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Crítica | Pinóquio (2022)

Nem lúdico e nem emotivo.

por Fernando Campos
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Pinóquio é uma história infantil de outro tempo, aquele em que os contos se preocupavam mais em transmitir valores tradicionais para as crianças e menos em dialogar com elas. Seja na animação de 1940 ou no romance de Carlo Collodi, acompanhamos aprendemos sobre a importância de focar nos estudos, obedecer os pais e fugir de tentações mundanas. Obviamente, não há nada de errado com esses princípios, mas ao mesmo não é o tipo de conteúdo que atraia o dinâmico público juvenil atual. Portanto, diferente dos demais remakes recentes de animações clássicas, a tarefa do diretor Robert Zemeckis era ainda mais complicada em Pinóquio (2022), por ser a obra de essência mais datada e menos romântica.

Quem conhece o histórico de Zemeckis, sabe que o realizador está à altura do desafio, mas o resultado de Pinóquio é parecido com as últimas produções desse tipo, ou seja, um filme pouco atrativo e que soa como um mero derivado. O longa inicia apresentando Gepeto (Tom Hanks), um carpinteiro que constrói um boneco de madeira que se chama Pinóquio (Benjamin Evan Ainsworth). Ele trata o boneco como se fosse seu filho de verdade e devido ao seu amor genuíno, a Fada Azul (Cynthia Erivo) concede o desejo do carpinteiro de fazer com que o objeto crie vida, mas que não se transforme em um menino de verdade. Segundo a fada, Pinóquio só será um garoto quando aprender a ser honesto, gentil e amoroso, fazendo ele entrar em uma aventura junto com o Grilo Falante (Joseph Gordon-Levitt), buscando entender quem realmente é.

Ainda que ache o arco de Pinóquio datado, os problemas da obra são especialmente visuais. Mesmo tentando propor uma experiência bastante ativa, com um uso constante de dollys, criando um senso visual de reflexão, e planos gerais que ressaltam os cenários coloridos, Zemeckis falha no uso de efeitos visuais e na iluminação. Quando acompanhamos momentos mais intimistas, a combinação dos personagens construídos em CGI com o elenco real causa estranhamento, quebrando qualquer encantamento que o filme poderia atingir. O maior exemplo disso está na cena em que Gepeto constrói Pinóquio enquanto interage com um gato e um peixe de estimação claramente digitais, flertando com o ridículo pela artificialidade dos animais.

Curiosamente, nenhum dos problemas apontados anteriormente acontecem na sequência da Ilha dos Prazeres, único momento notável do longa. A demasia de elementos em tela, seja a quantidade de crianças ou a luminosidade do lugar, combinam melhor com a artificialidade da direção, remetendo a algo mais imaginário do que real. No entanto, é apenas uma parte em meio a várias cenas pouco atraentes e mal iluminadas.

Incapaz de cativar visualmente, Pinóquio acaba atraindo atenção demais para a trama, que também está longe de encantar. Mesmo nos convencendo do afeto de Gepeto por Pinóquio, especialmente pela atuação fofa de Tom Hanks, o roteiro erra ao promover uma entrada e saída constante de personagens. A opção impede que nos apeguemos com os diferentes núcleos, ao mesmo tempo que o fato do protagonista não conduzir a narrativa, mas ser arrastado por ela, tira força do personagem dentro da própria história. Se o longa optasse por, ao menos, mostrar em detalhes a dor do homem longe do “filho”, isso poderia causar algum impacto dramático, mas o que acompanhamos é o boneco de madeira saltando de um lugar para outro com um propósito nada palpável.

O fato é que uma história como Pinóquio necessita do lúdico para atingir, seja o público infantil ou adulto. O diferencial de optar por uma técnica de animação é justamente evocar com mais facilidade nosso imaginário. Substituir isso por live action de forma eficiente demanda um detalhismo e sensibilidade que a Disney até aqui não mostrou em sua onda de remakes. Inclusive, efeitos digitais não tem sido o forte de nenhuma produção recente do estúdio. Quem diria que a fábrica de sonhos desaprenderia a fazer filmes para crianças.

Pinóquio (Pinocchio – EUA, 08 de setembro de 2022)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis, Chris Weitz (baseado em criação de Carlo Collodi)
Elenco: Tom Hanks, Benjamin Evan Ainsworth, Joseph Gordon-Levitt, Cynthia Erivo, Giuseppe Battiston, Kyanne Lamaya, Lorraine Bracco, Keegan-Michael Key, Jaquita Ta’le, Jamie Demetriou, Angus Wright, Sheila Atim, Luke Evans, Lewin Lloyd
Duração: 105 min.

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