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Crítica | Peninha: Pena das Cavernas

A Pré-História do Peninha.

por Luiz Santiago
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Criado pelo roteirista Marcelo Barreto de Lacerda e pelo desenhista Verci de Mello, o Pena das Cavernas é mais uma faceta do Peninha, agora vivendo desventuras na Pré-História. As tramas iniciais desse personagem são mudas, contando apenas com onomatopeias nos quadros. Esse tipo de abordagem inicial (o melhor e ideal para o personagem, a meu ver) é bem legal, pensando exclusivamente no período que representa e nos hábitos que mostra – alguns deles pessimamente envelhecidos, como a “conquista” da mulher através de uma tacapada na cabeça, terminando por arrastá-la até à caverna puxando-a pelos cabelos – tudo isso após uma tentativa de conquista “romântica”, o que dá uma impressão estranha ao final, e nem precisa pensar muito para chegar a essa conclusão.

As tramas aqui, no geral, nos lembram muitas histórias do Piteco, e acredito que pelo menos nas aventuras iniciais sem falas (aquelas escritas por Marcelo Barreto de Lacerda), o caminho de inspiração era este mesmo. Um pouco mais adiante, quando Ivan Saidenberg assumiu os roteiros, a coisa mudou de figura. Todas as histórias dele possuem falas e não têm mais a inocência que os enredos mudos tinham. É verdade que se tornaram narrativas mais complexas, mas ao mesmo tempo, sem a cara totalmente Paleolítica que o personagem tinha desde o seu início.

Em Pena das Cavernas temos a primeira aparição do personagem, numa história de “caçada de mulheres para namorar”, com o negócio do tacape na cabeça que eu comentei mais acima. Usando O Coco, a segunda história, é bem engraçada, coloca o Pena das Cavernas numa luta contra um filhote de dinossauro (sim, aqui, o hominídeo vive com os dinos) e um coqueiro. Ao fim, ele consegue uma das coisas que queria, mas, como sempre, da maneira mais dolorosa possível. A Paulada Era A Lei! é certamente a pior história do conjunto, reciclando a ideia ruim da mulher “conquistada” com tacapada na cabeça e puxada pelos cabelos (inclusive gostando disso, achando um ato heroico da parte do troglodita da vez), mas num contexto maior e com alguns outros probleminhas no meio do caminho, porque, olhem só, o Pena das Cavernas fala de “direitos humanos” e eles não se referem, em nenhum momento, ao “elefante branco” exposto ali como parte central da história.

Pena, O Pintor das Cavernas é uma daquelas historinhas de uma página que, quando bem escritas, valem muito mais do que uma de 30. Essa aqui brinca com a arte rupestre, e é muito inteligente na piadinha metalinguística que faz. Quem Ri Por Último… tem sua graça pela punchline ao final, mas também não é nada demais: trata-se apenas de pessoas rindo de quem é mais feio. É Fogo na Roupa! é a trama mais complexa do conjunto, contando como essa sociedade descobriu e aprendeu a dominar o fogo e o petróleo. Em muitos momentos me lembrou Os Croods! Por fim, temos Olimpíada Cavernosa, a narrativa mais chata da subsérie, contando como essa disputa de modalidades esportivas foi inventada, mas sendo didático demais e com uma premissa desinteressante como ponto de partida. 

A ideia para o Pena das Cavernas é muito boa, contudo, apenas uma parte das histórias desse atrapalhado Peninha Pré-Histórico realmente valem a pena. Curiosamente, a mais curta e mais simples trama da subsérie, a que contém apenas uma página, é a sua melhor. Talvez o personagem tivesse conseguido algo mais interessante se tivessem mantido a ideia original de histórias mudas. 

Pena das Cavernas — Brasil, 1982 a 1988
Códigos das Histórias (na ordem de publicação e comentários acima — mesmo critério para todas as linhas abaixo): B 810325 / B 830070 / B 830197 / B 830172 / B 830173 / B 830223 / B 840080
Publicação original: Zé Carioca 1597 / Peninha (1ª Série) 35 / Peninha (1ª Série) 50 / Zé Carioca 1767 / Tio Patinhas (Abril) 250 / O Pato Donald (Abril) 1821
Editora original: Abril
Roteiros: Marcelo Barreto de Lacerda, Ivan Saidenberg
Arte: Verci de Mello
Entre 4 e 8 páginas

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