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Crítica | Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Marcando o final dessa trilogia de Piratas do CaribeNo Fim do Mundo é, usualmente, lembrado como o mais fraco dos três filmes iniciais da franquia, algo que chega a ser até injusto, considerando a maneira como O Baú da Morte fora finalizado. Dito isso, é inegável que esse capítulo final conta com inúmeros defeitos, um deles sendo a duração prolongada, característica herdada de seus antecessores. Existem, sim, oportunidades perdidas e questões mal-aproveitadas, mas isso não quer dizer que esse não seja um digno encerramento para essa primeira parte das aventuras de Jack Sparrow e sua trupe.

Algum tempo após Jack (Johnny Depp) ter sido engolido pelo Kraken no filme anterior, encontramos Elizabeth Swan (Keira Knightley), Barbossa (Geoffrey Rush) e Will Turner (Orlando Bloom) em Singapura, buscando os mapas que os permitam navegar até o fim do mundo, além de um navio que possa os levar até lá. Ao conseguirem ambos, eles precisam resgatar Jack do limbo no qual se encontra, para, em seguida, combaterem a Companhia Britânica das Índias Orientais, que agora controla Davy Jones (Bill Nighy) e seu navio, o temível Holandês Voador. Essa é a batalha final pelo domínio dos mares e a única esperança é que todos os lordes piratas se encontrem.

No Fim do Mundo é uma obra que precisa, invariavelmente, ser assistida logo após de O Baú da Morte. Muitos dos eventos que ocorrem aqui dão continuidade àqueles que assistimos no antecessor e o roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio não se preocupa nem um pouco em nos lembrar do que acontecera, exceto, é claro, da morte de Sparrow. Toda a dinâmica envolvendo Cutler Beckett (Tom Hollander) ou até mesmo Davy Jones soará extremamente confusa para aqueles que não se recordam do longa-metragem anterior e, em razão disso, é seguro dizer que essa terceira entrada da franquia não se sustenta nem um pouco por si só – problema bastante comum da parte final de trilogias.

Curiosamente, porém, dos três, a obra em questão é que se permite menos devaneios no meio da história. Se desconsiderarmos toda a irrelevância da longa sequência em Singapura, que facilmente poderia ser cortada ou substituída por um prelúdio mais curto, quase nada do restante do filme se configura como pura enrolação, ao contrário da famigerada sequência da ilha de O Baú da Morte ou os eternos vai-e-vem no ato final de A Maldição do Pérola Negra. Em razão disso, esse terceiro certamente é o que passa mais rápido em termos de percepção de tempo, embora, na realidade, seja o mais longo dos três – ele é dividido apenas em dois atos, esses, sim, muito distintos, mas é um ponto positivo quando paramos para pensar na estrutura narrativa das prévias entradas da série.

Já falando nos pontos positivos, embora Davy Jones esteja consideravelmente mais apagado nessa obra do que na anterior, temos Geoffrey Rush de volta como Barbossa e o ator nunca estivera tão bem no papel, dando o máximo de si através da irônica eloquência do personagem, aliada de gritos acompanhados de muitos cuspes. Rush realmente parece se divertir no papel, demonstrando estar ainda mais solto do que no primeiro filme. Keira Knightley é outro ponto alto, com sua personagem ganhando mais voz aqui, chegando a participar mais ativamente dos eventos centrais, não apenas acompanhando Jack ou Will em suas loucuras, mas realizando suas próprias. Dito isso, o trecho do casamento certamente se caracteriza como um dos melhores da obra.

Claro que esse trecho é um dos muitos que tornam da batalha final algo complexo e divertido, com inúmeras ações sendo realizadas pelos mais diversos personagens. Gore Verbinski realmente brilha na direção, acertando em cheio o escopo desse duelo entre o Pérola Negra e o Holandês Voador, com a montagem de Stephen Rivkin tornando tudo extremamente dinâmico, ao passo que pulamos de pirata em pirata, todos lutando por algo específico, seja Barbossa tentando manter o Pérola em uma posição vantajosa, ou Jack duelando contra Davy no topo do mastro. Trata-se de uma sequência impressionante, que não soa tão arrastada quanto o clímax dos dois anteriores, visto a quantidade de coisas em jogo.

Infelizmente, o texto não acompanha toda essa maestria, visto que simplesmente ignora todos os  lordes piratas, que apenas assistem todo o combate, assim como a frota da Companhia Britânica das Índias Orientais, algo que não faz o menor sentido. O pior é que isso acaba tornando quase toda a interação na fortaleza dos piratas desnecessária, visto que a aliança firmada ali não traz qualquer resultado, além de dar “poderes” à Elizabeth. Além disso, toda essa parte da mitologia soa como algo inventado de último minuto, já que nada fora sequer mencionado nos longas anteriores. O mesmo vale para Calypso, ainda que algumas dicas sobre ela tenham sido dadas em O Baú da Morte.

Em razão disso, No Fim do Mundo acaba desperdiçando muitas das cartas à sua disposição, não fazendo jus às duas frotas que se encontram frente a frente nessa batalha final. Surpreendentemente, porém, o que ganhamos continua sendo um poderoso clímax para essa trilogia de Piratas do Caribe. O longa pode trazer nítidos defeitos, mas não deixa de ser uma divertida aventura, somente precisamos desconsiderar suas partes descartáveis e o entretenimento estará mais do que garantido.

Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (Pirates of the Caribbean: At World’s End) — EUA, 2007
Direção:
 Gore Verbinski
Roteiro: Ted Elliott, Terry Rossio
Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Geoffrey Rush, Jack Davenport, Bill Nighy, Jonathan Pryce, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, Kevin McNally, David Bailie, Stellan Skarsgård, Tom Hollander, Naomie Harris
Duração: 169 min.

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