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Crítica | Paixão à Flor da Pele

Um emaranhado de conflitos sobrepostos.

por Leonardo Campos
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Paixão à Flor da Pele

Quando conferido pela primeira vez, lá em meados de 2005, um ano após o seu lançamento, Paixão à Flor da Pele foi encarado como um filme de desenvolvimento interessante, mas pretensioso demais e sem a complexidade que seus realizadores acharam que a narrativa tinha. Hoje, conferido com um distanciamento de quase duas décadas, devo dizer que a opinião mudou, mas se tornou branda, tal como a produção que mescla elementos do drama romântico e algumas pitadas de sensualidade e fantasia. Contemplado dentro de um projeto que pretende radiografar todos os filmes possíveis da contemporaneidade que tenha mulheres fatais, tenho a certeza absoluta de não haver uma conexão direta com os herdeiros de Instinto Selvagem, Atração Fatal e correlatos, mas há nesta obra um eco da mulher como personagem forte que leva um homem ao seu processo de derrocada. Não há a descida aos infernos de ordem física e moral comum aos filmes mencionados, mas o protagonista de Josh Hartnett é sim ludibriado e carregado por fortes emoções que o deixam psicologicamente abalado.

Dito isso, a enigmática personagem de Diane Krueger se comporta aqui como uma dama capaz de tirar o sossego desta figura ficcional masculina que quase enlouquece em busca de respostas diante do sumiço repentino da tal garota, um grande amor de seu passado recente. Começarei do flashback e depois retorno ao tempo presente da narrativa, combinado? Vejamos: ao longo de seus 115 minutos, acompanhamos o drama em volta dos desdobramentos inexplicados do desaparecimento misterioso de Lisa (Krueger), jovem belíssima que namora Matthew (Hartnett). Eles formam um casal atraente, magnético, bonitos de se ver. Certo dia, ele a convida para o acompanhar até Nova Iorque para dar continuidade aos seus projetos profissionais. Antes, o jovem vivia da fotografia, mas agora ele é executivo de uma agência de propaganda. A moça não demonstra qualquer traço de negação e diz que vai pensar e responder no dia seguinte.

A promessa, por sua vez, não é cumprida. Lisa desaparece sem deixar vestígios e o rapaz encara a postura como uma fuga da proposta. Vida que segue, não é mesmo? É assim que Matthew se desloca de Chicago e constrói a nova etapa de sua carreira, sem esquecer, no entanto, dos momentos deliciosos com a namorada. Certo dia, no entanto, ele participa de um jantar com seus clientes chineses e pede licença por um instante para realizar uma ligação. É quando percebe que de longe, do lado de fora do estabelecimento, uma moça idêntica ao seu amor acabou de passar. Será Lisa ou apenas uma alucinação? Com a ajuda de seu amigo Luke (Matthew Lillard), ele parte em busca de respostas. O sabor das descobertas é agridoce, mas o roteiro de Brandon Boyce permite que ecos do que chamamos de cinema comercial se faça presente no texto de Paixão à Flor da Pele. E, para quem é cinéfilo, há uma sensação de já ter visto tudo isso contado anteriormente. Em 1996, Gilles Mimoumi escreveu essa história para o filme O Apartamento.

Estamos diante de uma refilmagem, certo? Os realizadores precisavam se atentar ao fato dos avanços tecnológicos entre as produções, pois de 1996 e 2004, o acesso aos celulares e outros suportes comunicacionais tornam mais complexas as resoluções dramáticas dentro de contextos onde o acesso á informação é mais viável. Mas como estamos diante de um produto cinematográfico, acredito que essa seja uma situação que pede licença para que o lado fantasioso de Paixão à Flor da Pele ganhe projeção, sem interrupções de nossas mentes pensantes demais. Com participação de Rose Byrne no papel de Alex, o filme é um emaranhado de conflitos sobrepostos de personagens diversos, fotografados por Peter Sova e trajados pelos figurinos de Odette Gadoury, setores que cumprem bem as suas funções estéticas em prol do desenvolvimento narrativo. Faltou um pouco mais de emoção e empenho na trilha sonora de Cliff Martinez e na direção de Paul McGuigan, médios quase abaixo desta linha de classificação.

Paixão à Flor da Pele (Wicker Park, EUA – 2004)
Direção: Paul McGuigan
Roteiro: Gilles Mimouni, Brandon Boyce
Elenco: Josh Hartnett, Rose Byrne, Matthew Lillard, Diane Kruger, Christopher Cousin, Jessica Paré, Vlasta Vrana, Amy Sobol, Ted Whittall
Duração: 114 min

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