Neste compilado, trago as críticas para as duas primeiras aventuras da subsérie Patrulha Estelar, formada por Mickey e Pateta. Concebida pelo roteirista Júlio de Andrade e pelo desenhista Moacir Rodrigues Soares, a primeira história dessa saga foi publicada nas páginas da revista Mickey 318, em abril de 1979. Você já leu essas histórias de origem ou qualquer outro capítulo das andanças da Patrulha Estelar? O que acham desse conceito sci-fi envolvendo Mickey e Pateta? Deixe o seu comentário ao final da postagem!
.
A Revolta dos Robôs
Vencedora do prémio de Melhor História em Quadrinhos, no 7º Prêmio Abril de Jornalismo (1982), A Revolta dos Robôs também deu início a uma subsérie muito bacana na Revista Mickey, que é a jornada da Patrulha Estelar. As histórias desta subsérie se ancoram em narrativas de ópera espacial e mostram os amigos Mickey e Pateta (às vezes acompanhados de outras figuras importantes de seu Universo) vivendo os mais diversos perrengues no espaço. Aqui sempre encontramos algum tipo de linha moral nos feitos dos personagens, que às vezes precisam salvar alguém, ajudar um planeta ou alguma população de um determinado lugar ou ainda batalhar contra os inimigos da paz. O nome “Patrulha Estelar” é bem condizente com a proposta que os autores tiveram para essas histórias, e na presente abertura, vemos Mickey e Pateta encontrando-se com um náufrago espacial aterrorizado pelos robôs de seu planeta de origem.
Aqui também aparece pela primeira vez, nos quadrinhos Disney, o robozinho PRK-20, e é ele quem gera a situação de medo que traz à tona a história do homem resgatado de uma jangada espacial à deriva. O escritor Júlio de Andrade se baseou em muitos ingredientes da literatura de Asimov e flertou com diversas histórias onde temos robôs e computadores se rebelando contra os humanos, além, é claro, que trazer à discussão o quanto a tecnologia pode se desenvolver e tornar-se perigosa para a nossa espécie. Pensando nisso mais de 40 anos depois que a história foi lançada (escrevo esta crítica em julho de 2022), há uma certa ironia na formulação das respostas para as indagações que o texto propõe nas entrelinhas, e mesmo com a mudança de perspectiva entre as épocas, os questionamentos nunca deixam de ser importantes.
A ideia geral do texto, porém, é mais interessante do que as coisas que acontecem em seu desenvolvimento, principalmente no período em que Mickey e Pateta passam no planeta do náufrago, tentando lutar contra os robôs rebeldes. A parte do Pateta acabou sendo mais divertida porque ele e suas trapalhadas ajudaram-no a se ver livre da maioria das investidas das máquinas e ainda traz uma parcela da resolução para o caso. Já a parte do Mickey não apresenta nada de muito chamativo, e o fato de os robôs só fazerem ruídos estranhos também não ajuda a criar uma conexão maior com o leitor. A apresentação da Patrulha Estelar é interessante, e mesmo não crescendo tanto quanto propõe em seus quadros iniciais, termina fechando coerentemente as janelas que abre ao longo de sua narrativa.
A Revolta dos Robôs — Brasil, abril de 1979
Código da História: B 780359
Publicação original: Mickey 318
Editora original: Abril
Outras publicações: Disney Especial (1ª Série) 87, Disney Especial Reedição 82, Almanaque Disney 372, Mega Disney 3
Roteiro: Júlio de Andrade
Arte: Moacir Rodrigues Soares
Capa original: Moacir Rodrigues Soares
21 páginas
.
Encrencas Cinematográficas
História divertida, cheia de excelentes referências ao cinema e com uma reflexão muito boa a respeito do fazer cinematográfico e das possibilidades que essa arte pode ter, inclusive para pessoas com más intenções, como é o caso do tal Superprodutor, o vilão desta saga. A trama já começa com um grande ponto de interrogação, uma boa abertura para intriga. Mickey e Pateta são despertados de um sono estratégico, no qual foram colocados durante um longo salto espacial. Ao acordarem, percebem que o Pateta fez algo bem estúpido (o que não é novidade): ligou os computadores à torradeira da nave. E para piorar, Minnie e Clarabela simplesmente desapareceram. É uma boa construção de problemática, assinada por Gérson Luiz Borlotti Teixeira, deixando-nos curiosos pelo destino das personagens desaparecidas e, mais ainda, pelas claquetes gigantescas que aparecem próximas a um planeta roxo (Roli-U-D) que orbita a região da Galáxia onde eles foram parar.
Cenas do cinema silencioso, presença de um Charles Chaplin (Carlitos) e cenas típicas de faroeste fazem parte da trama, que aglutina todos os problemas em torno do cinema. O início da ação dos viajantes, ao lado do robozinho PRK-20, se parece com a que tivemos em A Revolta dos Robôs, mas o texto dinamiza o máximo que pode a movimentação e os estímulos do grupo e em torno dele, fazendo com que a motivação do vilão e todos os outros personagens (atores, em um grande filme imaginado por um Superprodutor oculto — impossível não pensar na figura de Deus e no mistério da vida, não é mesmo?) acrescentem boas reflexões sobre diversos temas. Aqui podemos falar a respeito da vaidade de alguns; sobre escolher algo ruim para a vida apenas por questões de ego e sobre a manipulação de algo bom (o cinema) para proveito explorador próprio, como o Superprodutor faz aqui, escravizando pessoas em minas de cobalto ao hipnotizá-las e fazer com que acreditem que são atores num filme com essa temática.
É uma pena que a história seja curta (bem, para a ótima premissa que possui, claro) e, por isso, parece corrida em alguns pontos de seu desenvolvimento. É nessas horas que eu grito internamente: “por que a Abril não estabeleceu um maior número de páginas para grandes aventuras dos quadrinhos da Disney produzidos no Brasil?”. Uma história como esta se beneficiaria bastante de um número maior de páginas, dez a mais, que fosse, especialmente para aprimorar o caminho até a resolução e alguns encontros no miolo da história. Em tempo: há algo aqui que não posso deixar de citar, antes de finalizar o texto. A arte e a diagramação de Moacir Rodrigues Soares são absolutamente maravilhosas, com perspectiva, expressões faciais dos personagens e movimentação extremamente charmosas e dinâmicas. Coisa fina, mesmo!
Encrencas Cinematográficas — Brasil, julho de 1979
Código da História: B 780413
Publicação original: Mickey 321
Editora original: Abril
Outras publicações: Disney Especial (1ª Série) 75, Série Ouro Disney 2, Disney Especial Reedição 71, Série Ouro Disney Reedição 3, Aventuras Disney 1, Disney Especial 194, Especial Série Ouro Disney 1
Roteiro: Gérson Luiz Borlotti Teixeira
Arte: Moacir Rodrigues Soares
Capa original: Moacir Rodrigues Soares
18 páginas