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Crítica | Perry Rhodan – Livro 45: Aralon, o Centro de Epidemias, de Clark Darlton

Os médicos galácticos não lutam com armas convencionais.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 45/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Julian Tifflor, Wuriu Sengu, Thora, Gucky, Themos, Talamon.
Espaço: Planeta Alaron
Tempo: 1984

Clark Darlton nos entrega neste livro uma das aventuras mais críticas vistas no ciclo A Terceira Potência, encerrando o arco de aventuras do Robô Regente — que foi iniciado lá em Avanço Para Árcon — e abrindo as portas para o arco seguinte, que seguirá até à última história do ciclo, formando o segundo arco dos Saltadores na saga. Eu estava muito ansioso por esta aventura. A maneira como ficamos em O Homem e o Monstro já trazia uma boa quantidade de ameaças para os terranos e exigia de Perry Rhodan ações rápidas, além de boa estratégia e sabedoria na demonstração de força e na capacidade de exercer a diplomacia com outros povos. Acho importante levantar essa bola, porque Rhodan é um personagem que vem passando por interessantíssimas transformações ao longo dessa primeira leva da série, indo do mocinho perfeitinho até alguém com áreas cinzas que o aproxima de qualquer humano comum, apesar de suas imensas e elogiosas capacidades mentais, instintivas e comportamentais.

Até o momento, Rhodan é um homem que alterna entre fases onde busca a guerra e a conquista; e fases em que pretende mostrar a força do império terrano/arcônida através de ações de intimidação ou conversas amigáveis, onde ambas as partes podem sair ganhando. Aralon, o Centro de Epidemias é um desses momentos, especialmente na amizade que o chefe da Terceira Potência firma com o Superpesado Talamon. No contexto geral, a missão ao planeta Aralon é desesperada, mas tudo acontece de forma bastante ágil e coerente. É muito bom perceber o quanto Clark Darlton foi modificando o se estilo de escrita, perdendo menos tempo em contextos inúteis na exploração de um novo mundo e focando nas ações dos grupos isolados e na interação entre esses grupos — não sou exatamente fã do modo de narração dupla (prefiro quando o autor usa o tempo diegético a fim de não ficar repetindo diálogos), mas isso é apenas um detalhe de abordagem.

O tempo para a cura dos tripulantes da Titan, infectados com a peste dos nonus, urge. Eles correm risco de morte. É necessário que essas pessoas sejam imediatamente medicadas, a fim de alcançarem a cura. E é aí que entra o plano ousado de Rhodan ao enviar Julian Tifflor e Wuriu Sengu para o planeta-hospital (ou, nos bastidores, o “laboratório de enfermidades”). Ali, eles precisavam colocar Thora em tratamento e preparar o caminho para que a equipe terrana + Crest e a frota de robôs arcônidas entrassem em ação. Mas como muita coisa dá errado logo no começo, o leitor é jogado em uma maré de eventos perigosos e incertos para todos os personagens, com Tiff e Sengu correndo risco de serem mortos, servindo como corpos experimentais para os cientistas daquele planeta.

É nesse aspecto da narrativa que o texto insere uma bem direcionada crítica à indústria hospitalar e farmacêutica. Às instituições que servem como prorrogadoras do sofrimento das pessoas, apenas para lucrarem com isso. Aos laboratórios que destroem, boicotam ou conseguem impedir de forma política ou judicial o desenvolvimento de estudos ou medicamentos que podem curar as mais terríveis doenças. Isso porque os remédios ineficazes em circulação têm a capacidade de gerar mais lucro, em diversas frentes, para esses grupos. E por mais “conspiracionista” que essa crítica pareça, ela é perfeitamente aplicável à nossa realidade, e não apenas no século XXI. No planeta Aralon, os cientistas ainda iam além. Produziam doenças os seus remédios de cura, a fim de venderem a altos preços o tratamento para povos infectados. Esse poder nas mãos mãos dos médicos Aras, fazia com que fossem vistos ou tratados com muito cuidado por todos, tanto que o planeta não tinha sequer uma divisão de defesa, uma vez que ninguém ousava atacar aquilo que parecia ser apenas um mundo para o qual todos iriam se curar de alguma doença.

É claro que uma ação dessas não iria passar em branco pela Galáxia, e é justamente nessa linha de pensamento que foca a parte final do enredo. Foi muito bom ver o retorno de Bell à ativa. Em contrapartida, foi irritante ver a insistência do autor em colocar a briga de Bell com Gucky em evidência. Eu gosto muito desses dois personagens, mas já há algum tempo a relação deles tem sido forçada em inúmeras cenas. Agora também deram para fazer com que Gucky exija que as pessoas cocem o pelo dele por um determinado número de horas, o que é absurdo e também não se encaixa nesse ambiente ou construção narrativa. É um daqueles problemas que não atrapalham de forma basilar a aventura e que a gente sabe que vai ter que aprender a conviver com, já que se mostra como uma orientação geral dos editores da série.

Com o retorno da Titan e toda a equipe da Terceira Potência para Árcon, Rhodan deve ter mais uma fase de negociação com o Cérebro Positrônico, claramente ligada aos Saltadores… ou aos Aras, numa possível tentativa de vingança. Fica em evidência, porém, a maneira épica como Rhodan tem se imposto até aos grupos galácticos mais fortes e mais antigos do que ele e sua raça, fazendo com que a fama do Império Arcônida volte a ser o que era antes. Se bem que, pelas deixas que temos ao longo de tantos volumes, entendemos que esse prestígio, em pouco tempo, deverá ganhar o nome e a orientação que verdadeiramente tem, e esta não é arcônida. O que estamos vendo não é exatamente “um retorno da vivacidade de Árcon“, mas sim os primeiros passos de demonstração de força do Império Terrano.

Havia muitos observadores que acompanhavam a ação de Rhodan com uma tremenda atenção. Era a primeira vez na história do Grande Império que alguém se levantava, intervinha com a mão de ferro nos acontecimentos de Aralon e dava uma lição amarga aos médicos galácticos. Será que os Aras tomarão essa lição a peito e passarão a agir exclusivamente em benefício da Galáxia? Em PROJETO AÇO ARCÔNIDA, uma estranha ameaça surge.

Perry Rhodan – Livro 45: Aralon, o Centro de Epidemias (Seuchenherd Aralon) — Alemanha, 13 de julho de 1962
Autor: Clark Darlton
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1977)
168 páginas

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