Home QuadrinhosArco Crítica | Pantera Negra #18 – 23: Legado (2000)

Crítica | Pantera Negra #18 – 23: Legado (2000)

Uma luta mortal pelo manto.

por Luiz Santiago
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A sensação que eu tive a ler este arco da revista Black Panther Vol.3 foi que o escritor Christopher Priest se empolgou demais com as brincadeiras em torno da saga do rei de Wakanda e resolveu focar apenas em um evento importante, enquanto elencava outras coisas para preencher espaço no meio do caminho, o que muitas vezes nos dá a impressão de que a narrativa não sai do lugar ou que está bastante confusa. E de fato, em diversos momentos da leitura eu me peguei tentando entender a entrada de alguns personagens no redemoinho de acontecimentos (Achebe, por exemplo) e o porquê da presença tão aparentemente épica e ao mesmo tempo tão vazia de significado dos Vingadores e de Deadpool na história.

Há uma enorme diferença de abordagem, ao menos na primeira metade do arco, em relação ao que tivemos na ótima saga anterior, Herói Local, ou mesmo na anterior a ela, a excelente Inimigo do Estado. Essa diferença está basicamente na maneira em como os personagens são inseridos na narrativa e passam a agir para resolver os problemas. Em Legado, custa um pouco para o leitor entender qual é o real problema. Porque de início temos a narração sempre cômica (mas aqui, ao menos no princípio, um tanto confusa e um tanto chateante) de Everett Ross e a “resolução” de seu afastamento dos assuntos ligados a Wakanda. A trama ali já nem é tão interessante e, embora eu goste muito do estilo de Kyle Hotz nos desenhos, não acho que foi uma boa escolha para esse título, nesse ponto da narrativa, pelo menos.

No cerne do texto de Christopher Priest temos um grande e importante ponto, algo que foi incorporado ao roteiro do filme de 2018, inclusive: a disputa e a perda do manto do Pantera Negra, que passa de T’Challa para N’Jadaka (Killmonger). Isso é algo verdadeiramente impactante, não é? Pois bem, o que o autor faz é deixar este como um evento notável do arco, mas ele não é o único e nem é trabalhado com verdadeiro afinco ou grandes detalhes. O autor até faz um ótimo contexto para a história, com T’Challa tentando colocar-se à frente de Killmonger, estatizando todas as empresas estrangeiras que estão em Wakanda e desmembrando todo o Conselho político da nação. Ou seja, ele se torna um ditador estatizador, o que causa uma derrocada econômica nos Estados Unidos e, numa segunda etapa, no restante do mundo, destruindo, no processo, a economia de Wakanda também. Mais uma coisa importante para a lista, certo? Sim. Só que o tratamento dado pelo autor para isso é, novamente, tangencial: sem muitos detalhes ou sem verdadeira exploração (foco) para o tema.

Pantera Negra e Cavaleiro da Lua entrando em um domínio perigoso.

Numa medida histórica, é até possível entender esse modelo de escrita — sem contar que o próprio estilo de Christopher Priest é assim mesmo, cheio de quebras onde se intercalam narração cômica, cenas cômicas, momentos sérios (cerne do grande drama) e momentos de intensa luta e/ou deslocamento de personagens pelos quadros, que são literalmente divididos em subcapítulos. Ligando isso à herança dos anos 1990 (fartamente perceptível na arte do arco, especialmente em Deadpool Vol. 3 – #44, edição que integra uma linha narrativa dessa fase intitulada Cat Trap), temos uma trama picotada e de difícil abstração geral. Isso, porém, está muito concentrado nas três primeiras revistas de Legado. A partir da edição #21, as coisas começam a ficar bem mais fluídas, os eventos passam a fazer mais sentido — ao menos em seu encadeamento — e a presença dos mais diversos personagens não nos trazem mais tantas interrogações.

Como eu citei logo no início, a presença do antigo vilão Achebe é algo estranho nessa história, assim como a presença dos Vingadores (numa formação bem chatinha, por sinal) e de Deadpool, embora este, por conta do humor absurdo, acabe não enjoando tanto o leitor, que pelo menos tem algo para rir com sua presença em cena. Vale também citar a presença ativa do Cavaleiro da Lua nessa história, com um importante papel de guia do Pantera pelo reino dos mortos. Eu gosto muito da jornada da dupla nesse mundo espiritual, mas não tanto da presença de Pesadelo (Nightmare/Edvard Haberdash) e nem da forma como ela acaba, num pulo rápido e simples demais que traz o Pantera de volta à realidade, acordado-o do coma causado pela luta que teve contra Killmonger e que acabou com Ross clamando o fim da batalha, passando automaticamente o manto do Pantera Negra para o vilão.

É claro que as coisas não se resolvem aqui. Malice (Nakia) é citada como tendo retornado e isso causa grande consternação a T’Challa (até demais, para o meu gosto), que espera nesta agente de Killmonger mais um grande problema para o país — lembrando que Wakanda não está indo tão bem economicamente, após as ações drásticas tomadas por T’Challa. Basicamente Legado é um arco de passagem, mostrando o surgimento de uma crise em várias camadas que deve, progressivamente, ser resolvida pelo verdadeiro Pantera Negra. No geral, é uma história divertida, cheia de ótimas cenas de ação, alguns exageros e um pouco de confusão, mas com um saldo final positivo e que não afasta do leitor a curiosidade para saber o que acontecerá a seguir.

Black Panther Vol 3 – #18 – 23 + Deadpool Vol. 3 – #44: Legacy (EUA, maio a agosto de 2000)
Roteiro: Christopher Priest
Arte: Kyle Hotz, Sal Velluto, Jim Calafiore
Arte-final: Eric Powell, Bob Almond, Jonathan Holdredge, Jimmy Palmiotti
Cores: Steve Oliff, Shannon Blanchard
Letras: Paul Tutrone, Sharpefont & PT, Chris Eliopoulos
Capas: Sal Velluto, Bob Almond, Tom Smith, Jim Calafiore
Editoria: Tom Brevoort, Mike Marts
168 páginas

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