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Crítica | Pottersville: Quanto Mais Selvagem Melhor

por Gabriel Carvalho
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Pottersville: Quanto Mais Selvagem Melhor é primordialmente um filme natalino. Nele, temos tudo que poderíamos esperar de obras similares. Cenografia típica da celebração, personagens com questões dramáticas suavizadas e a derradeira mensagem positiva no final de tudo. A presumida graça que diferenciaria Pottersville das demais centenas de obras com a mesma temática encontraria-se na premissa, a qual brinca com a figura lendária do Pé-Grande. Apesar disso, o que mais pode ser tirado de relevante desse trabalho dirigido por Seth Henrikson é a personificação criada da própria cidadezinha. Seus habitantes têm personalidade, a cidade parece estar viva, e não é por menos que esta dá nome ao filme – uma inspiração vinda também do clássico A Felicidade Não Se Compra, obra com várias similiaridades. As aparições do Pé-Grande fazem com que a pequena Pottersville cresça economicamente, recebendo mais visitantes e atenção sob os olhares do resto do país. Esse crescimento é sentido durante o filme, o qual faz breves comentários em como cidadezinhas pequenas conseguem se sustentar com características peculiares. A maior árvore do mundo, a maior abóbora do mundo ou até mesmo o maior moinho de vento. Pense em qualquer coisa, certamente tem alguma cidade que seja reconhecida por isso e que explore inteiramente esta característica para poder crescer, seja com a venda de camisetas seja com a venda de bonés.

Na história deste filme, a diferença é que ninguém esperaria que o Pé-Grande na verdade fosse Maynard Grieger (Michael Shannon), gerente de uma loja em Pottersville que está passando por sérios problemas, com pouquíssima clientela para sustentar seu empreendimento. Quando veste uma fantasia de gorila e sai de madrugada pelas ruas da redondeza, extremamente bêbado, Maynard revela sem querer uma lenda inexistente, mas que todo mundo passa a crer por pura conveniência – o crescimento econômico da região. Inesperadamente, esse é um filme que começa muito bem, surpreendendo com algumas tomadas de decisão que não estavam na sinopse. A revelação da esposa de Maynard como uma furry é algo extremamente surreal, e até mesmo o comportamento “sexual” dela com o Xerife Jack (Ron Perlman) não encontra paralelos com o que se poderia esperar. Essa situação é deveras absurda, assim como a reação de Maynard a ela, encarando o evento como uma traição factual. Dessa forma, o filme consegue atingir o seu ápice de comédia em menos de 10 minutos. Mas depois é ladeira abaixo, principalmente na besteira que se torna o personagem Brock Masterson (Thomas Lennon), nem muito depois que o mesmo é apresentado, descendo de um helicóptero.

A continuar, eu gosto da ideia de se fazer uma sátira aos programas que se aventuram a investigar e caçar feras que os realizadores de tais sabem que não existem, criando, portanto, tais shows apenas pelo retorno financeiro, mas Brock é um caricatura problemática. O demérito não encontra-se no fato deste ser uma caricatura, mas em ser uma caricatura forçada, sem graça, que não encontra nada para fazer no filme a não ser comportar-se como uma figura antagônica ao do nosso protagonista. O que Pottersville poderia fazer seria investir em uma narrativa menos previsível. Este longa-metragem encontra todos os clichês do universo de filmes natalinas e os abraça como um velho amigo, sem medo de ser feliz. Se a menos fosse verdadeiramente feliz… Isso, porém, não é algo que tire um pouco do espírito do filme, o qual consegue nos tornar sensitivo a sua alma. Todavia, muito desse mérito de dá ao bom trabalho de Michael Shannon, ator que promove em seu personagem uma personalidade realmente simpática, a qual nos importamos devido suas atitudes bonitas e altruístas em ajudar os outros. A revelação ao final da obra, relacionada a um certo livro de contas, promovida por Parker (Judy Greer em um papel sem muita complexidade, que torna-se no final um par romântico desnecessário), consegue nos fazer sentir o quão significativa aquelas atitudes de Maygard ao longo da história eram. Embora óbvia e sentimentalista, é uma conclusão que funciona se estivermos de acordo com a atuação de Shannon no filme.

Em um diferente plano, é quando retomamos os primeiros minutos absurdos do filme para análise que percebemos o quanto a história do Pé-Grande não saiu de sua zona de conforto. Pottersville tinha tudo para seguir por caminhos mais ousados, sem se prender à temática natalina e às convenções do subgênero, mas optou por continuar manso, sem abordar a selvageria que estampa seu subtítulo brasileiro. A exemplificar, a mística fomentada sobre Bart (Ian McShane) é tão despropositada que nem sei do que reclamar quando visualizo tal coadjuvante como mero artifício da narrativa e detentor de uma brevíssima relação exalante de algum significado com o protagonista. Sem muito para ter onde correr, este conto sobre o Natal e sobre o Pé-Grande é um filme impossível de não se gostar quando se pensa no que ele poderia ter sido. Investir nas bizarrices seria um primeiro passo mais que obrigatório, vide seu funcionamento inicial. Afinal, não existe nada mais bizarro que o Pé-Grande e o fato de algumas pessoas realmente acreditarem que ele existe. Ou ele de fato existe?

Pottersville: Quanto Mais Selvagem Melhor (Pottersville) – EUA, 2017
Direção: Seth Henrikson
Roteiro: Daniel Meyer
Elenco: Michael Shannon, Judy Greer, Ron Perlman, Thomas Lennon, Christina Hendricks, Ian McShane, Michael Torpey, Blake Perlman, Elena Hurst, Timothy Davis-Reed, Mary Ashley, Julian Lerner
Duração: 84 min.

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