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Crítica | Patton, Rebelde ou Herói?

por Ritter Fan
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Now I want you to remember that no bastard ever won a war by dying for his country. He won it by making the other poor dumb bastard die for his country.
– Patton, George S.

Não é sem querer que os cinco ou seis minutos iniciais de Patton – Rebelde ou Herói?, em que o famoso general vivido por George C. Scott faz um discurso motivacional em frente a uma gigantesca bandeira dos EUA, é o mais conhecido e lembrado momento desse longa de Franklin J. Schaffner, com roteiro de Francis Ford Coppola e de Edmund H. North. Trata-se não só de uma originalíssima forma de dar partida a um filme, como acaba sendo uma perfeita maneira de se apresentar o protagonista, com todas as suas idiossincrasias e trejeitos, já estabelecendo não só o tom da performance de Scott, como também do que viria depois.

No entanto, a grande verdade é que esse início inusitado e potente é praticamente o único momento ao longo dos 172 minutos de projeção em que o espectador é brindado com uma pausa para observar com calma o personagem histórico sob as lentes razoavelmente satíricas de Schaffner, que retrata Patton muito mais como um bufão orgulhoso que encara a guerra como uma espécie de competição que ele precisa “ganhar” do que como um grande e meticuloso estrategista, provavelmente fruto da visão do general Omar N. Bradley, personagem vivido por Karl Malden que, na vida real, era ferrenho opositor de Patton e autor de uma das biografias que deram base ao roteiro adaptado. Todo o restante do filme, que é um recorte da vida do general George S. Patton durante a Segunda Guerra Mundial, sofre muito com um estranho picotamento narrativo que, no lugar de realçar os pontos positivos e negativos do protagonista, acaba afetando a fluidez da história e tornando o filme extremamente episódico.

A ação começa no norte da África com o marechal de campo alemão Erwin Rommel (Karl Michael Vogler) sendo apresentado quase como sendo o grande opositor de Patton, somente para esse ponto de vista ser esquecido quase que completamente, com a narrativa deslocando-se para a Sicília, depois Londres e, finalmente, pela França. Em nenhum desses pontos geográficos, há realmente uma história sendo contada que desenvolva Patton como alguém que seja mais do que uma sucessão humana de cavalices que, claro, levam ao seu autosabotamento, ameaçando sua carreira e até sua permanência na guerra. Teria sido mais interessante, portanto, que a fita tivesse abordado um recorte ainda menor, talvez amplificando seu embate com as tropas de Rommel  (e, com isso, justificando a existência da troca de ponto de vista para o alemão em alguns momentos), ou, melhor ainda, detalhando sua controversa campanha pela Sicília em uma literal competição não com o inimigo, mas sim com o general britânico Bernard Montgomery (Michael Bates), que é o ponto de ruptura com o citado general Bradley de Malden, que passa a ver Patton como um maníaco obsessivo e perigoso para os esforços de guerra e que funciona como um assustador retrato da realidade de conflitos bélicos em muitos casos.

Sem dúvida alguma, porém, George C. Scott brilha como Patton, mesmo que sua voz grave não combine em nada com a voz do personagem verdadeiro (vale muito ouvir um discurso do Patton histórico e comparar), o que de forma alguma é um reclamação, apenas uma constatação. Onde quer que Scott esteja e seja com quem ele divida a tela, o ator comanda para si todos os holofotes com uma construção de um homem orgulhoso, irredutível, teimoso, grosseiro ao extremo, mas brilhante, algo que ele tira de letra mesmo considerando um trabalho de maquiagem que, pessoalmente, considero intrusivo e que distrai o espectador, sendo completamente desnecessário, na verdade. Com seu peito estufado, sempre de capacete e chicote, com uniforme impecável, o Patton de Scott, por mais satírica que a abordagem acabe sendo, carrega o filme nas costas e torna a passagem de tempo toda recortada algo perfeitamente palatável, com sua espiritualidade e crença em reencarnação levando a belos e líricos momentos de contemplação. Qualquer outro ator provavelmente teria deixado a fadiga da narrativa tomar conta do espectador lá pela metade do filme.

A fotografia de Fred J. Koenekamp, que capturou a obra em gloriosos 65 mm, por seu turno, foi capaz de transportar a imponência de Patton para a telona, trabalhando um filtro quase completamente saturado e com muita luz, com imagens do teatro de guerra filmados em majestosos planos gerais extremamente complexos que, talvez justamente por isso, sejam proporcionalmente raros ao longo das mais de 3 horas de filme. Igualmente poderosa é a trilha sonora composta por Jerry Goldsmith que trabalha uma temática bélica e militarística, mas com uma abordagem que mescla esses aspectos com as características espirituais de Patton, resultando em um belo leit motif para o protagonsita.

Se a fidelidade da retratação de Patton no filme é uma questão interpretativa e biográfica que foge ao objeto da fita, o trabalho de George C. Scott é realmente memorável, com uma abertura genial em sua originalidade e capacidade de síntese. Mesmo que o roteiro não consiga manter a necessária coesão narrativa, pecando por trazer quase que esquetes sobre o personagem-título, Patton, Rebelde ou Herói? acaba deixando uma impressão duradoura em quem o assiste, mesmo que o que fique de verdade com o espectador seja Scott literalmente mastigando o cenário.

Patton, Rebelde ou Herói? (Patton, EUA – 1970)
Direção: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Francis Ford Coppola, Edmund H. North (baseado em obras de Ladislas Farago e Omar N. Bradley)
Elenco: George C. Scott, Karl Malden, Michael Bates, Edward Binns, Lawrence Dobkin, John Doucette, James Edwards, Frank Latimore, Richard Münch, Morgan Paull, Siegfried Rauch, Paul Stevens, Michael Strong, Karl Michael Vogler, Stephen Young, Peter Barkworth, John Barrie, David Bauer, Gerald Flood, Jack Gwillim
Duração: 172 min.

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