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Crítica | Perry Rhodan – Livro 54: O Duelo, de K. H. Scheer

O Império Solar ganha um aliado inestimável.

por Luiz Santiago
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Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 2: Atlan e Árcon — Episódio: 54/99
Principais personagens: Atlan, Perry Rhodan, Marlis Gentner, Gunter Viesspahn, Gucky, Tombe Gmuna.
Espaço: Planeta Terra e Planeta Vênus
Tempo: junho e julho de 2040

O rumo que o escritor K. H. Scheer deu para Atlan (personagem que criou em O Solitário do Tempo) neste livro, tornou o arcônida ainda mais interessante do que já era. A partir deste volume, encontramos no tal “Solitário” um inestimável aliado para o Império Solar. Depois de sua prisão e enfrentamento inicial com Rhodan, eu não imaginava que haveria uma tentativa de fuga pela frente, apenas uma aproximação orgânica dele com o chefe da Terceira Potência, mas o autor quis que esse pacto tivesse um alto preço, antes que as coisas realmente se tornassem amigáveis. Através da estudante Marlis Gentner, Atlan consegue reaver os seus dispositivos e ousar uma fuga, o que o leva ao planeta Vênus, assim como a uma parte do Exército de Mutantes — e ao próprio Rhodan.

K. H. Scheer passa metade do livro construindo os aspectos gerais da escapada, primeiro, dando alguns detalhes sobre a segurança de Terrânia; depois focando nos meios que permitiriam a saída de Atlan da Terra, sua chegada a Vênus e a captura de uma nave que o levasse até Árcon. Há uma neurose misturada com orgulho e teimosia que impedem o personagem de medir com mais rigor as consequências de seus atos, tanto que a fuga passa por uma quantidade enorme de problema justamente porque ele subestima Rhodan, o trabalho de segurança dos humanos e, em alguns casos, até os mutantes. Bem, isso pelo menos na superfície. Talvez uma das coisas que mais me chamam atenção em Atlan é que ele reconhece a sua pior faceta, dá vazão a ela em alguns momentos, mas deixa claro que existe outro ponto de vista, mais humano, mais diplomático, que ele tende a simpatizar e finalmente seguir… mesmo que seu “segundo cérebro” ou “sexto sentido” rejeite.

Foi ótimo retornar a Vênus depois de algum tempo de colonização terrana! Nós já conhecemos bem o lado selvagem do planeta, passamos por maus bocados naquelas selvas e mares cheios de animais mortíferos, e é com um olhar de orgulho para a humanidade que olhamos o status do planeta neste ponto de sua História. Aliás, vale destacar algo que o autor trabalha, com olhar crítico, em relação à colonização. Ele passa um tempo falando sobre o domínio da Terra frente a Vênus, sobre as revoltas ligadas a impostos e o sentimento separatista que nasceu em alguns grupos ali. Em O Pseudo, já tínhamos tido uma citação a essa problemática, e agora ela volta à tona. E não levanto essa bola como antecipação de alguma guerra civil no Império Solar nem nada do tipo, mas com a finalidade de chamar atenção para o fato de que a Terra agora coloniza outros lugares e que as pessoas desses lugares não necessariamente querem continuar prestando serviços, obedecendo leis ou pagando impostos para a Terra. E como era de se esperar, há repressão a essas revoltas, mesmo que de forma leve, como percebemos no já citado volume 52.

O duelo entre Rhodan e Atlan não é exatamente a grandiosa coisa que o título indica, mas eu já estou tão vacinado com essa série (bem, depois de 54 livros a gente se familiariza com a linha editorial da publicação, não é mesmo?), que não esperava, realmente, algo muito grandioso. Tomei “o duelo” como algo mais simbólico do que físico. E para ser sincero, o embate entre os dois homens aqui tem até um caráter anticlimático, porque é feito com espadas e com as duas partes claramente segurando-se para não darem o melhor de si — um querendo preservar a vida do outro. O duelo não é a intenção e nem a grande proposta da obra. O que se destaca é a circunstância que retirou Atlan de sua neurose arcônida e o colocou ao lado de Rhodan. E isso não acontece de maneira subserviente. O autor deixa muito claro que Atlan e Rhodan são iguais. Ambos se admiram, ambos sabem que são pessoas muito boas no que fazem, mas não existem elementos de inferioridade na relação deles a partir desse ponto — pelo menos é isso que o desfecho do duelo indica e creio que será a tônica desse personagem na série.

Faz todo sentido a demonstração dos habitantes de Vênus como pessoas duronas e rudes. Imagino que alguns leitores podem interpretar esse tratamento como uma indicação de preconceito (diegético, mas ancorado na realidade) por parte do autor, ou alguma estereotipação de povos colonizados. Contudo, não creio que seja o caso. Evidentemente isso é possível, na literatura, mas no caso de K. H. Scheer, de quem já conheço tantas narrativas tratando de raças e de relações inter-raciais/interplanetárias, não vejo nenhuma indicação dessa abordagem como preconceituosa. E certamente não vejo esse tratamento específico que ele dá aos venusianos (nativos ou colonos) como algo negativo. A geografia, a fauna e a flora do planeta moldam ou quase que exigem esse tipo de personalidade mais durona, o que faz total sentido narrativo para aquele ambiente.

Agora com Atlan do lado do Império Solar, Árcon que se cuide! O único ponto negativo é que demorará algum tempinho para que o Solitário do Tempo volte a aparecer na série. Até aqui, este é o arco dramático que mais me tem chamado atenção no ciclo. Mas já sabendo que teremos mutantes rebelados e uma referência ao Supercrânio (será que ele morreu mesmo?) já me deixa igualmente animado e ansioso para o próximo volume.

Atlan já não representa perigo para a existência do Império Solar, pois o arcônida percebeu que qualquer oposição aos planos de Rhodan seria insensata… Torna-se aliado de Perry. No ´róximo volume da série, A SOMBRA DO SUPERCRÂNIO, surge um acontecimento com o qual ninguém contava: os mutantes se revoltam. 

Perry Rhodan – Livro 54: O Duelo (Der Zweikampf) — Alemanha, 14 de setembro de 1962
Autor: K. H. Scheer
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1977)
190 páginas

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