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Crítica | Planeta Pré-Histórico: Era do Gelo

Manny, Sid, Diego, Scrat não.

por Ritter Fan
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Quem leu minhas críticas das duas primeiras temporadas de Planeta Pré-Histórico, produção em computação gráfica do Apple TV com a BBC nos moldes de Walking with Dinosaurs, sabe bem como eu simplesmente adoro esse tipo de obra e que eu basicamente acho que esse é o melhor tipo de uso para o CGI, para criar mundos passados da Terra e, no processo, educar as pessoas. Claro que ajuda muito o fato de eu adorar criaturas pré-históricas, sejam elas parte da chamada megafauna ou animais pequenos, até mesmo unicelulares, além de, claro, toda a vegetação. Portanto, foi com muita antecipação que eu aguardava a terceira temporada da magnífica série, mas, depois de conferir seus cinco episódios, confesso que não consegui deixar de sentir um certo grau de decepção.

A primeira razão para eu ter ficado desanimado veio antes mesmo de a série ir ao ar, quando ela surgiu no “em breve” da grade do Apple TV com o subtítulo Era do Gelo. As duas primeiras temporadas abordaram o Cretáceo e minha esperança era que um terceiro ano fosse mais para trás ainda e não para a frente. Queria ver os animais poucas vezes levados ao audiovisual, como o dimetrodon, do Permiano, ou, mais interessante ainda, a chamada Explosão do Cambriano. Sim, tenho total consciência de que não seria “sexy” para uma produção que custa muitos milhões de dólares focar em animais com que as pessoas não estão “acostumadas”, já que o padrão hollywoodiano é fazer o famoso “mais do mesmo”, mas clicar no fast forward e levar a série 65 milhões de anos para a frente, para o Pleistoceno, de forma a lidar basicamente com o grupo de animais que protagoniza a franquia cinematográfica Era do Gelo, me pareceu um pouco de preguiça e aversão demais ao risco.

Mas não se enganem, eu adoro mamutes-lanosos, tigres-de-dente-de-sabre e preguiças gigantes (Scrat é um animal fictício, antes que me perguntem…), só que esses animais são mais lugar-comum, ali no segundo ou terceiro lugar do grupo de animais gigantes extintos mais conhecidos pela população em geral (acho que Cretáceo e Jurássico vêm na frente). E a troca de David Attenborough por Tom Hiddleston na narração deixou-me ainda mais encucado, já que Attenborough, apesar de seus 99 anos, continua na ativa e poderia muito bem ter embarcado em mais esse projeto. A escolha de Hiddleston – novamente, eu gosto dele, mas ele não é do nível de Attenborough – pareceu-me um sinal extra de que a produção estava jogando de maneira a agradar um público mais amplo, o que nem sempre é uma boa notícia, já que a tendência é a qualidade diminuir. Dito e feito, quando os episódios foram passando, deparei-me com textos simplificados, básicos demais a ponto de serem incompletos, amplificando demasiadamente a única característica que considerava negativa das tempordas anteriores: a falta de exploração do lado efetivamente científico das descobertas paleontológicas e geológicas.

O que antes estava no nível, talvez, do Ensino Médio, agora foi para o Fundamental, com o uso de nomes genéricos (ursos da caverna, leão da caverna, hiena da caverna, preguiça gigante, lontra gigante e tatu gigante, só para citar alguns) no lugar de nomes científicos e uma capacidade impressionante de resumir mal e porcamente a própria era do gelo (que não é uma coisa única e isso só é mencionado no adendo do primeiro episódio e, depois, nunca mais), além dos efeitos do congelamento da água no hemisfério norte e, principalmente, o chamado Grande Intercâmbio Americano em que espécies transitaram do norte para o sul e vice-versa quando a “ponte de terra” que é a América Central foi criada a partir de atividades vulcânicas. Muito mais do que o Cretáceo, o Pleistoceno precisa de um contexto ambiental mais amplo para que o espectador tenha chance de compreender a existência de animais semelhantes em continentes diferentes, mas o texto simplificado que entregaram para Hiddleston narrar é como um livro para crianças bem pequenas e não algo que desafie o espectador e que faça efetivo esforço para explicar as coisas como elas precisariam ser explicadas, inclusive aproveitando para fazer paralelos com o mundo atual. No mínimo dos mínimos – e mais aqui do que nos anos anteriores – era importante que o documentário principal fosse acompanhado de documentários realmente científicos da mesma duração do episódio e não quatro ou cinco minutos, para dar estofo ao que o CGI recria na telinha.

Até mesmo as histórias contadas são sanitizadas ao máximo. Apesar de retratar o mundo selvagem, quase não há selvageria no documentário e filhotes de animais nunca são mortos, a exceção ficando com o filhote de “canguru gigante” (Procoptodon) sendo morto por um leão marsupial (Thylacoleo), mas isso somente porque foi mostrado que o filhote de Thylacoleo estava com fome há semanas. Pegaram animais gigantes, com presas enormes e os transformaram em bichinhos de pelúcia para não ferir suscetibilidades de crianças pequenas que, tenho certeza absoluta, jogam videogames em que humanos são trucidados das maneiras mais absurdas possíveis. Tudo é muito bobinho, sem impacto, realmente feito para tentar agradar gregos e troianos, mas falhando muito na missão principal, que é a de ensinar como era a vida no Pleistoceno. Não adianta passar a mão na cabeça das pessoas, pois isso não ensina nada a ninguém. Sim, o CGI é bacana como sempre – ainda que tenha provavelmente custado mais barato, pois o uso de templates de animais vivos hoje em dia tornou-se possível – e sim, eu, mesmo com todos os problemas, fiquei feliz em ver esses fantásticos animais ganharem vida. No entanto, Planeta Pré-Histórico não poderia ter deixado o nível cair como caiu. Que tristeza…

Planeta Pré-Histórico: Era do Gelo (Prehistoric Planet: Ice Age – EUA/Reino Unido, 26 de novembro de 2025)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Leah Arnold, Alec Ginns, Paul Thompson, Simon Bell, Andrew R. Jones, James Shelton, Katrina Steele
Roteiro: Matthew Thompson, Michael Gunton
Narração: Tom Hiddleston
Duração: 196 min. (cinco episódios)

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