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Crítica | Pacificador: Perturbando a Paz

A paz patológica do Pacificador.

por Ritter Fan
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Na paz e tranquilidade de um cemitério, Christopher Smith, conhecido como Pacificador, mas em roupas civis, conversa com a Dra. Sedgewick, uma psicóloga militar para saber se ele está mentalmente apto a participar de uma nova equipe. E é assim, com a maior simplicidade do mundo e sem, em momento algum, a não ser nas capas, depender do uniforme espalhafatoso do anti-herói da DC Comics que está agora em voga em razão do longa O Esquadrão Suicida e de sua série solo, para contar sua história, que Garth Ennis faz o leitor voltar ao passado para conhecer os detalhes da origem deste perturbado personagem.

A estrutura é clássica. As sequências do cemitério, no presente, não só emolduram os flashbacks, como também os interrompem de tempos em tempos, vagarosamente também alterando o status quo estabelecido no início, com os retornos ao passado sem fundamentalmente cronológicos, começando com o assassinato dos irmãos de Smith seguido dos suicídios de sua mãe e padrasto, em um momento gráfico e chocante bem no estilo Ennis de escrever, e seguindo com o garoto algum tempo depois da tragédia sendo adotado como um mascote de uma dupla de ladrões e assassinos bem no estilo “Mickey e Mallory”, de Assassinos por Natureza e chegando à sua vida no exércitos, em missões especiais. Claro que a cronologia ganha “sabores” mais para o final, comandando uma pequena reviravolta – ou releitura – do que vimos acontecer poucas páginas antes, mas Ennis é elegante no que faz o tempo todo, mesmo considerando o grau de violência de seu one-shot que, por isso, ganhou o selo DC Black Label.

Em termos comparativos, para quem conhece Ennis, mesmo considerando que a HQ foi claramente feita para surfar na série de TV que seria lançada, seu trabalho em Perturbando a Paz está mais para seu run original do Justiceiro no selo Max da Marvel Comics, ou seja, pesado, violento e sério, do que para Preacher, da finada Vertigo Comics, ou The Boys, da Dynamite Comics, ambas mais satíricas. Logicamente que, em razão do número reduzido de páginas – ainda que maior do que a média de one-shots por aí – a narrativa é muito rápida, talvez rápida demais para que o choque dos acontecimentos na turbulenta vida de Smith realmente afete o leitor, com um olhar quase que de “amostras” do que o personagem passou. Mas a velocidade não atrapalha a compreensão da história e nem cria atalhos grandes demais que quebrem a história em demasiado, pois a pergunta principal não é se Christopher Smith teve uma vida violenta, mas sim o quão cedo ela começou, como ela começou de verdade e, também, como esses eventos acabaram moldando-o, com uma ótima abordagem sobre até que ponto o personagem é capaz de ir para alcançar o seu muito particular – e distorcido – conceito de paz.

A arte de Garry Brown ajuda muito a lidar com a quantidade razoável de informações sem fazer a narrativa pesar, com o estilo mudando levemente entre presente e passado, assim como a paleta de cores de Lee Loughridge que muda de fria para quente na medida em que as transições acontecem. Sem dúvida o que vemos mereceria mais tempo de maturação, talvez com mais algumas edições – umas duas ou três – para fazer pelo Pacificador o que Ennis fez pelo Justiceiro, mas é impressionante como a concisão narrativa do roteirista ganha vida com a cuidadosa arte de Brown e Loughridge que sabem distribuir bem os espaços e suas cores, como não economizam em detalhes de primeiro, segundo e terceiro planos, detalhes esses essenciais para o mergulho imediato do leitor na narrativa.

Perturbando a Paz não é, porém, uma HQ para mudar nossa percepção sobre o personagem e nem para fazer história na Nona Arte. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma HQ de cunho oportunista – o que é perfeitamente compreensível e também aceitável – que, porém, não é um caça-níqueis barato, do tipo que vemos nos tie-ins em quadrinhos da Marvel em relação a seus filmes. Ennis faz o melhor que pode com o número de páginas que lhe deram, com a equipe artística tendo sido muito bem escolhida para dar vida à sanguinolência da origem do Pacificador, resultando em uma história que vai bem além da banalidade genérica que muito bem poderia ter sido.

Pacificador: Perturbando a Paz (Peacemaker: Disturbing the Peace – EUA, 2022)
Roteiro: Garth Ennis
Arte: Garry Brown
Cores: Lee Loughridge
Letras: Rob Steen
Editoria: Katie Kubert, Ben Meares, Marie Javins
Editora original: DC Comics (DC Black Label)
Data original de publicação: 25 de janeiro de 2022
Páginas: 41

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