Home FilmesCríticas Crítica | Pai (Otac, 2020)

Crítica | Pai (Otac, 2020)

por Roberto Honorato
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Os primeiros minutos de Pai, dirigido por Srdan Golubovic, apresentam uma sequência de abertura impactante, na qual uma mãe, desesperada por conta da fome e falta de dinheiro, ameaça atear fogo em seus filhos e no próprio corpo como protesto por seu marido não ter recebido seu último pagamento do estado. Depois dessa atitude inesperada, agentes da assistência social recebem a ordem de levar as crianças para longe da mãe, o que obriga o pai deles, Nikola (Goran Bogdan), a correr atrás da custódia. Mas Nikola não sabe que além da burocracia, precisa lidar com a corrupção do sistema de adoção, que o obriga a sair de sua pequena vila na Sérvia e atravessar parte do país à pé, com a intenção de apelar para o ministro nacional. 

O personagem sai de casa carregando apenas uma mochila e a chave da porta da frente, e em seu caminho solitário dá de cara com diversos desafios, como animais, pessoas tentando roubá-lo e os obstáculos da burocracia e as estritas leis de seu país, que vem passando por um aumento na taxa de desemprego, mas não parece interessado em consertar o problema. Em certo ponto, o protagonista chega a mencionar como “é quase impossível arranjar um emprego em tempo integral nos últimos anos”, sendo respondido com reações indiferentes. O enredo de Ognjen Svilicic (co-escrito pelo diretor, Golubovic) questiona essa indiferença, mas também apresenta pequenos respiros de compaixão, com algumas pessoas simpatizando com a dor do personagem, o ajudando da maneira que podem.

Nikola precisa lidar com o trauma de sua esposa e a possibilidade de perder os filhos, mas em nenhum momento é intimidado ou considera desistir de sua missão, diversas vezes recusando ofertas e mantendo sua posição através de protestos pacíficos. Se não fosse pelo ótimo trabalho de Goran Bogdan em um papel expressivo, mantendo uma interpretação física que parece estar constantemente à beira do colapso, o longa não teria o mesmo peso, isso porque ele depende quase inteiramente da atuação de Bogdan.

Com uma premissa e sequência de abertura tão fortes, o maior problema de Pai é não manter o mesmo sentimento de tensão e incerteza ao longo da jornada de Nikola, ou pelo menos não entregar algo no mesmo nível. Mesmo que o protagonista precise lidar com o desgaste físico e mental, o longa está constantemente inserindo novos obstáculos em seu caminho, e por mais que a intenção não seja a de recriar a mesma sensação angustiante do começo, o filme parece querer manter o espectador investido com impasses que passam a se tornar cada vez mais previsíveis. Com a dificuldade de se superar em viradas na trama, a obra alcança um terceiro ato fraco, que necessita de uma montagem menos repetitiva, retirando talvez meia hora de duração, o que poderia distrair da sensação de cansaço que você sente ao terminar o filme.

Mesmo repetitiva, a trama de Pai se sustenta pela comovente interpretação de Godan Bogdan e os temas de paternidade e justiça que o longa soube executar sem apelar para soluções fáceis. A direção de Golubovic pode não salvar uma montagem inconsistente, mas casa com a fotografia que captura a beleza das paisagens da Sérvia, por mais vazias e solitárias que pareçam.

Pai (Otac – Sérvia, 05 de Março de 2020)
Direção: Srdan Golubovic
Roteiro: Ognjen Svilicic, Srdan Golubovic
Elenco: Goran Bogdan, Boris Isakovic, Nada Sargin, Milica Janevski, Muharem Hamzic, Ajla Santic, Vahid Dzankovic, Milan Maric, Jovo Maksic, Marko Nikolic, Nikola Rakocevic
Duração: 120 min.

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