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Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

por Melissa Andrade
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Fazer remake de um filme clássico é algo bem difícil. Existem inúmeros parâmetros que precisam ser atendidos e até superados. Rupert Wyatt, diretor de Planeta dos Macacos: A Origem sabia disso e alcançou uma verdadeira proeza que deixou a todos querendo mais.

Agora em Planeta dos Macacos: O Confronto, com outro diretor, Matt Reeves tem em suas mãos uma missão duplamente complicada: superar seu antecessor e de quebra, apresentar uma excelente sequência.

Pegando do ponto onde parou o primeiro filme, a humanidade foi assolada pela gripe símia e o caos se instaurou. A população mundial foi quase que dizimada e restaram pouquíssimos sobreviventes. Não há mais governo e o mundo virou uma selva gigante.

No meio da floresta, Caesar (Andy Serkis) juntamente com outros símios que liberou do cárcere construíram algo que podem chamar de lar. Cresceram como família, povo e vivem democraticamente em uma sociedade liderada com justiça e tolerância por Caesar. A comunicação é feita através da linguagem dos sinais que é passada a todos os macacos desde novos. Dessa maneira, eles têm vivido bem e em segredo por muitos anos, sem sequer avistarem outros humanos. Blue Eyes (Nick Thurston) filho de Caesar sai com seu amigo Ash (Doc Shaw) para pescar pela manhã e quando retornam encontram uma desagradável surpresa: um humano. Ambos estão bem assustados, Blue Eyes chama por socorro e no menor movimento, o humano atira em Ash. A essa altura, Koba (Toby Kebbell) já se aproximou com reforços e está pronto para atacar o humano que também não está sozinho. O grupo acredita que os macacos não entendem o que eles estão dizendo, mas Caesar aparece para provar o contrário e colocá-los para correr.

De volta para a estrada, Malcolm (Jason Clarke) informa Dreyfus (Gary Oldman) que a floresta não está inabitada e fala dos macacos. Dreyfus acredita que será fácil passar por eles, que são apenas animais, não entendem de nada, mas Malcolm o alerta para não subestimá-los. No lar dos macacos, reina a confusão. Koba acredita que eles devem atacar enquanto é tempo e discursa como os humanos são terríveis, mostrando as cicatrizes que tem no corpo por conta dos experimentos pelos quais passou. Caesar acredita que tudo pode ser resolvido se for nos termos deles e que não há necessidade de guerra, pois eles poderiam perder amigos e o lar que conseguiram construir. Em conjunto decidem que é a hora de mostrar aos humanos que eles não são simples macacos e que a floresta, é território proibido. O que eles não sabem é que há uma hidrelétrica bem próxima de onde estão e é essa a razão pela qual os humanos apareceram.

Armados e montados a cavalo, partem para a cidade para dar seu recado. Porém, a iniciativa ainda que louvável, vai culminar em grandes problemas e num inevitável confronto.

Este filme é inteiramente permeado por um único sentimento: tensão. O espectador fica quase que constantemente sentado a beira da cadeira sem desgrudar por um segundo os olhos da tela. Guloseimas, pipoca e refrigerante ficam obsoletos. Idas ao banheiro também estão fora de cogitação. Matt Reeves conseguiu não apenas apresentar uma sequência sensacional, como fez melhor e ultrapassou o antecessor, algo que acontece com certa raridade.

Mark Bomback, Rick Jaffa e Amanda Silver, escreveram um excelente roteiro que ilustra as semelhanças comportamentais entre os símios e os humanos de forma magistral. Principalmente quando há tanto ódio e preconceito envolvido, algo que na película é comum a ambas as espécies. Do lado dos humanos, Carver (o responsável pelo tiro, interpretado por Kirk Acevedo) sente raiva e culpa os macacos por terem espalhado a doença que matou inúmeras pessoas. Sentimento esse que é comum a maioria dos humanos. Do outro lado, Koba, tomado por um desejo enorme de vingança, acredita que os símios podem e devem levar a melhor sobre os humanos enquanto ainda tiverem a vantagem. E bem no meio deles estão Malcolm e Caesar, que acreditam que há como conviver de forma pacífica.

Diversas questões são abordadas, mas a que mais sobressai é a dificuldade em aceitar e entender o próximo com todas as suas diferenças, principalmente quando há problemas mais profundos. Bem mais fácil simplesmente apontar os defeitos, erros, do que se colocar no lugar e procurar compreender. Algumas vezes a razão precisa falar mais alto que a emoção, ou atos impulsivos acabam acontecendo e provocando atritos desnecessários.

Não só o enredo está de parabéns, como também toda a parte gráfica, os cenários, locações, efeitos especiais, fotografia, trilha sonora e principalmente os atores que deram vida aos símios. Se antes já era possível acreditar nas emoções transmitidas, dessa vez cria-se um vínculo entre os macacos e o espectador, tornando tudo mais palpável, mais real. Andy Serkis, prova mais uma vez que é o especialista para esse tipo de técnica de captura de movimento, mas foi Karin Konoval que interpreta o símio Maurice quem de fato me cativou. Enquanto a atuação de Serkis era forte e imponente, a de Konoval era tenra e de uma sutileza ímpar.

Em relação aos demais atores, todos desempenharam seus papéis de forma correta, mas o destaque pertence a Jason Clarke que em alguns momentos me lembra o ator Charlton Heston. E apesar de não ser tão apreciadora da tecnologia 3D, dessa vez o recurso foi bem utilizado, principalmente na parte da floresta.

Planeta dos Macacos: O Confronto chega aos cinemas para mostrar que tem como fazer sequências e remakes de qualidade e até superiores ao que prefere acreditar o cinéfilo.

Publicado originalmente em 23/07/2014.

Planeta dos Macacos: O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes) — EUA, 2014
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Mark Bomback, Rick Jaffa, Amanda Silver
Elenco: Andy Serkis, Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russell, Toby Kebbell, Kodi Smith-McPhee, Kirk Acevedo, Nick Thurston, Terry Notary, Karin Konoval, Judy Greer, Jon Eyez, Enrique Murciano, Doc Shaw, Lee Ross
Duração: 130 min.

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