Home TVEpisódio Crítica | Penny Dreadful 3X04: A Blade of Grass

Crítica | Penny Dreadful 3X04: A Blade of Grass

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Obs: contém spoilers do episódio e das temporadas anteriores. Leiam as demais críticas da série aqui.

Seguindo o exemplo da segunda temporadaPenny Dreadful nos traz mais um episódio focado unicamente no flashback de Vanessa, explorando as aparições anteriores de Lúcifer e Drácula em sua vida antes da série efetivamente iniciar. Estamos diante de um curioso capítulo – a via de regra, em uma série capitular, é preciso que cada episódio traga uma progressão narrativa para a trama geral ao mesmo tempo que funcione como uma obra separada, não sendo apenas um picotado de diferentes focos e sim contando uma história que defina aquele episódio por si só. A Blade of Grass atua quase como um ponto fora da reta no seriado da Showtime, está distante do restante à exceção de alguns pontos muito específicos, ao mesmo tempo que se qualifica como o melhor capítulo da temporada.

Utilizando um tempo subjetivo, que muito bem representa a falta de noção temporal da srta. Ives em seu confinamento no hospício, o roteiro tem como principal objetivo fazer sua personagem se lembrar de quem está em seu encalço dessa vez. Desde o ano anterior sabemos que dois anjos caídos tem seu olhar fixo em Vanessa – o primeiro, Lúcifer e o segundo é revelado aqui para a bruxa. Curiosamente essa revelação funciona muito melhor que aquela no final de The Day Tennyson Diedseason première deste ano e poderia ter sido deixada para cá, ao invés daquele I am Dracula que encerra o capítulo de abertura.

O destaque de A Blade of Grass, contudo, não vai para a forma como ele avança a narrativa em termos gerais e sim como abre espaço para atuações de tirar o fôlego, tanto de Eva Green, quanto de  Rory Kinnear, que junto das breves aparições de Patti LuPone, são os únicos atores no episódio. Em um mesmo cenário que parece se modificar essencialmente graças aos enquadramentos e mudanças de luz, o episódio aborda o impacto do “tratamento” psicológico tanto para a srta. Ives quanto para John Clare, que cuida da moça. A relação construída entre os dois é a mais orgânica possível, sentimos uma forma de amor crescer no ar que envolve os dois e a sinceridade de Clare perfeitamente conflita com suas transformações em Dracula e Lucifer.

Naturalmente sabemos que ele não se transformou, trata-se de uma maneira de Vanessa se lembrar, ambas as criaturas das trevas estiveram ali de formas diferentes, mas revelar suas aparências agora para a protagonista seria prematuro, ao passo que é esperado que o doutor Sweet ainda deve se aproximar mais da personagem, antes de ter sua real identidade revelada. Devo dizer que o único ponto a me incomodar nesse capítulo foram as sombras da cobra e do morcego surgindo atrás de ambas as figuras – soou fora do lugar e excessivamente didático, como se não já soubéssemos quem cada um é. Mesmo a teatralidade de Ives e Lucifer rastejando, que a priori, soou exagerada, acabou ganhando um sentido poético dentro da narrativa em um episódio que, de fato, é quase um teatro filmado.

Voltando para as atuações de Eva e Rory, não podemos deixar de sentir como se ambos efetivamente se entregassem para os papéis. Cada lágrima soa verdadeira e o sofrimento de ambos se torna mais evidente pelo já citado tempo subjetivo, que coloca cada encontro dos dois seguidos a outro. É como Vanessa apenas recobrasse sua sanidade nesses momentos, como se John atuasse como sua válvula de escape e com o passar do tempo temos a nítida impressão que as visitas de seu cuidador se tornam mais constantes e mais longa, conforme a relação de ambos é construída. No fim, ainda é deixado um grande cliffhanger acerca da lobotomia de Ives e da morte de Clare, que sabemos não ter sido muito após os eventos presenciados aqui.

Somado a isso, o roteiro inteligentemente cria uma tensão extra, prendendo Vanessa nesse estado de fuga. a Dra. Seward aqui atua como o elo entre realidade e sonho, nos lembrando de tempos em tempos que se tratam apenas de memórias reavivadas pela hipnose. É criado um medo crescente no espectador que passa a não saber como e quando a protagonista irá se livrar dessa prisão mental e que consequências isso terá para a personagem. Ao mesmo tempo o texto se livra de interrupções, evitando uma fragmentação narrativa desnecessária e, ao não nos mostrar o “lado de fora”, também nos prende ali dentro, construindo uma evidente imersão angustiante. Estamos tanto naquele hospício quanto a srta. Ives.

A Blade of Grass é um daqueles apaixonantes episódios cujas qualidades são tão evidentes que nos deixam suprimir seus defeitos. Com um flashback que funciona ainda melhor que aquele da segunda temporadaPenny Dreadful consegue nos manter presos nesse estado de fuga de uma de suas personagens centrais e permite o máximo da atuação tanto de Eva Green quanto de Rory Kinnear, que conseguem sustentar cinquenta e seis minutos sem a menor dificuldade. Temos aqui um daqueles exemplos que permanecemos estáticos ao término da exibição, rememorando cada cena, o impacto delas sobre nós e a nítida percepção de termos assistido a um dos melhores episódios de Penny Dreadful até então, que merece ser assistido mesmo por aqueles que nunca viram o seriado antes.

Penny Dreadful 3X04: A Blade of Grass (EUA – 15 de Maio de 2016)
Showrunner: John Logan
Direção: Toa Fraser
Roteiro: John Logan
Elenco: Eva Green, Rory Kinnear, Patti LuPone
Duração: 56 minutos.

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