Home Diversos Crítica | Perry Rhodan – Livro 3: A Abóbada Energética, de K. H. Scheer

Crítica | Perry Rhodan – Livro 3: A Abóbada Energética, de K. H. Scheer

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 3/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Eric Manoli, Dr. Frank M. Haggard, Crest, Thora, Albrecht Klein, Li Shai-tung, Peter Kosnow e Allan D. Mercant.
Espaço: China (Deserto de Gobi), Groenlândia, Lua
Tempo: final de julho a final de agosto de 1971

A ação deste volume começa em 29 de julho de 1971, oito dias depois do retorno de Bell com o Doutor Haggard para a cúpula que cobre a Stardust, o restante de sua equipe e seus aparatos — a recém-criada Terceira Potência. A emergência inicial, claro, é curar Crest de sua enfermidade. A partir dessa situação secundária — mas agravante à medida que nos aproximamos do final do livro — e após a terrível humilhação a que Perry Rhodan submeteu os líderes das potências do Bloco Ocidental, Oriental e a Federação Asiática é que o autor K. H. Scheer (Missão Stardust) retoma a narrativa da saga. A Abóbada Energética é, sem dúvidas, um livro que serve como um teste de nervos.

Muita coisa do que foi abordado em A Terceira Potência ganha uma importância e até tratamento mais maduro aqui, especialmente no que diz respeito às potências mundiais. É muito mais aceitável e interessante ver comportamentos infantis ou ilógicos vindo de indivíduos específicos (curiosamente, são sempre os chineses, nesse Universo) do que de instituições inteiras do planeta. Mas é claro que a situação mudou. Desde a Terceira Guerra Mundial impedida pela ação de Thora, no livro passado, cientistas e dirigentes das grandes potências resolveram unir forças para trazerem o fim a um inimigo em comum (difícil não se lembrar de Watchmen, outra obra que usa muito bem essa estratégia) e por isso mesmo, as picuinhas infantis dos estadistas foram colocadas de lado. Nessa abordagem a situação geopolítica fica mais interessante, ganhando tratamento realista e, ao mesmo tempo, desenvolvendo os indivíduos impulsivos que acabam sendo um perigo em situações de crise.

A conclusão a que os cientistas e os militares chegam aqui é inicialmente óbvia: não adianta as potências seguirem como inimigas. Esse pensamento já dá uma boa noção do que a atitude de Perry Rhodan foi capaz de conquistar (a paz através da força, independente do julgamento filosófico ou ético que possamos fazer disso), mas esse tipo de união desesperada logo impõe seu contra-ataque ao pessoal da cúpula, e não demora muito tempo para que os humanos também mostrem que são capazes de coisas incríveis, mesmo que seja para destruição.

A grande ação que toma conta da maior parte do livro (ou pelo menos assim nos parece) é o bombardeio massivo da cúpula gerada pela tecnologia arcônida. Mesmo que posteriormente se estabeleça que isso é uma forma de desviarem a atenção de Rhodan enquanto novos foguetes (agora dos três blocos) são lançados para a Lua com uma missão destrutiva, acompanhamos o progressivo medo, pressão e tensão a que Rhodan e seus parceiros são submetidos. E a situação é agravada quando o processo de cura que Manoli e Haggard começam a trabalhar em Crest deixa o alienígena desacordado. Basicamente enfrentando o fim de um sonho que mal começou, Rhodan precisa resistir, e isso é o que torna o livro intenso. Observamos discussões políticas e diplomáticas ganharem espaço e mesmo com as divergências pessoais e ideológicas, a humanidade aqui realmente parece ter avançado um passo no que diz respeito ao compartilhamento de criações científicas e busca em conjunto para algo maior.

Scheer retoma a linha de tratamento psicológico que apresentou no primeiro livro, falando do impacto emocional que os eventos daquela viagem à Lua poderiam causar na tripulação. Aqui, esse aspecto volta à tona, agora considerando os homens tripulação à beira da destruição, passando horas sendo bombardeados, sentindo o chão tremer e percebendo luzes nada animadores no aparelho que sustentava a abóbada. Uma demonstração de força que faz Rhodan considerar capitulação, tendo ainda um perigo ainda maior, caso Thora interpretasse errado todo aquele ataque. O arco da personagem, aliás, ganha aqui um outro capítulo. Sua arrogância de “raça superior” e seu extremo preconceito em relação aos humanos faz com que ela subestime a tal “Espécie Classe D” e pague um preço muito alto por isso, com a destruição da grande nave exploradora dos arcônidas no final do livro.

A Abóbada Energética é um teste de resistência. Um livro sobre uma ação conjunta da humanidade, a primeira sob uma perspectiva de “paz entre os povos“, numa união para destruir um inimigo. É uma ótima forma de mostrar como as coisas se aquietaram e também juntar em um único espaço ou intenção todos os personagens importantes da saga até o momento. Claramente começa o estabelecimento verdadeiro da Terceira Potência e os primeiros passos de uma nova Era de desenvolvimento para os humanos. Da obra, meu único “senão” está no tratamento dado para a primeira comunicação afrontosa de Rhodan com Thora. Posteriormente temos uma alusão a isso, indicando que Thora havia desligado o comunicador. Mas essa conversa é utilizada como gancho narrativo e tratada como algo importante demais para ser simplesmente abandonada e só depois ter uma citação de seu insucesso. É um erro menor em um livro tão intenso e com tantas ações interessantes acontecendo, mas um ponto que não dá para ignorar.

O ataque de surpresa desencadeado pelas potências unidas destruiu a nave dos arcônidas pousada na Lua. No entanto, a cúpula energética de Rhodan, instalada no deserto de Gobi, resistiu aos ataques maciços dos exércitos da Terra. A mudança de atitude dos governantes terrenos será apenas questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde, terão de abandonar as mesquinhas idéias nacionalistas para pensar em termos internacionais e cósmicos. Para saber de que forma isso acontecerá, leia O CREPÚSCULO DOS DEUSES, o quarto volume da série Perry Rhodan.

Perry Rhodan – Livro 3: A Abóbada Energética (Die Strahlende Kuppel) — Alemanha, 22 de setembro de 1961
Autor: K. H. Scheer
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto (Ediouro) e Rodrigo de Lélis (SSPG)
Editora no Brasil: Ediouro (1975) e SSPG (20/11/2021)
168 páginas

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