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Crítica | Pague para Entrar, Reze para Sair

Posso pagar para não ver?

por Ritter Fan
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Tobe Hooper começou sua carreira em longas em 1969, com Eggshells, uma obra estranhíssima, quase experimental, que não é lá muito boa (olha eu aqui sendo eufemístico), mas que sem dúvida aponta para algo a mais no diretor. E esse “algo a mais” veio com força cinco anos depois, com O Massacre da Serra Elétrica, verdadeiro divisor de águas no gênero terror, inspiradíssima obra seguida por Devorado Vivo, em 1976 e, na televisão, a minissérie A Mansão Marsten, também conhecida como Vampiros de Salem, em 1979, ambas até boazinhas, mas que empalidecem diante de seu clássico absoluto sobre Leatherface e companhia.

Nos anos 80, o diretor deixou para trás as obras independentes e entrou na ciranda hollywoodiana, com essa nova fase sendo iniciada por Pague para Entrar, Reze para Sair, um slasher (sem muitos slashes), produção da Universal Pictures que conta a história de quatro jovens – dois casais – que decidem passar a noite no brinquedo mais aterrador de um circo itinerante em uma cidadezinha no Iowa cheio de gente esquisita, especialmente um grandalhão que fica o tempo todo mascarado e enluvado de monstro de Frankenstein que organiza justamente a entrada e saída desse brinquedo (o Funhouse do título original). Ou seja, o bom e velho tropo dos adolescentes que querem transar e escolhem os lugares mais idiotas para assim proceder e, claro, são mortos um a um pela ameaça local, no caso a monstruosidade mascarada em questão e seu pai que, apesar de não ser deformado, é um sujeito muito pior que o coitado do filho.

Hooper tem altos e baixos – talvez bem mais baixos do que altos, se pensarmos bem… – e, não sei se nervoso para entregar algo palatável para um grande estúdio sedento por um slasher adolescente barato para entrar na moda da época, ele acabou entregando um filme que joga seguro demais, começando com uma sessão infinita de homenagens a obras clássicas de suspense e terror e seguindo por um caminho em que as pessoas e coisas estranhas do circo itinerante passam a ocupar uma minutagem enorme do longa, empurrando toda a ação climática para os 25 apertados minutos finais. Há até mesmo uma trama paralela envolvendo o irmão menor da protagonista Amy Harper (Elizabeth Berridge) que não leva a absolutamente lugar nenhum e que parece estar lá só para fazer o filme alcançar o tamanho regulamentar de pouco mais de 90 minutos.

Aliás, falando em Berridge, que final girl mais sem graça que Hooper foi escalar, viu? Não sei se foi em razão do roteiro sem eira nem beira que entregaram para a jovem, com Lawrence J. Block incapaz de sequer estabelecer a personalidade da personagem, ou se é mesmo a atriz que parece caminhar pelo set no automático, como se estivesse praticamente sozinha por ali, só passando a ter alguma reação quando, claro, as mortes começam. E o mesmo vale para os outros três jovens, que existem somente com a função de serem mortos, mas com um diferencial grande em relação a outros slashers: nós não nos importamos nem por um segundo com as mortes deles. Ao contrário até…

A prótese monstruosa do bicho papão da vez foi criada pelo mestre Rick Baker, mas, enquanto ela é muito bem feita como uma máscara fixa, não deve ter havido orçamento suficiente para permitir movimentações sutis, transformando-a no grotesco pelo grotesco, algo bem distante do que Hooper fizera de maneira muito mais simples em 1974. E, como se isso não bastasse, o diretor faz a revelação da aparência real da criatura sem nenhuma fanfarra, o que seria até interessante e diferente se ele não tivesse passado a hora anterior inteira mostrando-o com as já mencionadas máscara e luvas do monstro de Frankenstein. Para que tanto mistério se a revelação vem sem algum tipo de choque para valorizá-la?

Pague para Entrar, Reze para Sair tem um conceito simples e intrigante, mas uma execução que deixa muito a desejar em diversos quesitos, quase como se Hooper estivesse contrariado por ter entrado na roda viva de Hollywood (o que não é verdade, pois seu trabalho seguinte seria nada menos do que Poltergeist, que não poderia ser mais mainstream e, mesmo assim, ele fez o que fez!). Entre um monstro decepcionante, uma heroína que, se morresse, não faria falta, e um comedimento quase pudico no que diz respeito ao que faz de slashers serem slashers, o longa poderia facilmente ser intitulado Pague para Entrar no Cinema, Reze para Acabar Logo.

P.s.: Eu volta e meia reclamo dos títulos malucos nacionais, incluindo a adição de subtítulo redundantes, mas tenho também que elogiar quando é para elogiar. The Funhouse, título original do filme de Hooper, é completamente sem graça como a protagonista, enquanto que Pague para Entrar, Reze para Sair, apesar de longo, é sensacional, facilmente melhor do que a própria obra!

Pague para Entrar, Reze para Sair (The Funhouse – EUA, 1981)
Direção: Tobe Hooper
Roteiro: Lawrence J. Block
Elenco: Elizabeth Berridge, Cooper Huckabee, Largo Woodruff, Miles Chapin, Kevin Conway, Wayne Doba, Sylvia Miles, William Finley, Shawn Carson, Rebuka Hoye, Jack McDermott, Jeanne Austin
Duração: 96 min.

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