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Crítica | Paddleton

por Gabriel Carvalho
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“O que o Michael tem é incurável.”

Lançado no Festival de Sundance, Paddleton chegou ao grande público através da plataforma de streaming Netflix. O longa-metragem repassa os últimos momentos de uma amizade entre dois vizinhos solteiros, mas que agora têm que encarar a proximidade da morte de um deles, vítima de câncer. Michael (Mark Duplass), no entanto, escolhe morrer por conta própria, e não pela doença. Temos uma premissa, então, que, até um certo ponto, baseia-se em uma roadtrip, enquanto os protagonistas vão para as estradas em busca de um remédio específico. Porém, o enredo nunca se concretiza perante esse espaço de atuação. Paddleton já possui problemas em seus alicerces.

Andy (Ray Romano), em outra instância, é o amigo que precisa segurar sua barra, ter que acompanhar os suspiros finais de seu vizinho. O roteiro, portanto, coloca como sendo a sua jornada um jogo de inseguranças, medos, que é consideravelmente interessante. Em uma das cenas, Andy acaba pegando o remédio, que será usado como a dose letal para Michael, guardando-o em um cofre. Alexandre Lehmann, o diretor do filme, aliás, conduz sua obra através de uma comédia mais contida. Ray Romano, por exemplo, comunica-se com pouquíssima extroversão. Com isso, o cineasta rejeita o sentimentalismo para o seu projeto, sendo mais sóbrio.

Mas o seu arco não possui um correspondente ao de Michael, personagem um tanto quanto passivo em relação a tudo. Isso, entretanto, é mais um interesse próprio do roteiro, que lida com um personagem que está movendo-se pelo impulso, sem pensar muito nas consequências ou o que significa essa trajetória. Não é à toa que uma das últimas cenas do longa-metragem seja uma resolução mais pungente, porque, mesmo mal executada pela direção – os enquadramentos são muito desleixados -, os atores convencem o espectador de que estão, agora, à margem do desconhecido, e toda a segurança prévia era mentirosa. Um choque, sem piso, mas com um teto.

Contudo, o longa-metragem nunca discute sinceramente o significado da vida, o significado da morte. Lehmann permite esses pensamentos acontecerem apenas em um terreno que pauta-se no efêmero, quase que jogando-os em meio a diálogos perdidos numa questão de arrumação discursiva, coesão em desenvolvimento de personagem. Os espectadores acompanham uma obra vaga demais sobre quem são esses seres. Não permite nem mesmo que o passado surja de uma maneira mais orgânica. Michael nunca repensa sua decisão, nunca sequer pensa sua decisão. A obra é um tanto quanto fria conjuntamente, pois é honesta apenas em segmentos individuais e só.

Paddleton termina expondo a sua desinspiração, sem trajar uma pieguice consciente, nem mesmo uma acidez cômica. É uma obra um tanto quanto inócua, que anseia lágrimas, mas só consegue realmente consolidar-se quando os atores encenam mais soltos, nem um pouco interessada em construí-los verdadeiramente. O filme nunca pensa os arcos desses amigos, ou então um significado. Os personagens vão sendo caracterizados sem muita ordem e, consequentemente, Paddleton parece ser bastante desorganizado enquanto roteiro. O que sobra são as passagens mais ordinárias, sem muita costura uma com a outra, só um funcionamento passageiro. Eis a vida.

Paddleton – EUA, 2019
Direção: Alexandre Lehmann
Roteiro: Mark Duplass, Alexandre Lehmann
Elenco: Mark Duplass, Ray Romano, Christine Woods, Kadeem Hardison, Dendrie Taylor, Ravi Patel, Marguerite Moreau
Duração: 89 min.

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