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Crítica | Perry Mason – 1X07: Chapter Seven

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

O penúltimo capítulo da temporada inaugural de Perry Mason, agora promovida a série regular e não mais minissérie, tem como objetivo principal fechar o ciclo sobre o mistério do assassinato do bebê Charlie, algo que o roteiro de Howard Korder faz primorosamente. O que fica agora faltando é a maneira como o protagonista, ajudado por Della, Pete e Paul, conseguirá trazer a verdade à lume, se é que ele conseguirá, claro.

Se os contornos das circunstâncias que levaram ao assassinato já haviam sido delineados, faltavam ainda as peças finais para tornar possível a visão do quebra-cabeças. A situação financeira periclitante da igreja ganha então todo o esclarecimento necessário, fazendo com que o sequestro do bebê passe a ser algo planejado por Eric Seidel juntamente com o policial corrupto Ennis para reverter esse cenário. No entanto, a morte em si do bebê foi causada não por vontade dos bandidos, mas sim pela estupidez de Ennis ao arregimentar os serviços de ama de leite de uma prostituta viciada em heroína que conhecia.

O interessante é que, em um primeiro momento, esse envolvimento de Seidel e os detalhes sobre o sequestro podem parecer forçados e trazidos de supetão no final da temporada em uma escolha conveniente do roteiro. No entanto, essa seria uma interpretação rasa do que a série apresentou até agora, já que todos – absolutamente todos – os elementos estavam presentes para que essas conclusões se tornassem possíveis. E o melhor é que o trabalho conjunto de Della percebendo as práticas contábeis duvidosas de George Gannon e de Hicks, o contador anterior que acaba sendo testemunha-chave, Pete estabelecendo a conexão de longa data entre Seidel e Ennis e Paul finalmente assumindo a responsabilidade apesar do que isso pode significar pessoalmente para ele e descobrindo o conluio no motel que serviu de esconderijo para o bebê, é um primor de roteiros convergentes que conversam perfeitamente entre si e entregam para o agora advogado Perry Mason todos os instrumentos que ele precisa para começar a virar o caso.

Se existe um senão talvez ele esteja justamente na investigação de Paul Drake que acontece rapidamente demais a partir do ponto em que ele se sente desconfortável o suficiente para efetivamente fazer algo proativo em relação à injustiça que está prestes a ser cometida. Mesmo assim, tenho para mim que o personagem já havia sido muito bem estabelecido como um detetive nato, possivelmente o melhor dentre os quatro “mocinhos” e essa sua dedução e consequente investigação faz todo o sentido do mundo e torna relevante o prostíbulo comandado por orientais que aparecera por diversas vezes sem função maior.

O episódio também dedica tempo para os efeitos que anos de descaso consigo mesmo causam em Mason, com a notícia fria e calculista por sua amante Lupe que ele não é mais dono da fazenda de sua família e que ele tem um mês para sair de lá. A pancada no ego do personagem é violenta e ele não se recupera dela imediatamente, algo que fica patente pela forma injusta com que ele imputa a seu amigo Pete o desaparecimento de Seidel (que, para surpresa de absolutamente ninguém, é eliminado por Ennis). O estremecimento da relação entre os dois a essa altura do campeonato é uma má notícia para Mason, claro, mas, novamente, é algo que se encaixa perfeitamente com o passado de Mason vindo a galope e, sem dúvida alguma, é mais uma contribuição para a mudança do personagem de detetive beberrão e desgrenhado em advogado de respeito. Em outras palavras, era importante que o passado de Mason se tornasse realmente passado para que ele, potencialmente, dê um passo adiante em sua promissora carreira.

Do lado religioso-espiritual da temporada, há não só um flashback para o terrível passado da Irmã Alice em que a vemos, ainda criança, ser vendida por sua própria mãe (Lili Taylor ganhando um convincente rejuvenescimento digital) literalmente por gasolina, algo que a personagem já adulta havia mais do que uma vez deixado nas entrelinhas, além da prometida ressuscitação do bebê Charlie, um primor técnico em termos de direção, montagem e coreografia, com Tim Van Patten mais uma vez esbanjando talento à frente da série ao lidar com uma turba feroz de crentes e descrentes, além de jornalistas, policiais e apenas curiosos testemunhando o caixão vazio que é desenterrado pela Irmã Alice, com Perry Mason e Della Street desesperados em uma operação de salvamento de sua cliente Emily Dodson. Percebe-se novamente que a produção, assim como no flashback para a Primeira Guerra Mundial, não economiza em momentos grandiosos e complexos, comandando um exército de extras em uma nova sequência de alta octanagem e de execução técnica para lá de difícil que o diretor e equipe acabam tirando de letra.

Agora é esperar para ver como “um bebê Charlie” surgindo “milagrosamente” por força de um golpe de Birdy McKeegan pode afetar a opinião pública – e, por vias transversas, os jurados – no caso contra Emily Dodson e, mais ainda, como Perry Mason conseguirá levar a cadeia de eventos do sequestro de Charlie para o tribunal. Prevejo um depoimento quente de Ennis e possivelmente até mesmo um acordo com a promotoria para impedir um julgamento que seria a derrocada do ambicioso Maynard Barnes.

Perry Mason – 1X07: Chapter Seven (EUA, 02 de agosto de 2020)
Showrunners: Rolin Jones, Ron Fitzgerald (baseado em personagem criado por Erle Stanley Gardner)
Direção: Tim Van Patten
Roteiro: Howard Korder
Elenco: Matthew Rhys, Shea Whigham, John Lithgow, Juliet Rylance, Nate Corddry, Gayle Rankin, Andrew Howard, Eric Lange, Veronica Falcón, Robert Patrick, Tatiana Maslany, Lili Taylor, Stephen Root, Chris Chalk
Disponibilização no Brasil: HBO
Duração: 60 min.

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