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Crítica | Perry Mason – 2X04: Chapter Twelve

Caindo do cavalo...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

É raro, mas às vezes um filme ou série pode realmente surpreender. E não falo aqui de grandes momentos ou reviravoltas não, mas sim de aspectos até bastante mundanos que simplesmente navegam na direção oposta do senso comum e do que se espera de obras audiovisuais. O 12º capítulo de Perry Mason, que marca a metade da 2ª temporada da série, tem uma dessas pequenas situações em tese inimagináveis, mas que fazem todo sentido narrativo, por combinar exatamente com o lado psicológico de seu protagonista.

Falo especificamente do momento de ponderação de Paul Drake, conversando com sua esposa, sobre contar ou não para Mason sobre sua descoberta relacionada com a arma do crime que tem o poder de condenar de vez os irmãos Gallardo. Afinal, o que normalmente esperamos do resultado da investigação dele que serviu de certa forma como o cliffhanger do episódio anterior? Obviamente que ele levasse suas conclusões diretamente a Mason e Street de forma que a trinca pudesse discutir estratégias e ir mais a fundo na questão. Muito sinceramente, eu jamais imaginaria que Drake sequer por um segundo ponderasse sobre fazer isso ou não, com receio que Mason perdesse a cabeça e largasse os irmãos acusados ao léu em uma explosão de raiva e decepção e eu jamais imaginaria que um roteiro fosse se preocupar tanto com o que podemos resumir como um “pequeno detalhe” desses.

E essa é uma das razões pela qual essa série é tão bacana e diferenciada. Perry Mason – a série – está muito menos preocupada com os meandros investigativos e jurídicos de seus personagens do que com seu lado psicológico. O próprio Drake parece ser um profundo conhecedor da mente de seu empregador, um homem movido quase que exclusivamente pela paixão que tem uma visão utópica da Justiça e que é sim capaz – como ele quase faz – de desistir de um caso somente porque há uma boa chance de seus clientes serem culpados. Quando Drake, depois de conversar com a esposa em uma bela e rara cena de amor entre pessoas casadas (o audiovisual normalmente se esquece que ainda há amor e paixão mesmo em casamentos de anos), finalmente conta sobre a arma e sua investigação para Mason e Street, aquilo que ele imaginou que aconteceria acontece imediatamente, com Mason basicamente implorando por um acordo com a promotoria que evitaria a pena de morte a seus clientes, mas que os deixaria na prisão por pelo menos 25 anos(!!!) e, depois, em uma cena para lá de estranha, mas muito original, em que  ele sai para cavalgar com o cavalo campeão de Lydell McCutcheon na calada da noite em uma espécie de vingança pela campanha de difamação movida pelo magnata contra ele.

Mas mesmo antes dessa revelação, o lado psicológico do episódio foi marcante, com Della sentindo as consequências do que Perry contou para ela sobre a morte de Emily Dodson. Ela se sente profundamente abalada pelo fato de seu sócio e colega de trabalho ter se omitido durante todo o sofrimento da primeira cliente deles, resultando em seu suicídio, algo que talvez pudesse ter sido evitado. Como eu disse na crítica anterior, é fascinante que esse assunto seja sequer levantado na série, colocando o protagonista sob uma luz negativa ainda por cima, e é mais fascinante ainda como o episódio atual não se furta de lidar com as consequências, com Della indo passar um final de semana com Anita em seu belíssimo retiro em Palm Springs.

Sobre o caso em si, ficou evidente, pela maneira que os irmãos Gallardo confessam terem baleado Brooks McCutcheon, que há algo a mais nessa história. Não só a história que eles contam não batem com o que vimos ao final do primeiro episódio da temporada, como o final do Capítulo 12 deixa evidente que, de uma forma ou de outra, eles receberam dinheiro para assumirem a culpa pelo ocorrido sem que provavelmente sequer tenham mesmo atirado na vítima. O que exatamente aconteceu, ainda não está claro, mas é muito provável que Lydell esteja de alguma forma envolvido.

Mas menos claro do que o assassinato é a correlação de Goldstein, o verdureiro assassinado, com todo o restante. Existe toda uma narrativa paralela que chega a ser até frustrante por ainda estar muito enevoada, que envolve o policial corrupto Eugene “Gene” Holcomb e a “herança” do barco de jogatina deixada pelo falecido Brooks e o quanto alguém – Lydell novamente? – tinha um esquema estranho de transporte de algo ainda incerto e não sabido com Goldstein. Mesmo que o assunto tenha sido encarado de frente no episódio, ainda faltam algumas peças para esse quebra-cabeças começar a tomar forma e tenho para mim que está bem na hora de esses encaixes acontecerem considerando que faltam apenas quatro episódios para o fim da temporada.

Perry Mason conseguiu, desta vez, realmente me surpreender e me fazer tirar o chapéu para a qualidade e o cuidado no desenvolvimento de personagens, sem deixar de movimentar a trama principal. Não que antes a série já não estivesse sempre colocando o sarrafo mais para cima, mas não é toda série que dedica tempo a estudar com lupa seus personagens, não se furtando de colocá-los em situações verdadeiramente difíceis, capaz até de afastar o espectador deles. Que continue assim!

Perry Mason – 2X04: Chapter Twelve (EUA, 27 de março de 2023)
Showrunners: Jack Amiel, Michael Begler (baseado em personagem criado por Erle Stanley Gardner)
Direção: Jessica Lowrey
Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler
Elenco: Matthew Rhys, Juliet Rylance, Chris Chalk, Shea Whigham, Justin Kirk, Diarra Kilpatrick, Verónica Falcón, Paul Raci, Jee Young Han, Sean Astin, Matt Bush, Gayle Rankin, Eric Lange, Fabrizio Guido, Peter Mendoza, Jen Tullock, Katherine Waterston
Duração: 50 min.

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