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Crítica | Piraíba: O Tubarão da Amazônia, de George Silva

A jornada do aventureiro George Silva rumo ao encontro com a temida Piraíba, um "monstro" das águas amazônicas.

por Leonardo Campos
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Lendas e mitos sobre criaturas aquáticas monstruosas habitam o imaginário ocidental há eras, desde os tempos da poesia homérica, passeando pelas jornadas de colonização do continente americano. Sereias, tubarões, dragões e outras tantas figuras aladas estabeleceram o seu reinado de medo em diversas sociedades que tinham nas mitologias as bases para crenças e manutenção da ordem. Num salto temporal aos tempos modernos, este imaginário continua vivo e intenso. Uma prova disso é o painel de relatos sobre a Piraíba, um peixe de água doce de enormes proporções, conhecido também pela alcunha de tubarão amazônico, haja vista a sua agressividade, bem como visual imponente, um predador de topo das caudalosas e escurecidas águas dos rios que atravessam partes do nosso extenso continente.

Quem nos conta um curioso encontro com esta “besta” das águas brasileira é o aventureiro George Silva, um amante da natureza, homem cheio de fé, praticante de triatlo, experiente como soldado, cabo e sargento da Força Aérea Brasileira, uma pessoa de muita fé no divino, a julgar pelas numerosas referências aos textos bíblicos no livro Piraíba: O Tubarão da Amazônia, lançado em julho de 2020 pela Amazon, um relato de 118 páginas cheio de irregularidades ao longo de seu desenvolvimento, apresentados mais adiante, mas ainda assim muito curioso. Em suas primeiras páginas, o autor narra as suas experiências radicais em esportes, a história de Areia Branca, cidade natal, além de trazer curiosidades gerais sobre o rio Apodi, berço de suas preambulares aventuras juvenis.

É o ponto de partida para falar de seu encontro com o temido tubarão nas águas da praia de Boa Viagem, no Recife, palco dos relatos de Arnaud Mattoso no ótimo Mitos e Verdades Sobre os Ataques de Tubarões no Recife. No litoral de São Paulo, George Silva também teve um encontro com golfinhos, um espetáculo marinho narrado com bastante empolgação, prévia da passagem mais longa e pouco necessária do livro, o capítulo A Água, O Homem e Deus, um resumo de trechos dos monstros marinhos e da Bíblia Sagrada, com ênfase na saga de Jonas e seu encontro com a mitológica baleia. Ao versar sobre histórias de pescadores, o autor comenta sobre os mistérios que rondam as águas fluviais brasileiras, com seus candirus, jacarés, piranhas esfomeadas, pirarucus, dentre outros, todos retratados como imponentes e perigosos.

As idas e vindas até o encontro com a Piraíba se dá nos capítulos em que o autor expõe informações sobre o rio Guaporé, localizado nas imediações de Costas Marques, cidade de Rondônia onde se deu esta experiência que resultou na publicação em questão. O mais temido peixe dos ribeirinhos tem a fama de ser violento e, neste relato com os habituais processos de antropomorfização, visto em Tubarão, de Peter Benchley e repetido por tantos autores posteriores, temos uma visão bastante assombrosa deste monstro que aparece nos canais dos rios em busca de comida e não evita um embate quando o instinto fala alto e a necessidade de se alimentar e garantir a sobrevivência estão em voga. Devorador veloz de crianças e pescadores, a Piraíba, em tupi, significa “peixe ruim”, uma criatura fascinante, ao menos pelo que relata George Silva, mas que aqui não ganhou um relato ficcional/biográfico à sua altura.

Dentre os pecados de Piraíba: O Tubarão da Amazônia, temos a diagramação que não oferta uma jornada visualmente atrativa, com cores diferentes de fontes e alguns erros volumosos de revisão, coisas bobas, mas que para o leitor mais atento, breca o fluxo de leitura e incomoda. Outra coisa é o avanço para chegar na história do contato com a Piraíba. Antes de chegar lá, o autor faz muitas digressões sobre encontros com outros seres, tais como já apresentado, isto é, golfinhos, tubarões, tirando parte do “brilho” no primeiro contato com o peixe que de fato importa neste livro. Ademais, algumas passagens soam soltas demais, num texto que demonstra falta de editoria, um detalhe que deixaria o relato de George Silva mais empolgante e oportuno. Em linhas gerais, uma publicação que aguça a curiosidade, mas termina de maneira anticlimática, nos fazendo clamar por uma segunda edição mais caprichada e com os devidos ajustes.

Piraíba: O Tubarão da Amazônia (Brasil, 2020)
Autor: George Silva
Editora: Kindle Amazon
Páginas: 118

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