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Crítica | Perry Rhodan – Livro 3000: O Mito da Terra, de Wim Vandemaan e Christian Montillon

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Ainda sem nome — Ciclo 42: Mito — Episódio: 1/100
Principais personagens: Perry Rhodan, Atlan, Giuna Linh, Zemina Paath, Kondayk-A1, Cyprian Okri
Espaço: Via Láctea (Sistema Solar de Afallach)
Tempo: 8 de setembro de 5632 (ou 2045 NCG – Novo Calendário Galáctico)

Existem dilemas na ficção científica que são capazes de nos arrastar com uma imensa facilidade para o seu centro de ação. Essa abordagem na literatura do gênero nos faz pensar sobre as muitas implicações espaço-temporais e humanas do problema apresentado, considerando as mudanças que pode trazer e a forma como pode modificar o estilo de vida de massas populacionais inteiras, independente do momento em que essa história se passa.

Iniciando o 42º Ciclo da saga, O Mito da Terra tem como cenário geral esse ambiente de modificação que citei no parágrafo anterior, instigando a curiosidade do leitor para algo que é extremamente interessante desde a sua premissa e que encontra na prosa de Wim Vandemaan e Christian Montillon uma introdução notável. Após os eventos relatados no arco anterior, ligados à chamada “Queima de Mundos”, Perry Rhodan e sua equipe retornam à Via Láctea a bordo da nave Ras Tschubai, onde são imediatamente confrontados com uma situação impensável. O tempo em que passaram em sono programado para o grande salto espaço-temporal durou muitíssimo mais do que o previsto, e agora eles estão de volta à Galáxia… 493 anos no futuro. Um salto de tempo definitivamente problemático.

Há uma grande sensação de medo envolvendo todas as camadas da história. Em uma delas, conhecemos a jornada de Giuna Linh, que está decidida a salvar o marido Lanko Wor de uma “prisão onde a fuga é impossível“, o que acaba colocando-a em contato com os insuspeitos Kondayk-A1 e Cyprian Okri. O leitor não tem aqui a quantidade necessária de elementos para fazer a devida ligação entre esse bloco com o de Rhodan, mas há um fio condutor que atravessa ambos: o fato de o planeta Terra ser um mito nessa realidade futura, e de haver apenas alguns terranos que acreditam que essas histórias não são um mito. Nesse ponto, o “mito da Terra” não é tratado com espanto, porque estamos diante de pessoas contemporâneas a esse ano de 2045 NCG (Novo Calendário Galáctico, correspondente ao ano 5632 da Era Cristã), mas existe uma luta e uma insatisfação no ar. O motivo dessa insatisfação é o que, de maneira indireta, liga Rhodan e sua equipe à empreitada inicialmente isolada de Giuna e seus amigos.

A Galáxia vive agora sob o “domínio de paz forçada” dos cairaneses, um povo que mantém construções, Exércitos, naves e prisões por toda a Via Láctea, impedindo que guerras aconteçam. Inúmeras populações apoiam, majoritariamente, essa nova Era. Afinal de contas, estão todos livros de guerras, de invasores, de ameaças mortais. O preço, porém, é imenso e possivelmente tem a ver com o fato de que praticamente todos os arquivos que existiam relacionados à Terra tenham desaparecido e sido substituídos por versões corrompidas. O texto traz uma sequência de ação crescente nessa parte da trama, preparando o terreno para algo que não vemos sequer os primeiros frutos aqui, mas que fica claro que terá relações bem mais interessantes nos livros futuros — e de minha parte, gostaria que pelo menos essas indicações fossem mais sólidas, para não dar a impressão de um afastamento tão grande em relação ao outro bloco, bem mais fechadinho em si.

A verdade é insondável para os habitantes da Galáxia — respondeu Anansi. — Parece que houve uma catástrofe de informação em toda a Via Láctea, o chamado Posicídio, uma corrupção e distorção abrangente de todos os dados. Em seguida, houve uma enxurrada […] Aparentemente, todos os computadores que puderam ser acessados foram inundados com dados corrompidos. Todas as mídias de armazenamento foram regravadas com informações contraditórias.

O lado de Perry Rhodan não tem uma condução ligada à ação, mas ao suspense e à tomada de decisões que claramente empurram a trama para frente. Primeiro vemos o personagem despertando e encontrando-se com Zemina Paath, que permanece um mistério até o final do livro, sendo, por enquanto, uma aliada. É dessa camada que as decisões de lutar contra a “paz imposta” dos cairaneses aparece, e de onde vemos o início de uma investigação a respeito do posicídio, algo tratado com melancolia, já que, diferente das mentes contemporâneas da Galáxia, todos os tripulantes da Ras Tschubai sabem perfeitamente que a Terra existiu, que ela não é um mito. Nessa abertura de ciclo, o dilema cai como um problema de diversas causas possíveis, tendo ainda a ideia de que não necessariamente foi arquitetado por “pessoas de fora”, mas talvez pelos próprios terranos, para fugirem de alguma ameaça.

A parte final, com a dispersão da tripulação da Ras Tschubai e o breve aparecimento de Reginald Bell dá uma ótima deixa para o encerramento, justamente naquele ponto em que a gente quer mais informações, mas precisamos esperar pelo próximo livro.

Uma das coisas mais cruéis que se pode fazer a um povo, a uma raça inteira, é retirar-lhes a identidade. E nós sabemos muito bem como isso funciona, pois é uma prática presente na civilização desde a Antiguidade. Em O Mito da Terra, vemos esse ato elevado a uma dimensão galáctica. Não tem como não ficar tenso e animado na mesma medida. O único problema é esperar muito tempo pelo próximo volume.

O voo da Ras Tschubai através do campo de alternância caotemporal mudou tudo. Perry Rhodan e a tripulação da espaçonave de longa distância se encontram em uma Galáxia que mal reconhecem. A Queima dos Mundos, que eles tentaram extinguir, parece apenas uma lenda distante, registros de dias ainda mais antigos foram corrompidos, e novos poderes governam a Via Láctea. A seguir… DEUSES E PATRONOS.

Perry Rhodan – Livro 3000: O Mito da Terra (Mythos Erde) — Alemanha, 15 de fevereiro de 2019
Autores: Wim Vandemaan e Christian Montillon
Arte da capa original: Arndt Drechsler
Tradução: Rodrigo de Lélis
Editora no Brasil: SSPG (2021)
140 páginas

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