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Crítica | Pastor de Almas

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

O último filme protagonizado por Chaplin ao lado de Edna Purviance, embora seja um curta-metragem, já conta com a estrutura dramática de suas obras posteriores. De fato, o cuidado maior com a trama já vinha se apresentando nos últimos anos de seu trabalho. A narrativa passou a seguir uma linha melhor definida e, ao longo dela, as piadas são inseridas de acordo, trazendo uma maior coesão para o filme como um todo.

É essa coesão que logo salta aos olhos em Pastor de Almas. Nele, acompanhamos Carlitos, um prisioneiro recém escapado da prisão que se disfarça como um pastor. Em meio a sua fuga, ele é confundido pelos moradores da cidade, sendo considerado o pastor que logo ali chegaria. Por meio desta simples premissa, Chaplin consegue nos prender cena após cena ao indagarmos em quais possíveis situações ele poderia se meter. As risadas aqui são espontâneas, ao passo que as gags utilizam de situações mais do que comuns para criar humor. Aqui, devo destacar a incrível sequência passada na igreja, na qual Charlie faz uma representação de Davi e Golias. Embora exista ali uma plateia em cena, o ator/diretor representa para nós, espectadores, com seu olhar virado diretamente para a câmera, como se nós próprios estivéssemos dentro do filme. É uma sutil quebra da quarta parede que mais do que se encaixa naquele contexto.

Tanto nesta ocasião, como no restante da projeção, é notável a pequena quantidade de cartelas presentes, que se resumem a uma explicação do realmente necessário. Toda a trama é construída através da precisa direção de Chaplin, além de todo seu carisma, que tiram do ex-detento qualquer aspecto negativo. Assim como no restante de sua filmografia, não é preciso muito tempo para logo nos enfatuarmos a sua figura, contribuindo ainda mais para a imersão já solidificada pela simples e bem construída narrativa, que nos leva de uma fuga no trem até uma leve paixão rapidamente estabelecida. Estamos, afinal, nesta última parceria em cena (salvo posteriores pontas) entre Edna e Charlie, química que sempre funciona pela mera troca de olhares.

O foco no romance, contudo, não ocupa grande parte da trama, que logo nos resgata para o ponto onde fomos introduzidos. Há um caráter cíclico na obra, que novamente nos remete à coesão que jamais é quebrada. Desta forma, Chaplin ainda insere alguns elementos de western, formando uma efetiva gag que certamente trará risadas aos conhecedores do gênero. Através dessa bem colocada inserção, o curta (ou média metragem, dependendo da forma de classificação) se encerra, sem cansar a audiência com cansativas repetições.

Pastor de Almas é uma obra bem conduzida, contando com todos os elementos que esperamos em um filme de Charlie Chaplin – risadas, romance e toques de crítica à sociedade. Acompanhando essa cuidadosa mistura, temos a trilha composta pelo próprio diretor, que ainda conta com uma música cantada, I’m Bound for Texas, presente na primeira parte da trama. Seguindo uma linha de raciocínio bem construída, o curta consegue, sem dificuldade, cativar sua audiência, que, quando percebe, já está diante das palavras The End.

Pastor de Almas (The PilgrimEUA, 1923)
Direção: Charlie Chaplin
Roteiro: Charlie Chaplin
Elenco: Edna Purviance, Charles Chaplin, Syd Chaplin, Mai Wells, Dean Riesner, Charles Reisner, Tom Murray
Duração: 40 min.

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