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Crítica | Perry Rhodan – Livro 42: S.O.S. – Espaçonave Titan, de Kurt Brand

Não se deve confiar em ursinhos fofos.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 42/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Thora, Crest, Gucky, Wuriu Sengu, Oberst Freyt, Julian Tifflor.
Espaço: Planeta Honur.
Tempo: 1984.

Este é apenas o segundo livro de Kurt Brand para a saga Perry Rhodan e eu confesso que estava tão acostumado com as narrativas dos autores mais recorrentes, que estranhei, em um primeiro momento, o retorno de um estilo consideravelmente diferente, ainda bem mais do que o autor nos apresentou em Levtan, o Traidor. Brand me parece aqui muito preocupado em fornecer contextos, uma abordagem ideal para começar este livro, mostrando a saída de Rhodan e todos os companheiros do planeta Zalit, ao final de O Aliado do Gigante, e tomando duas decisões que chamam muito a nossa atenção. A primeira delas é bastante esperada e se resolve rápido: a nave Ganymed, com tripulação completa, volta para o planeta Terra. As condições do salto desta nave são uma parte da segunda decisão de Rhodan, que é esconder-se do Robô Regente de Árcon, partindo para o sistema de Thatrel e estabelecendo-se em Honur, um planeta abandonado há muitos séculos pelos arcônidas.

A viagem da Ganymed se dá sem maiores problemas porque ela possui um compensador estrutural, dispositivo construído pelos Saltadores que permite um salto na quinta dimensão sem que seja descoberto qualquer tipo de radar. Em Terrânia, eles precisam construir um “compensador” maior, levá-lo até Honur e, com esse aparelho, Rhodan estará disposto a fazer o salto de volta para casa ou para algum outro sistema onde pode procurar a raça que está por trás dos moofs. Vejam que existe aí todo um enredo de fuga bem mais intenso do que a gente tinha antes, o que me fez questionar, por muitas páginas, por que Rhodan queria tanto se esconder do cérebro positrônico, já que havia um acordo entre eles. Sim, o texto nos dá algumas pistas, mostrando dezenas de naves seguindo a Titan assim que ela sai de Zalit, mas a dimensão dessa fuga cresce tão rapidamente que a gente tem a impressão de que há algo a mais que não nos foi revelado.

Passada a execução de primeiros planos de fuga e esconderijo, o autor se dedica a narrar a estadia da Titan e sua tripulação em Honur, com alguns cortes para a Terra, a fim de mostrar as conversas e a preparação para construir o “compensador” no prazo combinado com Rhodan. Estadias em planetas selvagens na série, até o presente momento, sempre acabam tendo a cara daquelas ótimas aventuras em Vênus, no início da saga (com destaque para o trio Ameaça a Vênus, A Fuga de Thora e Chave Secreta X), e é essa atmosfera que experimentamos em Honur, nas primeiras páginas que mostra a chegada da Titan e a exploração com uma nave menor, um pouco mais adiante. Mas o autor vai pouco a pouco descortinando uma sensação de perigo que parece nunca chegar ao fim. É uma expectativa intensa, que fica cada vez mais estranha porque tudo está “absolutamente normal” naquele lugar, sem oferecer riscos a nada ou ninguém, o que deixa tanto o leitor quanto alguns tripulantes da Titan ainda mais indecisos. Em dado momento, Rhodan diz que nunca viu tantas vezes as palavras “normal” e “nenhum perigo” em relatórios sobre um lugar que ele aportou. Pouco tempo depois, essa percepção mudaria drasticamente.

A chegada de um perigo a partir de algo inesperado causa um grande impacto em qualquer tipo de narrativa, pelos motivos óbvios. Mas isso é engrandecido quando o comportamento das pessoas diante do perigo é igualmente colocado na esfera do inesperado, exatamente como acontece aqui. Os ursinhos (nonus) que os Purificados (nativos do planeta, também chamados de honos) deram ao pessoal da Titan exalam uma toxina que acaba deixando 700 pessoas doentes na nave, em estado de descontrolada e mortal euforia. É pavoroso o retrato que o autor nos pinta, descrevendo como a tripulação gargalhava, pulava e gritava de “alegria”, sem ter vontade de comer, beber, dormir ou cumprir qualquer outro tipo de tarefa além de “ser feliz”. E é com esse tom terrível, somado a um resgate de última hora (meio Deus Ex Machina, na verdade, mas não tão descarado porque já se esperava a chegada da Ganymed) que o autor nos deixa, após uma fuga estratégica de Rhodan e encontro com mais naves de robôs próximas a Honur.

Aqui fica ainda mais intenso o mistério por trás de um povo, uma raça ou um grupo que está movendo essas coisas à distância. Primeiro, toda a situação com os moofs. Depois, a influência mental em Thora e Bell (que aqui se estabelece oficialmente como gordo, algo que não tinha sido colocado de maneira tão reforçada nos outros livros — para mim foi uma surpresa, porque eu tinha entendido a descrição de Bell apenas “troncudo”) para descansarem em Honur e esperarem a Ganymed. E por fim, a estratégia por trás dos ursinhos tóxicos do planeta, com direito a uma frota de robôs aparecendo para fazer a limpa na nave e matar a tripulação infectada. Apesar de muitas coincidências que tornam a narrativa menos interessante e algumas construções de texto muito estranhas (e aqui eu não sei se culpo o autor ou a tradução de S. Pereira Magalhães, mas tenho uma leve inclinação à segunda opção), S.O.S. – Espaçonave Titan coloca Rhodan e sua equipe em um tipo de perigo que a gente nunca tinha visto antes, a ponto de Perry quase jogar a toalha. A curiosidade para saber quem move essas forças misteriosas ficou ainda maior depois dessa obra!

Uma super belonave se torna também indefesa, quando sua tripulação não pensa mais em obedecer às ordens de seu comandante. O estado de coisas provocado pela contaminação em massa era desesperador para a Titan e seus comandantes — e somente a Ganymed é que, no último minuto, a salvou do ataque das naves-robô. Mas o que acontecerá com os 700 doentes a bordo da Titan? Haverá possibilidade de cura ou estão todos irremediavelmente condenados à morte? Só os causadores da doença é que podem responder a esta pergunta – e para descobrir estes causadores, Perry tem que voltar à armadilha das espaçonaves. Em CUIDADOS COM OS MICRORROBÔS, Perry Rhodan voltará com disposição redrobada.  

Perry Rhodan – Livro 42: S.O.S.: Espaçonave Titan (Raumschiff TITAN funkt SOS) — Alemanha, 22 de junho de 1962
Autor: Kurt Brand
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: S. Pereira Magalhães
Editora no Brasil: Ediouro (1976)
170 páginas

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