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Crítica | O Caso do Olho de Vidro (Perry Mason #6), de Erle Stanley Gardner

Perry Mason arriscando demais.

por Luiz Santiago
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Um dos pontos mais chamativos da bibliografia de Erle Stanley Gardner com o personagem Perry Mason é sempre o momento de partida para que as histórias aconteçam. A saga do advogado-detetive foi inteiramente construída com títulos que indicam “o caso de…” e, nessas histórias, encontramos de tudo, seja em relação a personagens, armas do crime, situações de vida, características do espaço onde a trama se passa, animais de estimação… a lista de possibilidades é bem longa. Em O Caso do Olho de Vidro, o autor escolhe uma condição muito específica de uma pessoa para dar início à sua emaranhada narrativa.

O ponto de partida da obra é definitivamente “diferentão”, mas também acaba sendo a desculpa mais forçada, mais esfarrapada de um personagem para procurar a ajuda de Mason como advogado. O peculiar cliente é Peter Brunold, homem que procura o escritório de Mason após perder um olho de vidro. Ele explica com detalhes o motivo pelo qual o tal olho é importante, comenta de uma marca especial que pediu para que o manufaturador colocasse no olho e, justamente por conta dessa possibilidade de fácil identificação, tem medo de que esse olho seja plantado em uma cena de crime e a polícia ache que ele é o criminoso. É algo tão específico e tão fora da curva que se torna forçado.

Temos algumas outras coincidências aqui, mas acho que nada me incomodou mais do que esse primeiro contato de Brunold com o advogado. Posteriormente o personagem terá uma ótima participação, mas no início ele foi alguém que me dificultou a conexão plena com a história. Quando passamos, porém, pela chegada de Henry e Berta McLane à cena; quando descobrimos a questão monetária envolvendo Hartley Basset e o papel de sua esposa Sylvia; ou quando a misteriosa Hazel Fenwick e seu esposo Richard Basset (filho de Sylvia adotado por Hartley) também adentram ao enredo, a história se torna um enigma muito gostoso de acompanhar e o leitor aproveita cada capítulo com aquela expectativa infantil que anseia pelo próximo passo arriscado de Mason. Dessa vez ele quase vai parar na cadeia (bem, ele já foi suspeito de um crime e ameaçado de ser preso, mas das histórias até um momento, esta foi a que chegou mais perto de isso realmente acontecer).

Acredito que O Caso do Olho de Vidro é também um dos livros mais fáceis de Gardner até o momento, no que se refere ao mistério. Desta vez não tive dificuldades de descobrir quem era o assassino, só não atinei para os vários detalhes que costuraram todo o entorno do crime. Como praticamente todos os personagens aqui se conhecem, o leitor tem uma experiência interessante no preenchimento dos espaços em branco que o autor deixa, até que tudo se revele. E mais uma vez tenho que falar que tive problemas com o momento da revelação. É verdade que em um número bem grande de livros de mistério, o processo de investigação (e no caso de Perry Mason, as cenas de tribunal também) é mais importante e às vezes bem melhor do que a resolução do enigma propriamente dito. Para O Caso do Olho de Vidro, esta é igualmente uma grande verdade.

A questão não está apenas na forma um tanto insípida como a verdade vem à tona, em uma fala descompromissada e um tanto cínica de Mason. Depois que isso acontece, o livro ainda segue por mais algumas páginas para terminar de amarrar pontas, e esse momento é um dos mais fracos e insossos do volume, com Della Street servindo de motivação didática e excessivamente preocupada com o chefe. Ao contrário desta, as preocupações de Paul Drake aqui alcançam um nível bem alto, porque a ameaça de prisão também rondava o detetive. Gosto muito da participação ativa do personagem nesse livro. E por falar em participação, é necessário citar a primeira aparição do promotor de justiça Hamilton Burger, que teria uma grande participação na série daqui para frente.

Para quem espera um intricado romance policial, com certeza vai se decepcionar com O Caso do Olho de Vidro. A leitura é simples, mas muito válida para quem quer apenas curtir um processo investigativo com uma teia povoada de pessoas conhecidas e que possuem personalidades intensas e intenções não muito amigáveis para com os outros.

Perry Mason – Livro 6: O Caso do Olho de Vidro (The Case of the Counterfeit Eye) — EUA, abril de 1935
Autor: Erle Stanley Gardner
Publicação original: William Morrow and Company
296 páginas

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