Home Diversos Crítica | O Caso do Gato do Porteiro (Perry Mason #7), de Erle Stanley Gardner

Crítica | O Caso do Gato do Porteiro (Perry Mason #7), de Erle Stanley Gardner

Quando o cliente é um gato. Literalmente falando.

por Luiz Santiago
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Não é a primeira vez na série literária de Perry Mason que a gente tem um animal em destaque na trama. No quarto livro das aventuras desse detetive-advogado, uma obra muito boa chamada O Caso do Cão Uivador, o leitor também esteve diante de uma disputa envolvendo um pet, alguns humanos insuportáveis e uma sequência de crimes. Neste O Caso do Gato do Porteiro, o autor parece brincar narrativamente com as percepções que normalmente temos dos felinos, trazendo um encadeamento de fatos bastante cuidadoso, cheio de ataques repentinos e comportamentos que saem do controle, o que torna esse um livro bastante divertido da série, apesar de deixar meio atropelada a base investigativa da trama.

Essa característica de desenvolvimento acaba cobrando o seu preço no desfecho da obra, que mais uma vez corre contra o tempo para explicar o processo de execução dos crimes. Em alguns livros de Perry Mason a gente vê o autor explorando de forma compassada e com muitos detalhes cada uma das partes da investigação, deixando as grandes reviravoltas apenas com ingredientes chocantes dessas mudanças, mas sem a necessidade de grandes contextos, pois o leitor, a essa altura, já tem todos detalhes, então só precisa ligar os pontos. É o caso, por exemplo, do ótimo livro de abertura da série, O Caso das Garras de Veludo. Aqui no sétimo livro, o leitor vê o texto segurando muitas informações importantes e entende que o autor quis compensar essa falta de detalhes no bloco final. Não tem jeito: parece corrido.

Ainda assim, O Caso do Gato do Porteiro é um livro muito divertido. Talvez o mais cínico dentre os livros da série até o momento, porque lida com herança, com pessoas procurando ocultar motivos pessoais ou proteger indivíduos especiais… e a presença de um gato que acaba se tornando, na prática, o verdadeiro cliente de Mason na história. Tudo começa, aliás, com o dono desse gato, um velho rabugento chamado Charles Ashton, que vai até o escritório de Mason buscar orientação sobre algo muito peculiar. Esse zelador queria manter consigo um gato persa chamado Clinker, seu único companheiro de vida, enquanto o filho do antigo patrão de Ashton, morto em um incêndio, diz ao homem que ele só poderá ficar na casa se der fim ao gato. As semelhanças com parte da história de O Caso do Cão Uivador são muitas, mas não há exatamente uma repetição. Erle Stanley Gardner foca em outro lado investigativo aqui.

A morte do velho Peter Laxter ganha um outro significado quando Mason começa a ver indícios de assassinato, e é nesse ponto que as coisas se tornam intensas. Mais uma vez devo elogiar a presença do detetive Paul Drake e a ajuda que ele dá a Mason na descoberta de informações sobre a família investigada. Esse processo de buscas também conta com uma manobra de distração criada por Mason e por Della que é em parte cômica e em parte desinteressante. A dupla finge ser recém-casados para tentar encontrar resposta para um dos mistérios da investigação, mas essa tentativa pesa demais a mão no lado romântico, e o resultado que temos com isso funcionaria melhor se fosse conseguido por Paul ou alguma atriz contratada, como o próprio Mason já fez em ocasiões anteriores.

Ao término da aventura, o leitor está diante de uma grande surpresa, no tribunal. A revelação do assassino não é assim tão impactante, mas o contexto das mortes e as revelações secundárias é que verdadeiramente se destacam nesse volume, mostrando ao mesmo tempo um lado divertido e até mesmo orgulhoso de Mason, que não vê grandes problemas em apostar com a vida das pessoas diante de um júri. A sorte é que Gardner escreve o personagem de maneira bastante simpática e não deixa-o tornar-se insuportável com esse orgulho todo. Aqui, a defesa do gato faz com que a justiça seja alcançada, enfim. E mais uma vez os inimigos de Perry Mason ficam de boca aberta com a capacidade de o advogado pegar casos aparentemente banais que acabam se tornando algo épico. Como a defesa de um gato na vida de um homem velho que traz à tona uma cadeia de crimes e infâmias familiares.

Perry Mason – Livro 7: O Caso do Gato do Porteiro (The Case of the Caretaker’s Cat) — EUA, setembro de 1935
Autor: Erle Stanley Gardner
Publicação original: William Morrow and Company
230 páginas

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