Home FilmesCríticas Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

por Guilherme Coral
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estrelas 2

A franquia Piratas do Caribe, desde o primeiro filme, sempre fora lucrativa para a Disney, mesmo considerando seus altos valores de produção. Evidente que esse sucesso nas bilheterias acabaria gerando sequências e mais sequências, até o público não aguentar mais ver o capitão Jack Sparrow (e muitos já não aguentam). Seis anos após Navegando em Águas Misteriosas, ganhamos mais uma continuação da série, A Vingança de Salazar, que, pela primeira vez na franquia, não tem Ted Elliott e Terry Rossio no roteiro. A grande questão que nos acompanha enquanto assistimos a obra é: Jack já não deveria ter pendurado seu chapéu? Certamente que sim.

A trama se passa alguns anos depois dos eventos do quarto filme e Jack (Johnny Depp) novamente se encontra sem navio e sem tripulação, apenas com a miniatura do Pérola Negra e, claro, sua bússola que não aponta para o Norte. No fundo do poço, sem um tostão, Sparrow acaba entregando sua bússola como pagamento por rum. Mal sabia ele que isso libertaria o capitão Salazar (Javier Bardem), um antigo caçador espanhol de piratas, que acreditavam estar morto. Com a ajuda de Henry Turner (Brenton Thwaites) e Carina Smyth (Kaya Scodelario), Jack precisa encontrar o Tridente de Poseidon, capaz de quebrar todas as maldições do mar, salvando-o, portanto, de Salazar.

Um dos aspectos que garantem a identidade da franquia Piratas do Caribe, é como as velhas lendas do mar são utilizadas a fim de compor esse universo que mistura a fantasia com a realidade. Vimos isso com Davy Jones, a Fonte da Juventude, o Kraken, dentre diversos outros elementos. A Vingança de Salazar, contudo, soa como o capítulo que menos acrescenta nesse sentido, ainda que ofereça um olhar sobre o passado de Jack e resolva o futuro de outros. O Tridente de Poseidon é algo que jamais é verdadeiramente trabalhado e apenas devemos aceitar o que ele faz, similarmente ao navio mágico de Barba Negra no filme anterior.

Esse, contudo, está longe de ser o maior dos problemas desse longa-metragem. O que realmente dificulta nossa imersão é a constatação de que estamos diante de uma cópia descarada de A Maldição do Pérola Negra. Vejamos: temos um velho inimigo de Jack que retorna, um casal que demora a demonstrar o que realmente querem, maldições a serem quebradas, um oficial da coroa britânica perseguindo os piratas e uma tripulação de pessoas que não estão mortas nem vivas. Se o filme fosse uma releitura ou remake, até poderíamos perdoar tal aspecto (e criticaríamos a necessidade de tal remake, claro), o problema é que se trata de uma continuação com os mesmos personagens e o que vemos aqui é uma versão do primeiro filme sem o brilho original.

Já falando na ausência de brilho, aquele que certamente se perdeu no meio do caminho foi o próprio Johnny Depp, que definitivamente não conseguiu resgatar o espírito de Sparrow. Depp nos entrega uma atuação extremamente exagerada – sim, Jack sempre foi o excesso em pessoa, mas havia uma harmonia entre sua personalidade estranha, trejeitos, com o seu lado mais “pensante”. Isso se perde aqui, ao passo que o ator faz uma voz de bêbado exagerada em todos os momentos e Jack passa do malandro para o alcoólatra que desperdiçou sua vida sentado no bar. O mesmo se estende para Geoffrey Rush, que demonstra já um cansaço de viver o mesmo personagem, que outrora representava um dos pontos altos da franquia. Somente Javier Bardem parece se entregar um pouco mais, trazendo a dose certa de overacting tão comum aos vilões da série.

Outro aspecto que prejudica nossa imersão, é a quantidade de sequências e focos desnecessários. Para começar, toda a relação entre Henry e Carina não consegue nos convencer nem um pouco e fica claro que eles estão ali apenas para repetir a dinâmica de Will e Elizabeth, algo que jamais ocorre, claro. Fora isso, temos um foco completamente dispensável e que não afeta a narrativa em absolutamente nada em um oficial da coroa, interpretado por David Wenham, que certamente é desperdiçado nesse filme. Chega a ser ridículo como toda a questão que envolve esse personagem é resolvida em instantes, sem mais nem menos.

Ao menos o desenho de produção continua como um dos pontos altos da série, junto dos excelentes efeitos especiais, especialmente o usados para construir Salazar e sua tripulação, os quais perfeitamente simbolizam a morte em si. Além disso, tivemos mais um exemplo do rejuvenescimento facial realizado pela Disney, que acerta em cheio no jovem Jack Sparrow, o qual, ironicamente, é melhor do que o velho nesse filme.

A Vingança de Salazar pode ter seu alto valor de produção, o que não justifica o nada original roteiro de Jeff Nathanson, que apenas repete a mesma fórmula do primeiro filme, sem acrescentar praticamente nada para a franquia. Com um Jack Sparrow mais exagerado que o normal, uma trama repleta de elementos desnecessários e personagens que não nos convencem, essa obra mostra, de uma vez por todas, que Jack já deveria ter pendurado seu chapéu, enterrando a franquia Piratas do Caribe, que já deu o que tinha que dar.

Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales) — EUA, 2017
Direção: Joachim Rønning, Espen Sandberg
Roteiro: Jeff Nathanson
Elenco: Johnny Depp, Javier Bardem, Geoffrey Rush,  Brenton Thwaites, Kaya Scodelario, Kevin McNally,  Golshifteh Farahani, David Wenham,  Stephen Graham, Orlando Bloom, Keira Knightley, Paul McCartney
Duração: 129 min.

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