Home Diversos Crítica | O Caso da Noiva Curiosa (Perry Mason #5), de Erle Stanley Gardner

Crítica | O Caso da Noiva Curiosa (Perry Mason #5), de Erle Stanley Gardner

Um golpe bem aplicado.

por Luiz Santiago
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Em O Caso da Jovem Arisca (1933), o escritor Erle Stanley Gardner explorou de modo bastante atrativo o comportamento irascível de uma jovem cliente, colocando-a em cena como um empecilho charmoso e às vezes irritante diante do caso que tinha em mãos. Neste O Caso da Noiva Curiosa, quinto volume da série Perry Mason, o autor usa o comportamento de uma jovem cliente não como um elemento que atrapalha ou afasta o advogado do caso, mas como um estranho ímã, uma espécie de atrativo que ele, como advogado experiente e detetive “amador” reconhece e se dispõe a resolver… mesmo que a cliente recuse e esconda um grande número de informações dele.

O caso começa quando a jovem Helen Crocker entra no escritório de Mason fazendo perguntas misteriosas sobre uma amiga que tinha um marido que “morreu em um acidente de avião em 1929“. Segundo Helen, a “amiga” queria muito saber se depois de 7 anos da morte desse marido, ela poderia se casar sem ter qualquer tipo de impedimento legal. Essa primeira conversa entre Mason e Helen é totalmente marcada por uma aura de mistério e o leitor sabe que a mulher está escondendo muita coisa. Fica evidente que ela não está procurando informações “para uma amiga“, mas para ela mesma, e Mason se irrita com esse comportamento, tratando a jovem como uma espertalhona que precisava muito de ajuda mas não queria entregar o jogo. Ele resolve jogar pesado mas acaba “perdendo” a cliente. E um certo peso na consciência lhe cai logo a seguir.

Eu cheguei a rir um pouco da reação de Perry assim que Helen saiu do escritório. A conversa que ele tem com Della Street, então, consegue estabelecer que a jovem era noiva (as observações de Della são sempre precisas e a secretária, mais uma vez, tem um excelente papel em toda a história) e isso o deixa encucado. Pela primeira vez na série vemos Mason arrependido de ter utilizado uma abordagem pesada com alguém, a ponto de espantar a pessoa. É um arrependimento genuíno, e temos a impressão de que uma relação quase paternal de Mason para com a jovem noiva desesperada se forma naquele momento. Não preciso nem dizer que neste ponto está o início de uma investigação que, como sempre nos livros de Erle Stanley Gardner, se desdobrará em mistérios, assassinato e excelentes cenas de tribunal.

A primeira parte do livro e um bom pedaço de seu desenvolvimento carregam boas semelhanças com a teia de eventos que acompanhamos em O Caso do Cão Uivador, mas de maneira mais confusa em alguns pontos e demasiadamente simples em outros, tornando parte do livro um misto de trechos muito empolgantes de se ler, e outros em que a gente não vê a hora de acabar. Por exemplo, eu sempre gostei das investigações auxiliares que Mason solicita para Paul Drake, o detetive que marca ponto nos casos do advogado desde O Caso das Garras de Veludo. Aqui, porém, sua presença começa de modo interessante mas ao pouco vai sendo minada até não empolgar mais.

Pela primeira vez Mason tem um promotor de justiça (John Lucas) inteligente, sacana e que também assume a postura de “Diva”, no tribunal. Embora o caso em discussão seja trivial (pelo que se discute), a briga entre os dois homens torna a parte final do livro mais apimentada, principalmente porque Lucas consegue alguma vantagem sobre Mason no começo do julgamento.

No desfecho, a longa cena em que Della lê para o milionário Philip C. Montain o que seria a resolução do caso fez o livro cair de qualidade para mim, quase indo para a média. É um trecho chateante, nada dinâmico e que não combina muito com o estilo de Gardner, simplesmente não entendo por que o autor escolheu esse modelo para nos entregar as respostas que precisávamos. Como que para corrigir esse bloco, as consequências dessa leitura recuperam o gosto de um bom mistério resolvido, quase com uma “vingança por reparação” exigida por Mason e um bom encerramento para a Rhoda Lorton/Rhoda Montain, a pobre enfermeira que passou por maus bocados mas conseguiu, depois de muito sofrimento, curar-se emocionalmente e finalmente alcançar a sua liberdade. Em muitos sentidos.

Perry Mason – Livro 5: O Caso da Noiva Curiosa (The Case of the Curious Bride) — EUA
Autor: Erle Stanley Gardner
Serialização: Liberty Magazine, 7 de Julho a 15 de setembro de 934
Publicação original: William Morrow and Company, novembro de 1934
300 páginas

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