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Crítica | Paradise Police – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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É raro encontrar filmes e séries produzidos hoje em dia que realmente rasgam o manual do politicamente correto. O mais famoso exemplo é, claro, South Park, que continua sabendo fazer sua crítica ácida ironizando praticamente tudo, por mais sagrado e tabu que possa ser. Se a criação de Trey Parker e Matt Stone preza pela inteligência com que lida com as mais diversas situações, Paradise Police, que tenta seguir a mesma veia, preza pelo que os americanos chamam de shock value, ou seja, por explorar ao máximo piadas chocantes e exageradas que, se são realmente despidas da correção política, pecam por serem, talvez, vazias demais.

Mas isso não quer dizer que, se o espectador souber deixar em xeque suas sensibilidades, a nova série animada adulta da Netflix não é engraçada, pois é. E muito. Dentro do espírito correto, é impossível não gargalhar diante dos absurdos que seus criadores Waco O’Guin e Roger Black desfilam diante de nossos olhos, como bacanais caninos explícitos, um caso de amor (também explícito) estilo Atração Fatal entre um policial e seu carro (sim, isso mesmo), uma receita de frango frito com heroína que é o sucesso da cidade e uma força-tarefa composta de irmãos siameses conectados pela cabeça, Stephen Hawking e um comediante e, claro, todo tipo de situação desconfortável ao extremo, normalmente relacionado com sexo, drogas e escatologia.

O parágrafo acima já deixa bem claro que crianças devem permanecer longe da série, assim como qualquer adulto que fica revoltado com esse tipo de comédia e não quer entender as ironias e o uso de exageros exatamente para criticar os problemas de nossa sociedade. Todos os demais provavelmente apreciarão – até certo ponto – a completamente desenfreada e enlouquecida abordagem dos mais diversos temas polêmicos que fariam até os garotos de South Park ou a família Simpson corar de vergonha.

Tudo se passa na cidadezinha de Paradise, mais especificamente em sua delegacia, com o protagonista sendo Kevin Crawford (voz de David Herman), filho do chefe de polícia local Randall Crawford (Tom Kenny). Quando mais jovem, ele “inadvertidamente” arrancou fora as “bolas” do pai com dois tiros (e a cena aparece em detalhes dolorosos logo no começo do primeiro episódio) e, agora, um adulto nerd levemente fora do peso, ele entra na força policial a contragosto do pai em razão da influência da mãe, Karen (Grey Griffin), que, divorciada, é prefeita. Além dos Crawford, a série conta, ainda, com uma esquipe de policiais que são estereótipos ambulantes: Dusty Marlow (Dana Snyder) é um obeso mórbido efeminado que só pensa em seus gatos e, claro, em comer; Gina Jabowski (Sarah Chalke) é uma gostosona caipira ultra-violenta com uma tara incontrolável por obesos, o que a leva a assediar Dustin constantemente; Gerald “Fitz” Fitzgerald (Cedric Yarbrough) é meio-índigena, meio-negro e tem extremo PTSD a ponto de fugir de todas os momentos de ação; Stanley Hopson (também Snyder) é um (extremamente) idoso policial que só fala de suas experiências sexuais do passado e, finalmente, Bullet (Kyle Kinane) um cão falante depravado e viciado em todo tipo de drogas.

Estruturalmente, os episódios são substancialmente auto-contidos e lidam com seus bizarros personagens centrais em situações completamente constrangedoras e exageradas. Permeando a narrativa integral e dando uma leve impressão de continuidade, há a história da introdução de uma nova droga na cidade: a metanfetamina “argyle“, que tem esse nome – que significa aquela padronagem quadriculada e colorida de alguns tecidos, derivada dos tartã escoceses – logicamente para estabelecer uma brincadeira com a metanfetamina azul de Breaking Bad. Não é, porém, uma linha narrativa muito desenvolvida, servindo apenas de trampolim para alguns episódios e para o final aberto da temporada.

Sem muita saída e variedade, os roteiros começam surpreendentes pela pegada explícita de seus temas que, depois, como tudo que é exagerado, perde a força quase que totalmente. Se ver Kevin fazer cunilingus com o “carro” de sua vida é hilário e nojento ao mesmo tempo, ver Dusty, mais para a frente, comer um sanduíche de esperma já não tem o mesmo impacto. Mas há um esforço – que nem sempre dá certo – para trazer novidades dentro de temas que os próprios criadores limitaram em razão das características preponderantes de cada personagem.

Além disso, o texto é simplista e subserviente às imagens que nunca se contentam em qualquer coisa próxima da discrição. A crítica social na base da psicologia inversa está presente, mas ela é claramente menos importante do que o impacto de se ver, por exemplo, o pênis enrugado de Hopson ou as “bolas” inchadas de Bullet ou diversas inserções anais de todo o tipo (aliás, o símbolo da delegacia de polícia é um ânus…). Com uma animação no estilo Uma Família da Pesada, a caricatura é bem utilizada e ela funciona em sua grande parte diante da “pequenez” das sequências de ação que acabam não exigindo muito da arte.

Paradise Police, feita a ressalva de que é uma série adulta politicamente incorreta de pegada explícita, diverte quem esperar apenas bobagens atrás de bobagens para soltar umas gargalhadas aqui e ali e ficar constrangido praticamente 100% do tempo. É como uma Loucademia de Polícia, só que sem censura e sem papas na língua. Atrairá espectadores na mesma proporção que os afastará, mas esse é o espírito.

Paradise Police – 1ª Temporada (Idem, EUA – 31 de agosto de 2018)
Criação: Waco O’Guin, Roger Black
Direção: Matt Garofalo, Brian Mainolfi, Lauren Andrews, Fill Marc Sagadraca
Roteiro: Roger Black, Waco O’Guin, Aaron Lee, Rocky Russo, Jeremy Sosenko, Amy Pocha, Seth Cohen, Michael Rowe
Elenco (vozes originais):  David Herman, Tom Kenny, Sarah Chalke, Kyle Kinane, Cedric Yarbrough, Dana Snyder, Grey Griffin, Waco O’Guin, Roger Black
Duração: 27 a 29 minutos (10 episódios)

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