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Crítica | Perry Rhodan – Livro 38: Avanço Para Árcon, de Kurt Mahr

Quem espera, sempre alcança... Ou não.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 38/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bull, Crest, Thora, Tako Kakuta, Novaal, Sergh, Ghorn.
Espaço: Planeta Naat (ou Arkon V), Sistema Árcon.
Tempo: Maio de 1984.

Em Avanço Para Árcon temos o início de um novo arco de histórias dentro do ciclo da Terceira Potência: O Robô Regente. Mas penso que este volume representa muito mais do que isso. Desde os primeiros momentos da série, vimos Thora, a indomável arcônida, manifestar o seu desejo ardente de voltar para casa, no que era acompanhada por Crest, embora com menos vigor e muito mais paciência para as evasivas, cautelas e adiamentos propostos por Perry Rhodan. Todavia, depois da apreensão da gigantesca nave Ganymed em O Planeta Louco, não havia mais nenhuma possibilidade de adiar essa ida ao planeta-sede dos seres que ajudaram a humanidade a romper as fronteiras do Universo. E é sob essa premissa que o escritor Kurt Mahr trabalha já no início desse intenso livro.

Existe, porém, um estranhamento em relação ao contexto, e essa sensação tem sido relativamente nova na série, à medida que o escopo de ação de Terrânea e de seus principais representantes se espalha pela Via Láctea. Sentimos falta de um simples panorama sobre como as coisas estavam funcionando na Terra, como estava o crescimento de Terrânea e onde estavam os outros mutantes do Exército. Desde a transição entre O Imperador de Nova York e Voo Para o Infinito, os autores não têm se preocupado muito em trabalhar em cima de tsunamis de elipses, no que diz respeito ao contexto. Os arcos agora estão muito mais centrados em si mesmos e o leitor fica apenas na curiosidade para saber como estão outros cenários e personagens da série.

Até mesmo a tripulação escolhida para as novas viagens acaba sendo algo misterioso, com exceção dos maiores figurões. E sim, é verdade que o livro nos apresenta, antes mesmo do capítulo inicial, os personagens principais daquela obra. Mas isso é uma coisa, já o contexto para eles, a maneira de inclusão desses indivíduos na trama é outra bem diferente. Em alguns casos, essas ocultações acabam tendo um bom entrosamento com a narrativa, e parece algo orgânico e interessante no volume. Em uma história como esta, que já começa com uma intensa preparação para uma viagem que vem sendo anunciada há muito tempo, é impossível não sentir falta de melhor contexto para as coisas na Terra, especialmente depois de passarmos bastante tempo fora, no Planeta Goszuls. Todavia, colocado isso de lado, estamos diante de um texto muito intenso, com um mistério bélico interessantíssimo e uma situação-armadilha no final que vai para a lista dos notáveis cliffhangers desse ciclo.

Encontrar os arcônidas em guerra contra um dos povos de seu Império é uma surpresa para todo mundo, mas essa surpresa inicial — e toda a preocupação que um cenário de guerra causa a Rhodan, além do perigo em que coloca toda a tripulação da Ganymed — não se compara ao que vem depois; embora não fosse exatamente um mistério o fato de que iria chegar um momento em que a decadência mental e comportamental dos arcônidas os impossibilitaria de seguir governando o Império. E sem o conhecimento de ninguém, alguns sábios estabeleceram que, quando isso acontecesse, um colossal cérebro positrônico deveria assumir o governo. Eis o status no qual os viajantes encontram o que era antes o centro do poder e do desenvolvimento. Em certa medida, me levou mentalmente para histórias como Batalha no Setor Vega ou, em relação ao encadeamento que temos no final, para Os Rebeldes de Tuglan.

Esse novo momento traz uma Thora cheia de contradições, mostrando que ela ainda é uma das personagens mais enigmáticas, interessantes e imprevisíveis da série. Inicialmente vemos retornar a sua xenofobia e até mesmo racismo em relação a Novaal, o guia de Naat que escolta a Ganymed até esse mundo do tamanho de Júpiter e geograficamente parecido com Marte, e lá “abandona” a nave, que não consegue mais decolar. A armadilha preocupa tanto quanto as surpresas pelo que deve vir adiante. Os personagens estão à mercê de um cérebro positrônico e de um “governador” arcônida que não faz absolutamente nada para ajudar os prisioneiros.

Toda a jornada de exploração de Rhodan, Bell e Tako na casa-funil de Sergh foi escrita com bastante cuidado, com um evento melhor que o outro. Quero destacar, nesse bloco, os momentos de exploração da casa, o mistério que cada cômodo pode oferecer e as armadilhas arcônidas que são previamente anunciadas e acabam tendo uma excelente colocação para apimentar ainda mais a invasão dos terranos ao local. Me fez lembrar os contos de Robert E. Howard, pela maneira como muitas vezes colocou Conan explorando palácios cheios de desagradáveis surpresas, pessoas misteriosas e difícil saída.

Avanço Para Árcon é um título excelente, se pensarmos no que esse novo bloco de aventuras nos promete. Aliás, vejo nele uma pontada de ironia também, porque estamos diante de mais um golpe poderoso no ego de Crest e Thora, que imaginavam que seriam recebidos com honras, mas encontraram um planeta muito diferente daquele que deixaram 13 anos antes. A terrível imprevisibilidade da sociedade e da política que acaba afetando a tudo e a todos. Disso, aqui no nosso canto e na nossa realidade, a gente entende muito bem.

A Ganymed está no espaço porto de Naat, onde campos energéticos invencíveis a mantêm cativa ao solo. Mas Perry Rhodan ainda dispõe de um trunfo que ainda não lançou no jogo… Conseguirá sair de Naat com seus homens sem que seu captor o perceba e visitar o Imperador de Árcon? Procure a resposta em O MUNDO DOS TRÊS PLANETAS, próximo volume da série Perry Rhodan.

Perry Rhodan – Livro 38: Avanço Para Árcon (Vorstoß nach Arkon) — Alemanha, 25 de maio de 1962
Autor: Kurt Mahr
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1976)
172 páginas

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