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Crítica | O Caso da Jovem Arisca (Perry Mason #2), de Erle Stanley Gardner

Quando o temperamento de uma personagem pode colocar tudo a perder.

por Luiz Santiago
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Embora seja narrativamente menos elegante que O Caso das Garras de Veludo, esta segunda aventura de Perry Mason consegue criar uma interessantíssima malha misteriosa em torno do assassinato de Edward Norton, um homem de opiniões duras que protege com muito cuidado a herança que seu falecido irmão deixou para a filha Frances Celane, uma jovem e bela mulher cujo comportamento irascível e egoísta tende a colocá-la em situações imensamente difíceis.

Algo que eu percebi apenas em um ponto mais avançado da leitura, foi o fato de que Erle Stanley Gardner cria uma oposição inicial muito grande entre tio e sobrinha, em termos de comportamento, mas na verdade essa oposição se concentra basicamente no conflito de interesses ou numa espécie de birra geracional. Quando falamos puramente de comportamento, entendemos que existe uma similaridade muito grande entre esses dois indivíduos, cada um seguindo as suas ideias fixas, as suas explosões emocionais e as suas declarações ácidas dentro de suas personalidades, gênero e idade. Para Celane, porém, os eventos dessa aventura servirão como um ponto de virada em sua vida, algo próximo de uma redenção por medo; solução moral que não me agradou muito aqui, mas que consigo entender o por que o autor executou.

Por um tempo, leitor quase se esquece do aspecto particular com o qual Gardner escrever os seus casos, já que na primeira parte do livro existe uma investigação acontecendo sem muitos elementos de destaque para um possível julgamento. É na segunda parte, porém, que as coisas mudam de figura e o estilo do autor é aplicado com sucesso à investigação anteriormente iniciada. Entendam que Perry Mason não é retirado de seu papel de advogado em nenhum momento aqui, mas pelas particularidades do crime e das pessoas envolvidas, o texto começa a dar mais atenção à sua veia de detetive, para, na segunda parte, levar o leitor ao tribunal e investir fortemente naquela sensação claustrofóbica, instigante, dúbia e cheia de surpresas que as cenas de tribunal nos dão.

O crime em questão tem uma resolução charmosa, entregue num momento bastante delicado para os clientes de Perry Mason. Não é exatamente algo grandioso e inteligente, mas uma boa visão para a exposição de um crime onde muitas pessoas queriam ganhar alguma coisa e, ao mesmo tempo, salvar certos conhecidos da prisão ou provavelmente da pena de morte. Em O Caso da Jovem Arisca, Gardner se vale de muitas cenas de criação de conflito, apostando menos em descrição de ambientes, expressões e personalidades e mostrando muito mais essas coisas de maneira prática, seja através de diálogos, seja através de testes ou apontamentos orgânicos feitos pelos personagens em suas linhas. Apesar de o início parecer bem mais promissor, o livro não chega a decepcionar e mantém bastante acima da média essa curiosa toada de romances policiais que é um misto de investigação com processo legal. Para quem gosta do gênero, é uma mudança de perspectiva que vale muito a pena conhecer.

Perry Mason – Livro 2: O Caso da Jovem Arisca (The Case of the Sulky Girl) — EUA, 1933
Autor: Erle Stanley Gardner
Publicação original: William Morrow
303 páginas

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