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Crítica | Paris, Te Amo

por Ritter Fan
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Paris, Te Amo é o primeiro exemplar do projeto Cities of Love (Cidades do Amor, em tradução livre), idealizado pelo produtor, roteirista e diretor francês Emmanuel Benhiby (responsável somente pelas “transições”, no filme). Não só por ele ser francês, mas também pela reputação da cidade, Paris foi a escolha óbvia para se iniciar essa possível franquia que tem como objetivo contar histórias de amor passadas no lugar escolhido pelas lentes de um grupo muito plural de diretores e contando com a presença de um igualmente plural elenco, com o objetivo final de se homenagear a cidade objeto da antologia.

E Benhiby conseguiu algo inacreditável, juntando, ao todo, 22 diretores de variadas nacionalidades, incluindo grandes nomes do meio como Alfonso Cuarón, os Irmãos Coen, Gus Van Sant, Alexander Payne e até o brasileiro Walter Salles em uma sucessão de 18 brevíssimos curtas, cada um em um arrondissement de Paris (são 20 e eram 20 curtas, mas dois foram cortados da versão final). Da mesma forma, há atores consagrados como Steve Buscemi, Juliette Binoche, Nick Nolte, Ben Gazzara, Elijah Wood e Gérard Depardieu contracenando com outros bem menos conhecidos ou até estreantes.

Era de se esperar, assim, uma espécie de gangorra de qualidade na medida em que os curtas vão passando, mas não é isso que vemos em Paris, Te Amo. É impressionante notar como, em linhas gerais, absolutamente todos os 18 curtas presentes na fita contam bons fragmentos de histórias. Se há alguma oscilação, é entre o ótimo e o bom, nunca abaixo dessas duas gradações. E não esperem somente o óbvio. Ainda que haja muitas histórias de amor mais simples em termos narrativos, os diretores e roteiristas se esmeraram na criatividade, transitando entre vários gêneros, incluindo o surreal, como em Porte de Choisy, por Christopher Doyle; a comédia como em Tuileries, pelos Irmãos Coen; o terror como em Quartier de la Madeleine, por Vincenzo Natali; a fantasia como em Place des Victoires, por Nobushiro Suwa e o sobrenatural como Père-Lachaise, por Wes Craven. Esses são apenas alguns excemplos da pluralidade dos trabalhos e da surpresa que representa assistir Paris, Te Amo sem conhecimento prévio dos curtas que o compõe. A cada momento vemos rostos familiares e, para o cinéfilo, estilos de direção familiares, como o plano-sequência sem cortes de Alfonso Cuarón em Parc Monceau e o plano médio carregado de diálogos intimistas de Alexander Payne em 14e Arrondissement.

Ainda que as transições entre grupos de episódios se esforcem em mostrar a beleza da cidade, com uma fotografia “cartão postal”,  os curtas em si, em sua grande maioria, não recorrem à essa saída fácil. Não há necessidade disso e seus diretores e roteiristas sabem muito bem. Quando há o uso de paisagens e monumentos, como em 14e Arrondissement, de Payne,  o uso é orgânico à narrativa, tornando-se elemento importante para o desenvolvimento do personagem principal, no caso Carol (Margo Martindale), que narra o episódio lendo uma redação em francês sobre “suas férias em Paris” com um sotaque americano tenebroso, mas hilário.

Com isso, Paris, Te Amo foge à rotulação simplista de “filme-homenagem”. Sim, é evidente que a homenagem está lá. É todo o objetivo maior do projeto Cities of Love. Mas, com rédeas quase livres para seus diretores e roteiristas criarem basicamente o que querem, o resultado final é um exercício de estilo e um prazeroso passeio pela cidade. E isso se reflete também nas atuações, com todos os atores – conhecidos ou não – muito confortáveis em seus diminutos papeis, alguns particularmente complicados, como o de Seydou Boro em Place de Fêtes (dirigido por Oliver Schmitz), que tem que demonstrar amor unicamente por intermédio de seus olhares, sem nem poder se movimentar em tela.

Paris, Te Amo é um excelente começo para um ambicioso projeto que merece todo o apoio da plateia. É uma forma de se ver muita coisa diferente em um curto espaço de tempo, quase que como um menu-degustação do trabalho dos envolvidos. Santé!

Paris, Te Amo (Paris, Je T’Aime, França/Liechtentstein/Suíça/Alemanha – 2006)
Direção: Olivier Assayas, Frédéric Auburtin, Emmanuel Benbihy, Gurinder Chadha, Sylvain Chomet, Ethan Coen, Joel Coen, Isabel Coixet, Wes Craven, Alfonso Cuarón, Gérard Depardieu, Christopher Doyle, Richard LaGravenese, Vincenzo Natali, Alexander Payne, Bruno Podalydès, Walter Salles, Oliver Schmitz, Nobuhiro Suwa, Daniela Thomas, Tom Tykwer, Gus Van Sant
Roteiro: Emmanuel Benbihy, Bruno Podalydès, Paul Mayeda Berges, Gurinder Chadha, Gus Van Sant, Joel Coen, Ethan Coen, Walter Salles, Daniela Thomas, Christopher Doyle, Rain Li, Gabrielle Keng, Isabel Coixet, Nobuhiro Suwa, Sylvain Chomet, Alfonso Cuarón, Olivier Assayas, Oliver Schmitz, Richard LaGravenese, Vincenzo Natali, Wes Craven, Tom Tykwer, Gena Rowlands, Alexander Payne, Nadine Eïd
Elenco: Florence Muller, Bruno Podalydès, Leila Bekhti, Cyril Descours, Marianne Faithfull, Elias McConnell, Gaspard Ulliel, Steve Buscemi, Julie Bataille, Axel Kiener, Catalina Sandino Moreno, Li Xin, Barbet Schroeder, Miranda Richardson, Sergio Castellitto, Leonor Watling, Juliette Binoche, Willem Dafoe, Hippolyte Girardot, Yolande Moureau, Paul Putner, Nick Nolte, Ludivine Sagnier, Magie Gyllenhaal, Lionel Dray, Aïssa Maïga, Seydou Boro, Fanny Ardant, Bob Hoskins, Elijah Wood, Olga Kurylenko, Emily Mortimer, Rufus Sewell, Natalie Portman, Melchior Derouet, Gena Rowlands, Ben Gazzara, Gérard Depardieu, Margo Martindale
Duração: 120 min.

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