Home TVEpisódio Crítica | Padre Brown – 1X10: A Cruz Azul

Crítica | Padre Brown – 1X10: A Cruz Azul

Fé e observação da realidade.

por Luiz Santiago
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Embora seja o episódio final da 1ª Temporada de Father Brown, série da BBC que adapta os contos do grande escritor G.K. Chesterton sobre o seu clérigo detetive, A Cruz Azul é, na verdade, a aventura de estreia do personagem na literatura, tendo sido publicada originalmente em julho de 1910, e depois compilada no livro A Inocência do Padre Brown, em 1911. Atentando a organização do roteiro desse episódio, o espectador percebe claramente que ele faz parte de uma organização temática que já estava em desenvolvimento na temporada, com os personagens bem familiarizados entre si, algumas liberdades que só podem ser adquiridas com o passar do tempo e situações que parecem muito comuns a essas pessoas que moram perto da paróquia do padre.

Quem assina este Finale é o diretor Ian Barber, que faz um ótimo trabalho na condução do elenco, especialmente do Padre Brown, que é vivido por Mark Williams, o Arthur Weasley da saga Harry Potter e o Brian Williams de Doctor Who. O ator exibe com perfeição aquilo que Chesterton descreve sobre o personagem: o senso de humor, a inocente teimosia, a fé inabalável, a bondade, a sagacidade e a cara (ou o comportamento) de um aparente “coitado“, ou de alguém que “não entende nada“. Esses elementos fazem parte da construção desse detetive eclesiástico, o que o torna muito diferente, por todo o pacote, daquilo que nós temos no gênero da ficção detetivesca.

O texto de Rachel Flowerday e Tahsin Guner não expande os horizontes do protagonista nessa história, diferente do conto. Eu confesso que senti falta dos elementos cômicos que formam as pistas deixadas por Flambeau, em sua fuga, e que vão pouco a pouco chamando a atenção do Padre Brown. Na base em que o drama é construído na série, temos um ambiente mais burocrático, com o padre mais ligado à hierarquia da igreja (um bispo rigoroso e nada amigável veste a carapuça de um antagonista leve, de bastidor) e que não passeia muito. Mesmo que o roteiro ainda acrescente momentos cômicos, eles são bem menores do que os da obra original e até mesmo o método de investigação e observação do padre é diminuído, dando lugar a cenas de ameaça e jogos que flertam um pouco com o thriller.

Não gosto da linha mais burocrática que perpassa a abordagem geral, mas ela não é capaz de tirar a essência de A Cruz Azul. O Padre Brown da série continua mesclando o seu pensamento religioso com suas faculdades de grande observador e resolve o crime em questão da forma mais inesperada possível — mais por contexto do que pelo resultado de um processo cuidadoso de investigação. É uma versão mais “familiar” desse Universo, mais parada do que a que Chesterton concebeu; mas é uma adaptação muito boa, porque não retira a alma da história e deixa uma boa linha de possibilidades para um novo contato entre Brown e Flambeau, uma ótima porta aberta para o Finale de uma temporada, por sinal. O Padre Brown de Mark Williams também percebe que “a teologia que nega a razão é má teologia“, mas sua simplicidade e sua humildade se sobrepõem, dramaticamente, a essa linha filosófica, teológica e metodológica de investigar. É um Padre Brown diferente, mas ainda é o irresistível Padre Brown.

Father Brown – 1X10: The Blue Cross (Reino Unido, 25 de janeiro de 2013)
Direção: Ian Barber
Roteiro: Rachel Flowerday, Tahsin Guner (baseado no conto de G.K. Chesterton)
Elenco: Mark Williams, Alex Price, Hugo Speer, Sorcha Cusack, Malcolm Storry, Kasia Koleczek, Keith Osborn, Christopher Villiers, Patrick Brennan, John Light, Graham Pavey
Duração: 45 min.

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