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Crítica | Pokémon Alpha Sapphire & Omega Ruby

por Gabriel Carvalho
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Como acontece regularmente na franquia Pokémon, os jogos antepassados da saga costumam ganhar remakes, que os refazem para uma nova geração de videogames. No primeiro dos casos dessa tradição já consolidada, os clássicos Red & Blue – as versões ocidentais dos originais Red & Green – tornaram-se FireRed & LeafGreen, no Game Boy Advance. Depois de alguns anos, Gold & Silver ganharam vida nova com HeartGold & SoulSilver – por sinal, um dos melhores exemplares da franquia até o momento -, no Nintendo DS. Logo, a terceira geração de monstrinhos, Ruby & Sapphire, renasceu em 2014 na forma de Alpha Sapphire & Omega Ruby, jogos disponíveis para a plataforma Nintendo 3DS. Dentre os 12 anos que separam o mundo de Hoenn, continente onde se passa os games, de sua aparência primitiva a essa sua mega-evolução, porém, bastante coisa mudou no cerne da saga, justificando um resgate e redefinição daquela experiência passada. Em primeiro lugar, a conversa que estes jogos estabelecem com a franquia tem relação imediata com os seus predecessores, Pokémon X & Y, lançados apenas um ano antes. A GameFreak, empresa responsável por Pokémon, portanto, converte os gráficos bidimensionais de Ruby & Sapphire para os tridimensionais criados em X & Y, mas vai além na aproximação entre eles. Os desenvolvedores não se esquecem, ao mesmo tempo, de transformações aos clássicos em termos de jogabilidade e até enredo, as quais, assim sendo, combinam essas quatro versões em uma só geração – a sexta.

No que tange à história, uma considerável parte das mudanças e também novidades serve ao propósito de unir as Mega-Evoluções, conceito apresentado em X & Y, à narrativa já conhecida destes games. Dependendo da sua escolha de gênero, Brendan ou May assumirá um papel semi-antagonista ao seu, enquanto ginásios são derrotados, insígnias são conquistadas e o caminho até a Elite 4, grupo de campeões de Hoenn, é aproximado. Contudo, as Mega-Evoluções mantém-se presentes do começo ao término desta aventura, ao passo que algumas são ganhas em momentos “X” do enredo – Latios/Latias são entregues a nós junto de uma Pedra correspondente – e outras encontradas em lugares secretos. A sua relevância continua inclusive no epílogo do jogo, chamado Episódio Delta, que conta com a apresentação do Mega Rayquaza. Por ser uma mecânica que impulsiona a gameplay, a busca pelas Pedra Mega-Evolutivas movimenta a construção do nosso time de monstrinhos, enquanto certos Pokémon são preferidos em detrimento de outros por conta da posse da Pedra – por isso, precisei evoluir meu Electrike, pouco usado, após adquirir uma Manectite, que permitiria Mega-Evoluir a sua evolução, Manectric. Em paralelo, as jornadas dos nossos rivais, tanto Brendan/May quanto Wally, conciliam-se a esse aspecto, pois poder mega-evoluir é parte delas. No caso de Wally, a conquista da Mega-Evolução é uma grande surpresa, por trazer o Mega Gallade a nós – em oposição a um Gardevoir que ele possuía nas versões originais.

Por parte dos criadores do game, ao menos no que tange os monstros naturais de Hoenn, existe precisão na escolha por quais criaturas ganham Mega-Evoluções, em meio aos 211 exemplares de Pokémon que compõem a Pokedéx da região. Já certas criaturas, como Beedril e Audino, também conquistaram esse respeito da GameFreak, mesmo capturáveis quando a campanha já está para se encerrar. Elas são provenientes de outros jogos e, portanto, partes da Pokedéx nacional, o que significa que muito provavelmente não serão usadas para a campanha, mas, quiçá, para o Battle Resort – um lugar do pós-game destinado a treinadores mais competitivos, na verdade um dos únicos espaços de OR/AS enviesados a esse público. No caso destes dois, a Mega-Evolução é uma surpresa inesperada, por, primeiramente, ignorar a existência de um par para o Beedrill – que é costumeiramente associado com o icônico Butterfree – e crer no potencial do Audino, que é um Pokémon pouco popular entre os amantes da saga. Esquecer de um Mega Butterfree é a mesma coisa que esquecer de um Mega Sableye na existência de um Mega Mawile, o que, por sorte, não acontece, pois esses Pokémon se complementam como exclusivos de versão. Em outras ocasiões, as opções são mais certeiras, pois existe, por exemplo, um interesse narrativo inerente nas Megas de Camerupt e Sharpedo, mascotes das equipes antagonistas. Uma pena Flygon, porém, não ter ganho uma nova forma, em vista de um bloqueio criativo noticiado pelos próprios desenvolvedores.

Isso acompanha a criação de novas formas para os monstros estampados nas capas dos games – Groudon, no caso de OR, e Kyogre, no caso de AS -, que gera outra mudança narrativa, mesmo mínima. Esses Pokémon, no caso, são reapresentados por meio das Reversões Primais, uma novidade que não tem muita cara de novidade, por não serem Mega-Evoluções, mas possuírem o DNA delas. No mais, as motivações dos antagonistas permanecem iguais: a Equipe Magma ou a Equipe Aqua, dependendo da sua escolha de versão, planeja redefinir a geografia de Hoenn por meio de um controle desses Lendários. Em comparação com as demais campanhas da franquia, principalmente as da quinta geração, retornar a simplicidade de Ruby & Sapphire soa como um retrocesso e realmente é. Ora, qual é o sentido em inundar o continente quando a pessoa mora justamente nele? Em contrapartida a isso, existe uma mecânica acrescentada que consegue sustentar a premissa do game, que é a possibilidade de voar pelos céus usando o seu Latios/Latias ganho. Para um jogo que tem a geografia do seu mundo como centro das atenções – e a riqueza de Hoenn é notória – e coincide com a chegada das Mega-Evoluções, certamente é um passeio bem-vindo a possibilidade de ver Hoenn de cima enquanto montado em um Lendário justamente Mega-Evoluído. Em termos de história propriamente dita, resta ao Episódio Delta, que não existia antes, ser um dos melhores conteúdos pós-game da saga, também referente às Megas.

Não seriam jogos-irmãos aos lançados em 2013, contudo, se OR/AS não marcassem igualmente pelo quão fáceis são no geral. Enquanto sucessores ao legado de X & Y, quiçá os games menos árduos para completar da franquia, esses, por consequência, os honra de cabeça ao pé. Nem mesmo a revanche contra a Elite 4, depois de já ter como concluída a campanha do jogo, é um desafio grande o bastante. Uma das razões, em muitas, para isso é a descomplicada aquisição de alguns Pokémon extremamente poderosos – como o Mítico Deoxys, pela primeira vez capturável dentro do próprio game. Na perspectiva das capturas, por outro lado, existe inclusive um avanço nesse âmbito, porque criaturas mais raras tornam-se mais simples de serem pegas. Por conta de uma nova mecânica presente no touchscreen, alguns Pokémon selvagens que mexem-se nos matinhos serão especificados de antemão ao jogador. O consumo de tempo para a caça de espécies mais raras é minimizado, em vista do combate não ser necessário para se saber qual é a criatura em questão. Caso se deseje ir em frente, o avatar precisará andar na ponta dos pés, para não assustar o monstrinho. Fora isso, retorna também o Exp. Share repaginado que surgiu nesses jogos antecessores, como meio para avançar rapidamente os níveis dos membros de toda sua equipe, assim como o sistema universal de conquista de experiência – independentemente do seu Pokémon e do seu respectivo nível, a quantidade de pontos de exp. ganhos será sempre a mesma.

A máxima da portabilidade de Ruby & Sapphire para o contexto de X & Y, contudo, reside no lema da franquia ,”Temos que Pegar”, que nunca foi tão encapsulado por uma geração quanto essa sexta. Um dos aspectos dos jogos de Pokémon, reiterados desde suas origens, é a impossibilidade de se capturar todos os monstrinhos de bolso com uma só versão do game, necessitando a troca entre duas ou até mais. Por exemplo, Ruby possuía certas espécies disponíveis que Sapphire não – e outras ausências eram supridas por FireRed/LeafGreen e pelos exemplares de GameCube, Colosseum e XD. Com a chegada de mais jogos e, logo, mais criaturas existentes, pegar todos – os “poucos” 386 daquela época – era maçante, o que não se repete aqui. Para comprovar como OR/AS se unem perfeitamente com X & Y, todos os 721 Pokémon criados até então podem ser capturados entre essas quatro versões – excetuando-se a maioria dos monstros Míticos, como Jirachi. É notória, por exemplo, a quantidade absurda de lendários presentes nestes dois remakes, para que se pudesse complementar os poucos existentes nos games anteriores. Com isso, a GameFreak tornou OR/AS sucessores espirituais não apenas dos jogos originais, mas também de X & Y, em meio a uma guinada da franquia rumo a um cenário menos direcionado ao combate – o que, inexoravelmente, retira o peso de certas conquistas e, ao mesmo tempo, da narrativa -, mas imensamente instigante no campo das capturas e das aventuras, à procura dos monstros de bolso.

Pokémon Alpha Sapphire & Omega Ruby
Desenvolvedor:
 GameFreak
Lançamento: 21 de novembro de 2014
Gênero: RPG
Disponível para: Nintendo 3DS

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