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Crítica | Perry Mason – 2X03: Chapter Eleven

Os pecados do passado.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Nenhuma complicação na trama de Perry Mason é mais fascinante do que a abordagem pessoal que o personagem-titular da série vem ganhando e que parece chegar ao seu ponto alto no terceiro episódio da temporada. Seria muito fácil – e até esperado – que o passado ficasse no passado e só voltasse a assombrar Mason de maneira distante, simplificada, sem maiores consequências para seu presente. No entanto, a escolha da produção em manter o caso de Emily Dodson vivo no segundo ano e de forma tão significativa para os traumas de Mason, é certeira e dura.

Afinal, como se já não bastasse a revelação, no primeiro episódio, que, nos meses de intervalo entre as temporadas, Dodson se suicidara no Lago Tahoe, agora Mason conta para Della Street que ele vinha recebendo cartas e cartões postais de sua cliente suplicando ajuda, dizendo com todas as letras que ela pretendia se juntar ao seu bebê morto e que ele nada fez, não tentou falar com ela, não procurou ajuda psicológica para ela e sequer deu ciência a Street do que estava acontecendo antes de a tragédia. Não é qualquer série que elege pintar seu herói dessa maneira tão sombria e, diria, tão moralmente dúbio. É indesculpável a passividade de Mason e, com isso, sua recusa em assumir casos criminais e seus pesadelos com Dodson realmente ganham um contexto muito mais poderoso e doloroso. Como Della fará para perdoar seu sócio, eu não sei, mas é fascinante o que os showrunners Jack Amiel e Michael Begler estão tendo coragem de fazer aqui.

E a atuação de Matthew Rhys só melhora. A hesitação de seus personagem no tribunal, a forma como ele lida com o filho precisando passar uma noite em sua casa (seu esforço para ser genuinamente pai é mínimo, trocando o afeto por cabanas, presentes e cinema) e, depois, quando ele é ameaçado pelo violento magnata Lydell McCutcheon que usa Dodson como forma de torturar seu inimigo, tudo deságua na bela sequência em que ele finalmente conta a verdade para Street. Se a primeira temporada tinha como objetivo fazer a ponte entre o detetive completamente destruído pelos traumas da guerra e o advogado esperto, a segunda parece insistir – acertadamente – no psicológico do protagonista sem fazer concessões e sem tornar fácil ao espectador gostar dele.

E, no contraste com Della Street e Paul Drake, a tarefa de gostar do protagonista torna-se ainda mais complexa. Afinal, Della Street mostra-se a eficiência em pessoal – reparem na jurisprudência que ela passa para Mason na mesa do tribunal – e não só isso, pois ela não esquece de viver, mesmo que isso signifique trair sua jovem parceira do momento com a sofisticada e madura roteirista Anita St. Pierre (Jen Tullock). Street é, para todos os efeitos, o exato oposto de Mason em tudo e Juliet Rylance quase que literalmente brilha em cada cena em que aparece. De maneira semelhante, Drake continua revelando-se um detetive de mão cheia, funcionando como uma máquina que não para até chegar ao que quer, com Chris Chalk irradiando tenacidade e inteligência constantemente.

Sobre o caso em si, os desenvolvimentos são razoavelmente esperados para uma série desse tipo. Temos o juiz mais linha dura que já está criando e continuará criando dificuldades para Mason e Street, basicamente pré-condenando os réus, um McCutcheon usando toda a sua influência para impedir que o “bom nome” de seu filho seja jogado na lama por um Mason enxerido, a descoberta de uma mulher aparentemente em estado catatônico em uma clínica chique que parece ter conexão com a vítima, e, claro, a descoberta de que os irmãos Gallardo tiveram acesso à arma do crime, cortesia de Drake. Ou seja, tem muito ainda o que acontecer em termos de reviravoltas de tribunal até que tenhamos um veredito sobre os acusados, mas tudo, ainda bem, vem seguindo uma linha lógica e inegavelmente interessante que os próximos episódios, não tenho dúvida, descortinarão.

Perry Mason eleva-se bem acima do “drama de tribunal” comum não só por sua exemplar ambientação na Los Angeles dos anos 30, como também por contar com um elenco admirável e não ter pudor algum de fazer de seu protagonista uma pessoa cheia de problemas e com seu senso moral claramente precisando de ajustes. Será muito interessante acompanhar essa jornada de Mason pelas armadilhas psicológicas que ele próprio se impôs.

Perry Mason – 2X03: Chapter Eleven (EUA, 20 de março de 2023)
Showrunners: Jack Amiel, Michael Begler (baseado em personagem criado por Erle Stanley Gardner)
Direção: Jessica Lowrey
Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler
Elenco: Matthew Rhys, Juliet Rylance, Chris Chalk, Shea Whigham, Justin Kirk, Diarra Kilpatrick, Verónica Falcón, Paul Raci, Jee Young Han, Sean Astin, Matt Bush, Gayle Rankin, Eric Lange, Fabrizio Guido, Peter Mendoza, Jen Tullock
Duração: 50 min.

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