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Crítica | ParaNorman

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Zumbis. Animação em stop motion. Horror e comédia. Bullying. Julgamento e compreensão. Em seu segundo longa-metragem, o Estúdio Laika (criador de Coraline e o Mundo Secreto) apresentou-nos um mundo sombrio e cheio de surpresas no roteiro além de uma temática que, embora não fosse completamente original em seu “gênero temático” — no mesmo houveram pelo menos duas muito famosas “animações de terror”, Hotel Transilvânia e Frankenweenie –, foi capaz de fugir do básico e apresentar uma história divertida, criativa e esteticamente admirável.

O roteiro do longa foi escrito por Chris Butler, que também assina a direção, ao lado de Sam Fell. O primeiro já tinha feito parte do departamento criativo de filmes como Tarzan II, A Noiva Cadáver e Coraline e o Mundo Secreto. O segundo dirigiu Por Água Abaixo e O Corajoso Ratinho Despereaux. Certamente um dos ingredientes principais para a riqueza de ParaNorman tenha surgido dessas experiências prévias de ambos os seus diretores, além, é claro, da liberdade artística e compromisso técnico invejável do estúdio Laika, que não só permitiu os mais diversos usos de “violência” em uma animação de terror como também não barrou a colocação de um personagem gay na história, revelado ao final com ótimo efeito cômico (no sentido positivo, claro) e posto com toda a naturalidade do mundo.

Em entrevistas, Chris Butler disse diversas vezes que além de fazer uma larga homenagem aos filmes de terror e a alguns clássicos do cinema como O Mágico de Oz ou diretores como George A. Romero, ele quis abordar primariamente a questão do julgamento à primeira vista. Seu texto torna os personagens e o público cúmplices de agressões em nível moral e físico. Uma ideia inicial é criada sobre cada um dos personagens, mas ela já vem acompanhada de um valor maior. É a armadilha do roteiro para o público. Aos poucos, vamos percebendo que tanto na maldade quanto na bondade existe alguma coisa a mais a ser considerada.

Despolarizar a visão clichê da luta entre o bem e o mal (tema já abordado pelo estúdio em Coraline) foi um baita acerto. A partir daí, o texto abre espaço para surpresas — vejam que eu não uso a palavra ‘susto’ porque eles realmente não existem no longa — e para as constantes críticas sociais quando se trata de tramas com zumbis. A bestialização da massa, a discussão sobre o motivo/necessidade prática e estratégica de cometer determinado ato ou a relação entre consumo e interesses pessoais são temas explorados com bastante humor, fazendo referências a filmes como O Caçador de Bruxas (1968), O Jovem Frankenstein (1974) — a brincadeira com este filme está já na própria concepção de Norman — Halloween (1978) e Dias dos Mortos (1985).

Mesmo que não chegue perto de Coraline em termos de trabalho técnico, ParaNorman não faz feio e honra com todas as cores e quadros o gênero que homenageia. O verde (que aqui assume o sentido de doença, podridão) ganha destaque máximo, acompanhado do amarelo e de cores pardas e difusas, além de um ambiente decrépito, característica que vai do rosto dos personagens à constituição da cidade. Também é importante citar o ótimo trabalho realizado no período de manifestação da bruxa ainda em estado etéreo. Todavia, aponto este como o momento mais fraco e menos inventivo do longa em termos de roteiro, com exceção às cenas que acontecem em paralelo, como o encontro de Norman com os zumbis ou o discurso que a irmã dele faz em frente à população da cidade.

Com ótimas atuações (destaque para Kodi Smit-McPhee como Norman e John Goodman como Sr. Prenderghast), trilha sonora perfeitamente encaixada à temática da fita e grande criatividade na mistura de humor e horror, ParaNorman é uma grande e agradável surpresa. O filme tem suas falhas, mas elas não são tão grandes a ponto de desvalorizar a sessão e, em caso remoto de isso acontecer, é certo que o espectador irá pelo menos gostar das ótimas sequências de abertura e de créditos finais, com fontes que lembram os mais diversos filmes de terror. De uma forma ou de outra, a sessão de ParaNorman é uma grande, medonha e divertida aventura que o espectador deve ver até o fim, porque tem uma pequena surpresa técnica durante os créditos finais o aguardando.

ParaNorman (EUA, 2012)
Direção: Chris Butler, Sam Fell
Roteiro: Chris Butler
Elenco (vozes originais): Kodi Smit-McPhee, Tucker Albrizzi, Anna Kendrick, Casey Affleck, Christopher Mintz-Plasse, Leslie Mann, Jeff Garlin, Elaine Stritch, Bernard Hill, Jodelle Ferland
Duração: 92 min.

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