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Crítica | Pecado Original

Tão sensual, quanto novelesco.

por Leonardo Campos
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Recebido com muito desagrado por boa parte da crítica em sua ocasião de lançamento, Pecado Original parte de uma boa ideia e possui uma atmosfera bastante sensual e atraente, perdida em meio ao tom novelesco que particularmente, não me incomodou, mas prejudicou o tom cinematográfico da produção. Estilização, cenas tórridas de sexo e a sensualidade da dupla protagonista não foram suficientes. Após duas décadas de sua exibição nos cinemas, o filme não envelheceu, continua intacto em sua estrutura um pouco brega, mas convenhamos, um deleite com suas reviravoltas rocambolescas e estabelecimento de um dos arquétipos mais desejados pela indústria cinematográfica há eras: a mulher sedutora, voluptuosa e fatal, disfarçada por meio de representações que engendram as convenções sociais. Ela é a bela e recatada dos bailes e da vida pública, mas aparentemente uma criminosa vil por detrás das cortinas. Acompanhada pelos acordes da bela trilha sonora de Terence Blanchard, a protagonista/antagonista desse enredo de mudanças de perspectivas vertiginosas não está em cena pra brincadeira.

Sob a direção de Michael Cristofer, também autor do roteiro, inspirado em um romance de Cornell Woolrich, acompanhamos uma esteticamente refinada história sobre Luis Vargas (Antonio Banderas), homem poderoso, dono de uma empresa exportadora de café em Cuba. Entusiasmado com a ideia de deixar um herdeiro no mundo para levar adiante o seu império, ele encomenda uma noiva estadunidense, Julia Russell (Angelina Jolie), uma mulher que ele conhecer por meio de troca de cartas. Vargas não almeja, inicialmente, o amor romântico. Ele apenas quer o básico dela, uma relação de trocas, no entanto, acaba se apaixonando e juntos, protagonizam cenas de erotismo mordazes, com bastante entrega da dupla de atores que independentemente da qualidade dramática da história, cumpre devidamente os seus papéis.

O problema é que mais adiante, ela desaparece com a sua fortuna e na cruzada em busca da vigarista de olhar magnético e sensual, Vargas se enche de ira e sofre os diabos para conseguir ter a sua honra de volta. Mistérios e reviravoltas demarcam a narrativa que pode nos enganar inicialmente e apresentar falsas informações sobre Julia. Ou não. Será preciso assistir para saber, caro leitor, afinal, há a possibilidade de a moça não ser quem ela diz que é, mas alguém com chamada Bonny Castle? Ela caminha sozinha em sua suposta trajetória errante ou possui apoio de uma pequena rede criminosa? Muitas são as perguntas, todas respondida até a chegada dos créditos de encerramento. Arrastada em algumas passagens, a trama já trabalhada por François Truffaut em A Sereia do Mississipi investe em muitas manobras labirínticas e bruscas, recursos para parecer mais complexa do que o enredo realmente é. Faltou aos realizadores uma enxugada nas longas sequências de pouco acréscimo ao contexto geral, mas até nós ficamos deslumbrados com as imagens oriundas do belo design de produção de David J. Bomba, gerenciador dos cenários de Beth A. Rubino, arquitetura envolvente e requintada.

Talvez por esses motivos supostos por aqui, a produção tinha cenas com aspectos visuais tão belos que preferiu deixar mais material do que deveria na montagem final. Com diálogos razoáveis e 116 minutos que poderiam muito bem ganhar uma redução para ajudar no desenvolvimento mais orgânico da história, Pecado Original traz uma mulher arquetípica que não dialoga praticamente em nada com a figura que se correspondia com Vargas. A descrição é diferente, o comportamento diverge do esperado, alguém para se desconfiar desde o início, mas a luxúria falou mais alto e os atributos da personagem de Angelina Jolie, fotografada sensualmente por Rodrigo Pietro e trajada pelos figurinos de Donna Zakowska impediram que o nosso herói saísse da névoa do desejo e enxergasse os problemas que demarcariam para sempre a sua vida. Ademais, Thomas Jane participa da história como Billy, um homem sem escrúpulos que pode estar por detrás das iniciativas audaciosas e ambivalentes da enigmática mulher fatal. Por fim, um filme injustamente destroçado, merecedor, talvez, de uma nova chance?

Pecado Original (Original Sin | EUA – França, 2001)
Direção: Michael Cristofer
Roteiro: Michael Cristofer (Baseado na obra homônima Cornell Woolrich)
Elenco: Antonio Banderas, Angelina Jolie, Thomas Jane, Jack Thompson, Gregory Itzin, Allison Mackie, Joan Pringle, Cordelia Richards, James Haven, Pedro Armendáriz Jr.
Duração: 116 min.

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