curtos demais, com o que eu discordo veementemente dada a completa ausência de história para preencher mesmo a minutagem acanhada, agora Gunn chutou o pau da barraca e fez um episódio que não deveria durar nem 25 minutos ser espalhado como a manteiga no pão lá de Tolkien por meio da criação de toda uma história pregressa de “amorzinho” entre Christopher Smith e Emilia Harcourt na base de flashbacks enfiados goela abaixo do espectador.
O plano maligno de Rick Flag, que, obviamente, é fruto de um diabinho no ombro dele na forma de um certo careca vilanesco que já tentara algo parecido antes em Superman, é sem dúvida interessante, com Gunn tendo pescado o conceito do planeta Salvação (ou Cygnus 4019) da minissérie em quadrinhos Planeta dos Condenados (Salvation Run), escrita por Bill Willingham e publicada em sete partes em 2008 pela DC Comics. Eu gosto do conceito e gosto quando quadrinhos menos conhecidos – mesmo que recentes – seja resgatados para ganharem nova roupagem no audiovisual. Mas mesmo isso foi pura enrolação gastadora de orçamento em computação gráfica, com dimensões e mais dimensões sendo exploradas e um monte de agentes da A.R.G.U.S. morrendo mortes horríveis até que um planeta habitável fosse achado (o que é uma bondade de Flag, vamos combinar, pois seria mais prático mandar os metahumanos logo para aquela dimensão que dá direto no espaço, perto de uma singularidade). E tudo isso poderia ser somente uma porta de entrada para usos futuros, mas o final foi bem amarrado, com Flag, no final das contas, revelando que, por trás de sua intenção macro, havia um objetivo micro, que era fazer do Pacificador o primeiro habitante de Salvação, completando sua vingança contra o assassino de seu filho.
Fora dos flashbacks musicais de namorico e da vilania inchada de Flag, há o real final da série, que é a maneira como o roteiro de Gunn lida com o peso da culpa e a necessidade de pertencer e de ser amado que Christopher Smith sente, com Adebayo, a única mente equilibrada do grupo (e que recebe também um final para o seu drama mal desenvolvido com a esposa), fazendo bom uso do dinheiro de sangue do Vigilante para não só tirar Chris da prisão – ainda que contra sua vontade – como para construir a sede da Xeque-Mate, com o grupo crescendo para absorver a ciborgue Sasha Bordeaux, o portador de cegueira aviária Langston Fleury e o lutador Mestre Judoca (e, quem sabe, lá para a frente, não revelam que Red St. Wild sobreviveu e ele também se junta à equipe, agora como um protetor das águias e outras aves?). Esse foi, para mim, o coração do episódio. Um coração meloso e choroso, eu sei, mas simpático mesmo assim e sobretudo merecido, que leva ao fim de um arco e ao começo de outro.
O que ficou realmente claro ao longo dessa temporada é que James Gunn precisa delegar séries para outras pessoas desenvolverem, pois ele definitivamente não sabe transpor seu jeito de escrever para esse formato. Chave Nelson é, mesmo com seus aspectos positivos, um final apenas mediano para uma temporada que só com muita boa vontade é, no conjunto, também mediana. Agora é esperar para ver os caminhos que serão seguidos com o que foi deixado de ponta solta aqui para aproveitamento futuro.
Pacificador – 2X08: Chave Nelson (Peacemaker – 2X08: Full Nelson – EUA, 09 de outubro de 2025)
Criação: James Gunn
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Elenco: John Cena, Danielle Brooks, Freddie Stroma, Jennifer Holland, Steve Agee, Robert Patrick, David Denman, Frank Grillo, Sol Rodríguez, Tim Meadows, Nhut Le
Duração: 58 min.