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Crítica | Perry Rhodan – Livro 49: A Morte da Terra, de Clark Darlton

O fim de uma Era para os terranos.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 49/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Major Deringhouse, Al-Khor, Ber-Ka, Cekztel, Topthor, Gucky.
Espaço: Sistema Beta (ou Betelgeuse); Planetas Betelgeuse III (Terra II) e Betelgeuse IV (Aqua)
Tempo: Final de 1984

Um fim, em vários sentidos. A Morte da Terra, de Clark Darlton, representa o encerramento do ciclo A Terceira Potência e diegeticamente, fixa um marco na História da humanidade. Apesar de a concepção mostrada no volume anterior (O Olho Vermelho do Sistema Beta) ser atravessada por uma coincidência intragável, o plano de Rhodan é uma inteligente forma de deixar a Terra tranquila por algumas décadas, livre da ganância ou ódio de algumas raças no Universo, enquanto se prepara tecnologicamente para o futuro, para a construção de uma nova fase de dominação da Via Láctea, porque é isto que aparece muito forte ao final do presente ciclo. Rhodan está intensamente beligerante aqui, com ganas de conquistador e nada diplomático, dando expressas ordens de extermínio mesmo quando existem dezenas de caminhos não violentos para seguir. É claro que em contato com inimigos como os Tópsidas, Saltadores ou Superpesados (que são uma espécie dos Saltadores), muita coisa pode dar errado. Mas como aconteceu diversas vezes antes, o final trágico é atingido por legítima defesa. Não por ordem expressa de “tiro para matar” à primeira vista.

Entretanto, não faço essa exposição com olhos acusadoramente negativos. Embora não concorde com muitas ordens de Rhodan, especialmente nos livros finais deste ciclo, eu acho muito bom que os autores da série tenham colocado o personagem atravessando as muitas variações cinzentas de sua personalidade e alinhamento moral. O fato de ele não ser um líder certinho e tomar atitudes que podemos criticar de maneira muito fervorosa torna-o ainda mais interessante como personagem, o que acaba acontecendo, por tabela, com o restante dos núcleos narrativos — especialmente em um cenário de guerra, como este. Tudo está armado no Sistema Beta. Os Tópsidas atacam os humanos, achando que são Saltadores; e os Saltadores atacam o terceiro planeta deste Sol, achando que estão destruindo a Terra. É um jogo de engano que dá muito certo para os terranos e tem uma execução simples e positiva, no geral, mas sem os detalhes ou até mesmo o cuidado épico que já vimos em outras campanhas de conquista na série.

Eu tenho a impressão de que os dois últimos livros foram escritos com muita pressa e vontade máxima do autor em acabar logo. Ao longo desse primeiro ciclo, eu me deparei com volumes que tinham os seus momentos ruins ou blocos inteiros que foram narrativamente questionáveis (e não nos esqueçamos de Os Espíritos de Gol, que é uma obra medíocre mesmo), mas sempre que se tratava de uma finalização de sub-arco ou de um drama interno, os autores (principalmente Clark Darlton!) se esforçavam para fazer jus ao momento intenso. Nessas edições finais, à exceção do fantástico Aralon, o Centro de Epidemias, eu não senti nada disso. Apesar de toda a grandiosidade do evento em cena, as batalhas foram descritas de maneira distanciada, quase despreocupada, como se realmente não tivessem importância. A mesma coisa vale para a alternância de foco entre diferentes núcleos de personagens. Faltaram momentos de desespero e momentos de maior suspense, especialmente porque tudo isso foi um circo para os Saltadores!

Um desconto pode ser dado para as cenas com Al-Khor e Topthor, mas de novo, eu tive a sensação de que o autor queria terminar o quanto antes a interação, matar esses dois obstáculos, dar a vitória real para Rhodan e começar logo a escrever o livro de número 50, que se passa no ano de 2040 e mostra uma Terra diferente da que conhecemos na série até então. No geral, o leitor ainda se prende às poucas cenas que realmente narram alguma ação e também eleva sua expectativa para como Gucky irá agir ou como Rhodan irá dar o seu “golpe de misericórdia”. Por falar no rato-castor, Darlton está um pouquinho mais controlado na chatice de tratamento para o personagem, mas ainda erra muito a mão ao colocá-lo desaparecendo sem avisar nada ao Exército de Mutantes ou a Rhodan. É incrível como Gucky de repente virou esse personagem caótico e rebelde que nunca foi! Estava posto, literalmente, em vários livros após a sua primeira aparição, que a única pessoa a quem ele realmente devia respeito/obediência era Rhodan. Agora, nem ao chefe ele parece respeitar mais, pois falha em prestar contas antes de agir. Torço para que no próximo ciclo ele venha com um tratamento igual ao que era quando entrou na série. É um personagem muito bom para ser estragado por essa chatice de rebeldia sem sentido e das apostas bobas com os outros membros das naves em que viaja.

Entramos em um novo tempo, e essa afirmação vale para mim também, como leitor. É bacana subir humildemente o primeiro grande degrau de uma colossal escadaria que é esta série, uma descoberta que traz ainda mais curiosidade para o futuro. Ao longo desses 49 livros, eu ri, me emocionei e vibrei com muitas coisas, tendo um saldo geral tremendamente positivo. Há apenas um único livro que achei verdadeiramente fraco nesta leva (o já citado Espíritos de Gol), e algumas poucas decepções isoladas, sendo a principal delas, o tratamento progressivamente chateante dado a Gucky. Também quero dizer que foi engraçado ver como Bell foi se tornando “o gordo” da turma. Nos primeiros livros ele era uma pessoa de corpo padrão, depois foi sendo narrado como “forte“, depois virou “rechonchudo” e agora, no final do ciclo, virou “gordo” mesmo. Eu fico pensando se os autores propositalmente foram fazendo o personagem engordar ou só esqueceram de como era o físico de Bell no começo e, para efeito cômico (se “piadas” com gente gorda são feitas até hoje, imaginem só o senso de humor para esta seara nos anos 60!), passaram a tratá-lo dessa forma. Mas tudo isso fica para trás. Ou será que não? O que nos aguarda em 2040? Até aqui, foi uma sensacional aventura. Espero continuar me impressionando. Vamos adiante!

Graças à sorte e a Gucky, o maravilhoso plano de Perry Rhodan — que teria de dar a todos os seres inteligentes das Galáxias a impressão de que a Terra estava destruída — foi bem sucedido. A humanidade ganhou, assim, tempo para um desenvolvimento tranquilo e para a formação do poderoso “Império Solar”. Os dramáticos acontecimentos, que se desenrolam no ano 2040, lhe permitirão viver uma época nova da História da humanidade. Em ATLAN, O SOLITÁRIO DO TEMPO, título do próximo volume da série, um encontro de gigantes acontece. 

Perry Rhodan – Livro 49: A Morte da Terra (Die Erde stirbt) — Alemanha, 10 de agosto de 1962
Autor: Clark Darlton
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: S. Pereira Magalhães
Editora no Brasil: Ediouro (1977)
175 páginas

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