Lançado em 1989 e dirigido por Victor Salva, Palhaço Assassino é um filme simples, mas eficiente na construção de sua atmosfera aterrorizante. Também escrita pelo cineasta, a narrativa se destaca como um clássico do terror, largamente popular na era do VHS, história que explora a fusão entre o horror psicológico e o medo intrínseco associado aos palhaços. Ao longo de seu enredo, nos deparamos com três irmãos adolescentes: Casey, Geoffrey e Randy. Eles se encontram sozinhos em casa, enquanto seus pais estão fora. O que deveria ser uma situação para o mais velho assustar o mais novo, dentre outras travessuras, se transforma em um cenário propício para o pavor quando, coincidentemente, três pacientes de uma clínica psiquiátrica escapam. E, ao se infiltrarem em um circo recentemente instalado na região, tais indivíduos, que apresentam problemas mentais, assassinam os palhaços, apropriando-se de suas fantasias e maquiagens. Essa premissa da trama não apenas estabelece um roteiro envolvente, mas também incorpora elementos que ressoam com o medo coletivo presente na cultura popular, criando uma atmosfera intensa e inquietante. Você. Caro leitor, já teve medo de palhaço? Se não teve, sorte sua, pois quem vos escreve teve e sentia pavor ao se deparar com tal figura.
Interessante é que mesmo diante de todo sangue derramado na época de sua produção, com os retornos constantes de Jason, Freddy e Michael Myers, inspiração para muitos realizadores, o filme utiliza uma abordagem sutil para o terror. Assim, em vez de se apoiar em cenas gráficas de violência, Palhaço Assassino trabalha com a tensão e a antecipação do que está por vir. Os irmãos, já em uma situação vulnerável, tornam-se alvos de uma série de eventos sinistros que testam sua coragem e resiliência. A ausência de seus pais não se revela apenas um detalhe narrativo, mas um elemento que intensifica a sensação de vulnerabilidade e isolamento. A escolha de não exagerar na violência sanguinolenta permite que o espectador se concentre nas emoções dos personagens, tornando-se mais fácil para o público se identificar com a luta pela sobrevivência, enquanto o perigo se aproxima de forma inescapável por suas portas. Ademais, a produção se insere no contexto mais amplo de um fenômeno cultural que envolve a aversão a palhaços. Este medo, enraizado em experiências pessoais e na cultura pop, é visitado de forma criativa e inquietante no filme. A figura do palhaço, comum em festas e circos, é subvertida, transformando-se em um agente do terror.
O filme explora a ideia de que o verdadeiro terror pode surgir de lugares inesperados, questionando a noção de segurança no espaço familiar. O clima delineado pelas escolhas estéticas da equipe do diretor é favorável para o estabelecimento da sensação de horror. Não é nada sobrenatural, mas é completamente fantasmagórica a presença dos palhaços na casa dos jovens que batalham por suas respectivas sobrevivências. Ao longo de seus 81 minutos, Palhaço Assassino demonstra eficiência na condução de cenas noturnas, haja vista o assertivo trabalho de Robin Mortarotti na direção de fotografia, tanto das passagens internas do ambiente construído para ser a casa dos jovens incautos, quanto dos momentos de suspense e perseguição pelos arredores da região onde os palhaços tocam o terror. Pensado dentro da dinâmica de classificação, podemos definir este filme como um exemplar do slasher, mas daqueles tardios, posteriores ao advento dos medalhões do estilo que surgiram nos anos 1970 e 1980. Poucas mortes, atmosfera de medo e condução equilibrada, tudo em “assonância” com a trilha sonora composta por Michael Becker e Thomas Richardson.
Era um filme transmitido na televisão aberta dos saudosos e insanos anos 1990, onde as coisas aconteciam de maneira menos censurada que os dias atuais. Lamentável, por sua vez, é pensar que uma história tão aterrorizante não consegue ser mais tenebrosa que os seus desdobramentos relativamente recentes, quando acusações de abuso infantil foram exploradas pela mídia, levando ao cancelamento do cineasta Victor Salva. O filme explora temas de vulnerabilidade, medo e a perda da inocência, refletindo a estrutura típica de um thriller de terror, no entanto, o que deveria ser apenas ficção rapidamente se entrelaça com uma narrativa devastadora da vida real, quando se considera que Victor Salva, o diretor, foi condenado por crimes relacionados ao abuso infantil envolvendo o ator Nathan Forrest Winters, o irmão mais jovem do trio. O responsável chegou a ser preso, respondeu processo, teve sua história esmiuçada pela mídia sensacionalista, retornando ao esquema de produção com o primeiro Olhos Famintos, base que depois se tornou uma rentável franquia de terror. Como eu sempre relato em meus eventos sobre cinema, nalguns casos, a ficção consegue ser bem menos violenta e assustadora que a nossa dura realidade. Palhaço Assassino é um destes casos.
Palhaço Assassino (Clownhouse) — Estados Unidos, 1989
Direção: Victor Salva
Roteiro: Victor Salva
Elenco: Nathan Forrest Winters, Brian McHugh, Sam Rockwell, Michael Jerome West, Byron Weible, David C. Reinecker, Timothy Enos, Karl-Heinz Teuber, Frank Diamanti
Duração: 81 min