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Crítica | Perry Mason – 1X04: Chapter Four

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Chegamos à metade da temporada (ou da minissérie se ela for mesmo só isso) e o episódio finalmente fez a literal ponte com o misterioso quarto homem que teria sido o responsável pelo menos pelos assassinatos dos três homens que chantagearam Matthew Dodson em uma trama ainda longe de estar completamente explicada. A brincadeira visual com a ponte de conexão entre os prédios foi interessante e didática e levou Perry e seu colega Pete Strickland a realmente conectar as peças do quebra-cabeças em que se envolveram.

Mesmo que a investigação tenha andado a passos largos aqui, o que envolveu furto de cadáver, tentativa de convencer o legista amigo de fazer uma segunda autópsia no porão da fazenda de Mason e, depois, a desova do mesmo cadáver em pleno campo de golfe para tornar inevitável a desejada segunda autópsia, tudo feito com convenientes e até engraçadas elipses narrativas, o grande destaque do capítulo ficou por conta do advogado E.B., magistralmente vivido por John Lithgow. Os showrunners têm sido particularmente cruéis com o personagem durante a série, primeiro estabelecendo-o como um advogado de renome, somente para, depois, muito aos poucos, desconstruírem essa noção, inclusive emprestando-lhe uma doença que ele esconde a todo custo, revelando a situação financeira cambaleante de seu escritório e, agora, uma acusação – pelo visto completamente procedente – de desfalque do dinheiro de caução de clientes antigos.

Com isso, E.B. entra na longa lista de personagens com passados (e, em vários casos, presentes) escusos na série, deixando apenas talvez Della Street de fora, ainda que seu segredo íntimo também seja, à época (e também hoje em dia, por muitos) sua danação. E.B. não tem saída. Ou ele faz sua única cliente admitir culpa em um crime que obviamente não cometeu, de forma que um acordo com a promotoria seja alcançado e ela cumpra “apenas” 20 na cadeia, ou ele terá que enfrentar vergonha pública e grande chance de ser expulso da Ordem dos Advogados. No entanto, diferente de diversos outros personagens na série, E.B. mantém sua honra até o último segundo, recusando-se a fazer o acordo, mas, por outro lado, fugindo da vida com um suicídio dramático que pode ou não ser levado a cabo, algo que só saberemos no próximo episódio.

Se E.B. sair da série, será interessante ver como Mason e Street lidarão com a situação e possivelmente saberemos, finalmente, se o primeiro é advogado afinal de contas, já que esta é a profissão do Mason clássico dos livros e da série de TV. Não que a alteração para detetive particular seja algo que me incomode, pois não incomoda nem um pouco, mas a revelação de que ele é um advogado que escolheu não exercer a profissão traria a cola narrativa necessária para o caso da morte de E.B. e tornaria a minissérie efetivamente uma história de origem que caminha na direção dos livros de Erle Stanley Gardner. Ou alternativamente – e já entrando na seara da total especulação – talvez Della seja advogada e ela assuma a banca de E.B. tendo Mason como detetive.

No lado espiritual da série, a pressão em cima da Irmã Alice torna-se impossível de aguentar, espelhando a que acontece em relação a E.B. Mesmo recuperando-se de seu ataque epilético, os diáconos – todos homens, claro – de sua igreja, que já não estavam gostando de sua defesa de Emily Dodson, passam a condená-la pela heresia que cometeu ao dizer que o pequeno Charlie ressuscitará. E as consequências disso com um ataque direto a ela com um presente sibilante, por assim dizer e com a ameaça de retirada de todo o suporte financeiro a fazem quase desdizer o que ela disse ter ouvido diretamente de Deus, somente para, como E.B., voltar atrás quando recebe um sinal de que seu caminho é o certo.

O problema é que, mesmo tangenciando com o caso principal, toda a trama envolvendo a Irmã Alice ainda é marginal na série por melhor que Tatiana Maslany seja em seu papel. Ainda que o bebê acabe realmente aparecendo vivo, essa condição continuará a não ser que a trama de chantagem e assassinato ganhe outros contornos ainda mais estranhos, o que não é impossível de forma alguma, mas que, a essa altura do campeonato, parece cada vez mais improvável. Não descarto a hipótese de que toda a elaborada discussão sobre fé – e a falta dela – seja realmente um comentário à trama principal, algo que acrescente à questão da corrupção do Homem, tornando-a mais evidente pelo contraste causado. Será uma escolha audaz dos showrunners se essa for a intenção, mas teremos que esperar para ver.

Perry Mason chega ao meio do caminho ainda cativante por toda a sujeira que deixa às escâncaras e pela sensacional queda de E.B. que, se realmente se foi, fará falta. Ainda há muito o que acontecer, mas tudo parece estar realmente em movimento para uma segunda metade movimentada e inesquecível.

Perry Mason – 1X04: Chapter Four (EUA, 12 de julho de 2020)
Showrunners: Rolin Jones, Ron Fitzgerald (baseado em personagem criado por Erle Stanley Gardner)
Direção: Deniz Gamze Ergüven
Roteiro: Steven Hanna, Sarah Kelly Kaplan
Elenco: Matthew Rhys, Shea Whigham, John Lithgow, Juliet Rylance, Nate Corddry, Gayle Rankin, Andrew Howard, Eric Lange, Veronica Falcón, Robert Patrick, Tatiana Maslany, Lili Taylor, Stephen Root, Chris Chalk
Disponibilização no Brasil: HBO
Duração: 59 min.

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